| Ela Nunca Vai Me Perdoar

Ayla: Acordo cedo e sou apresentada a todos os funcionários da mansão, são praticamente todos novos e o Mustafa me apresenta como a dona da casa. Fico sem graça, mas ele me chama para conversar no escritório e me explica que nem sempre estará na mansão então preciso impor respeito aos funcionários. A minha mãe teve uma orvedose, está hospitalizada, mas se negou a receber a minha visita. Mustafa disse que não tenho tempo para me lamentar, não entendo porque ele quer que aprenda tudo de uma vez.

Será que posso vê-la?

Mustafa: No momento ela não quer te ver, solicitei uma declaração de incapacidade e os meus advogados abriram um processo judicial solicitando a interdição da sua mãe para interna-lá.

Ayla: Ela nunca vai me perdoar.

Mustafa: Mas, terá uma chance de ter uma vida e tempo para recuperar a relação de vocês. Os exames da sua mãe estão ruins, a saúde dela está debilitada devido a todos esses anos usando drogas.

Ayla: Fazia de tudo para ela ter boas refeições.

Mustafa: Ayla fala com a voz embargada e a cabeça baixa, sinalizo para Tércia se aproximar e consolar ela. Tércia é a minha governanta e parece entender como dá um pouco de consolo a Ayla.

(Tércia, 38 anos. Governanta da mansão)

Tercia: Ela vai ficar bem Ayla.

Falo abraçando a Ayla, o Mustafa não muda nem a posição, ele é um homem frio e nunca o vi demonstrar sentimentos.

Ayla: Posso estudar amanhã?

Mustafa: Não! Temos um contrato Ayla e não se faz acordo com contrato fechados.

Ayla só confirma com a cabeça, ela precisa aprender a ser forte, é uma menina ingênua, que não vê a força que tem.

Ayla: Mustafa não me dá tempo para sofrer, passo dia todo envolvida em alguma atividade, as aulas de etiqueta são uma tortura e odeio a professora. As semanas se passam e minha mãe não aceita receber a minha visita. Me aproximei do Mustafa, ele parece ter levantado uma barreira, mas não me importo. Desço para almoçar e me sento ao lado do Mustafa, agora já sei usar todos os talheres e ficou mais fácil.

Tercia: Aceita escargot Ayla?

Ayla: Eca!

Mustafa: Ayla...

Ayla: Sinto muito querida Tércia, mas irei declinar. Não posso aceitar algo tão gelatinoso e pegajoso, pois serei incapaz de engolir sem vomitar!

Falo em tom de brincadeira e a Tércia sorri disfarçado.

Mustafa: Ayla!

Ayla: Não, muito obrigada Tercia.

Mustafa: Não importa quem te acompanha a mesa, precisa ter modos ou não terá o respeito das pessoas!

Ayla: Tudo bem, desculpa. Gosta mesmo de escargot?

Mustafa: Não, mas gostaria que provasse de tudo. Precisa se familiarizar com todo o tipo de comida. Não que ser uma grande chefe?

Ayla: Por isso está servindo essas esquisitices?

Mustafa: Ayla!

Ayla: Quero dizer, esses alimentos diferentes.

Mustafa: Escargot é um clássico da gastronomia francesa. Terá de comer mais de uma vez para adaptar o seu paladar.

Ayla: Encaro o caracol a minha frente buscando coragem para experimentar essa coisinha gelatinosa.

Mustafa: Controle as suas expressões Ayla, ninguém precisa saber que está com nojo do alimento a sua frente.

Ayla: Experimento o escargot, fiquei com nojo, é estranho a textura e passei o dia nauseada. Mustafa montou uma biblioteca na mansão para mim, é o meu lugar preferido. As aulas estão intensas, mas tenho me saído muito bem. Visitar a minha mãe foi horrível, ela me expulsou aos gritos da clínica. A sua fúria e as palavras "Te odeio Ayla", não saem da minha cabeça. Mustafa está mais amigável, de alguma forma que não entendo ele se compadece do meu sofrimento. Essa semana um chefe de cozinha renomado veio na mansão me ensinar algumas coisas e fiquei muito animada.

Mustafa: Contratei um chefe para passar o dia com a Ayla, ela ficou muito feliz e foi bom vê-la sorrindo um pouco. Aos poucos ela se tornou muito importante para mim, derrubei as minhas barreiras e estou permitindo a sua aproximação.

Ayla: Um ano se passa e posso dizer que fui moldada, Mustafa me ensinou tantas coisas, me mostrou um mundo novo. A minha mãe saiu da clínica e não quis contato. Ela acabou tendo uma overdose na rua e está internada outra vez. Aprendi muito sobre culinária no último ano, preparo um prato novo e levo para o Mustafa provar, ele gosta e fico animada. Tenho notado ele mais cansado, não parece tão bem de saúde. Resolvo fazer uma horta na mansão e cuidar pessoalmente da alimentação dele. Completei 18 anos, a saudade da minha mãe aperta, ela está nas ruas e a última vez que tentei ajudar, ela me agrediu fisicamente. Estou estudando gastronomia e posso afirmar que estou totalmente apaixonada por esse mundo. Chamo o Mustafa de pai, a primeira vez foi estranho para nos dois, mas nesses últimos dois anos, foi exatamente o que ele foi para mim, um pai!

Mustafa: Ayla deu cor aos meus dias, ela é alegre, e deu vida a essa mansão. Aliás, não só a casa, o meu médico disse que todo o cuidado dela é o que tem me dado mais tempo de vida. Ayla é esforçada e está cada dia mais forte e destemida.

Ayla: Pai...

Mustafa: Entra!

Ayla: Sua vitamina.

Mustafa: Encaro o copo com a vitamina verde na mão da Ayla e tomo todo de uma vez. Ela fica mais tranquila quando bebo essa coisa.

Ayla: Me sento no sofá e descanso a cabeça na perna do Mustafa, ele sorri e me fala sobre os planos para o final de semana. Levei um ano para vê-lo sorrir pela primeira vez e agora ele faz com frequência. Ele é um homem que esconde as suas dores e isso me preocupa.

Parece melhor!

Mustafa: E estou, não se preocupe, está tudo bem comigo. Como está a faculdade?

Ayla: Incrível! Eu me destaquei nesse semestre. Acha que vou ser uma grande chefe?

Mustafa: Não acho, tenho certeza. Tenho muito orgulho de como é corajosa e esforçada Ayla.

Ayla fala sem parar sobre a faculdade, no começo me incomodava essa empolgação dela, agora não mais. Ela é leve, alegre e descontraída.

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