| Ayla... Ayla...

Hüseyin: Subo até o meu quarto, as duas empregadas folgadas da casa sobem atrás de mim. Entro no quarto e o Can está com a Ayla nos braços, chamando por ela.

Can: Ayla... Ayla...

Hüseyin: O que está acontecendo Can?

Can: Não sei Hüseyin, ouvi os gritos da Tércia e vim ver a Ayla, ela está muito quente e não responde.

Hüseyin: Ayla chama pelo "pai", a pego dos braços do Can e aviso a Tércia para pedir o motorista para ligar o carro. Não faço ideia do que ela tem, mas descido levá-la ao hospital.

Can: Sigo o Hüseyin aflito, a Ayla está mole nos braços dele. Entro no carro em silêncio e aviso a Tércia que darei notícias. Praticamente todos os funcionários nos acompanham até a porta, a Ayla é muito querida e posso ver as expressões de preocupação. Hüseyin não fala uma palavra, se quer demonstra emoção, parece agir no automático.

Ayla: Pai...

Hüseyin: Ayla delira no caminho chamando pelo pai. Se quer sei qualquer coisa a respeito da família dela, realmente ela está muito quente. Entro com ela nos braços no hospital e a coloco numa maca. Fico esperando por notícias com o Can, ele parece aflito.

Can: Não percebeu que ela não estava bem quando acordou?

Hüseyin: Quer se importar com ela, não ligo, mas eu não me importo!

Can: Hüseyin não faça isso, essas palavras vão te causar um arrependimento profundo!

Médico: Acompanhante de Ayla.

Can: Aqui...

Encaro o Hüseyin balançando a cabeça em sinal de negação.

Médico: A Ayla está sendo medicada, a febre ainda não cedeu, a paciente tem histórico de alguma doença?

Can: Não, é saudável.

Médico: Teremos de fazer alguns exames, ela chegou com pouco mais de quarenta graus de febre. Estamos tentando controlar para evitar uma convulsão. Os senhores são parentes da Ayla?

Can: Sou apenas um amigo, o Hüseyin é o marido dela.

Médico: Ela tem direito a um acompanhante, vamos mantê-la em observação até sair o resultado dos exames. Sabem algo sobre a paciente para ajudar na investigação?

Can: Hüseyin não abre a boca.

Ela perdeu a única família e soube da notícia a pouco mais de vinte e quatro horas.

Médico: Vou anotar a informação no prontuário. Pode me acompanhar Hüseyin.

Can: Me dê notícias da Ayla, Hüseyin.

Hüseyin: Apenas encaro o Can e não falo nada. Sigo o médico, porque sei que essa notícia da Ayla hospitalizada pode vazar. Entro no quarto e observo a Ayla conectada a alguns aparelhos para monitorar os batimentos cardíacos, pressão e temperatura. Noto pelo monitor que ela ainda está com febre. Ayla está no soro e com uma medicação intravenosa. Me sento na poltrona e aproveito para reponde alguns e-mails. Toda hora alguma enfermeira entra e nada da Ayla acordar.

Ayla: Abro os olhos com dificuldade o meu corpo inteiro dói. A sensação é que levei uma surra, olho para o lado e noto o Hüseyin sentando mexendo no celular, luto para ficar acordada, mas os meus olhos pesam e durmo outra vez.

Hüseyin: O médico bate na porta do quarto e entra.

Médico: Os exames da Ayla estão sem alterações, ela também não está grávida e aprensenta apenas uma leve desidratação. É provável que tenha sido uma febre psicogênica, é mais comuns em mulheres jovens e também é conhecida como febre emocional. Alguns pacientes desenvolvem temperaturas extremamente altas, acima de quarenta graus, quando expostos a eventos emocionais estressantes. Vamos mantê-la no hospital por vinte e quatro horas e observar qualquer alteração.

Hüseyin: Pesquiso na internet sobre a febre psicogênica e fecho os olhos tentando descansar um pouco. As expressões da Ayla quando dei a notícia da morte do Mustafá me vem na cabeça. Será que ela amava ele? Tento não pensar nesses dois, as horas se passam e a Ayla acorda, ela encara tudo a volta dela assustada.

Hüseyin: Está no hospital. Teve uma febre psicogênica e ficará em observação por vinte e quatro horas.

Ayla: Obrigada.

É só o que consigo falar, nem mesmo entendi o que Hüseyin disse, mas me sinto mal.

Hüseyin: Obrigada. É a única palavra que a Ayla fala, ele pede água a um enfermeiro. O médico conversa com ela sobre evitar stresse, explica o que é a febre psicogênica e ela pede para ir embora. O médico explica que vai deixá-la em observação essa noite e ficamos os dois em silêncio. Can liga e passo o que o médico disse. Ayla parece aérea, ela encara o teto por horas.

Ayla: Me sento de vagar para ir ao banheiro. Tiro o soro do suporte e espero um pouco com receio de ficar tonta. Odeio ver sangue, me dá vertigens. Me levanto, dou dois passos e noto o sangue voltando no meu acesso, fico tonta e troco um passo. Penso que vou cair e sou amparada pelo Hüseyin.

Hüseyin: Está se sentindo bem?

Ayla: Passo mal vendo sangue.

Hüseyin: Pego o soro da mão da Ayla e levanto a cima da cabeça dela com a mão livre.

Porque levantou?

Ayla: Preciso ir ao banheiro, pode chamar uma enfermeira por favor.

Hüseyin me ajuda a sentar na cama em silêncio e vai chamar a enfermeira. Ele sai para comer, uma enfermeira me ajuda a ir ao banheiro e tomar banho. Suei muito e estava desconfortável. Trocam a roupa de cama, coloco uma camisola nova e me deito mais aliviada. Hüseyin volta e fica na poltrona, nenhum dos dois fala nada e pegamos no sono. Não durmo direito, toda hora um enfermeiro bate na porta e entra, fizeram uma coleta de sangue de madrugada, isso não é normal, estava com muito sono. O dia amanhece, tomo café da manhã e quase não como, está difícil. A saudade do Mustafá me sufoca, é muito doloroso, nunca tive ninguém que lutasse por mim. O meu pai desistiu e me abandonou, a minha mãe não quis lutar e o Mustafá me protegeu, me amou e cuidou de mim quando não tinha ninguém. Agora, estou sozinha no mundo outra vez e pior, casada com um homem que me odeia.

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