Capítulo 15

O sol daquela manhã era morno e agradável, seus raios timidamente adentravam através dos largos e grandes cristais coloridos do templo de Grimáldia que reunia mais de trezentos nobres que juntos faziam a oração semanal. Uma prece em cântico antigo que remontava a primeira língua a ser usada no reino era entoada pelo Santo Padre. O coral entoava junto dele em uma canção solene e respeitosa, elevando a todos o sentimento de santidade. As velas queimando, o som copioso e angelical e o clima agradável ao invés de despertar os sentimentos religiosos apenas fizeram com que os olhos de Esmeralda ficassem cada vez mais pesados.

Era a primeira vez que comparecia em um evento religioso como aquele. As suas preces eram feitas com a família em um pequeno templo, mas eram breves e sem tanta cerimônia.

Esmeralda lutou contra o sono que a puxava em uma batalha épica. Ela olhou para o teto tentando se entreter com algo que a mantivesse acordada e se deparou com os afrescos que narravam a história da fundação da religião no reino. A luta de Richard, o indomável pela unificação dos territórios, o seu casamento com uma das filhas de Grimáldia que o ajudou em sua guerra, as batalhas travadas… Novamente os olhos de Esmeralda se fecharam, mas sem que percebesse, pois em seus sonhos ainda observava os afrescos que começavam a se movimentar.

Um homem galopava em direção a um terrível monstro com a sua espada pronta para acertá-lo no peito. O monstro rugiu assustadoramente e içou as suas asas, semelhantes a um morcego, e levantou a sua cauda espinhenta para dar o bote, mas antes que conseguisse, o homem cravou a espada em seu coração…

– Esme, acorde — Safira a chacoalhou levemente, fazendo com que a caçula abrisse os olhos de imediato.

– O que aconteceu? — perguntou confusa enquanto olhava aos arredores. Muitos nobres já tinham se levantados prontos para irem embora.

— Você acabou dormindo — Safira sussurrou em seu ouvido enquanto continha uma risada. A jovem arregalou os olhos surpresa e rapidamente se endireitou enquanto sentia o rubor tomando conta de sua pele.

— Acha que alguém?

— Com toda a certeza o Santo Padre estava olhando para cá durante a cerimônia.

— Não acredito nisso — Esmeralda murmurou enquanto cobria o rosto com as mãos, envergonhada. Ela mal podia acreditar que tinha cedido àquela tentação, especialmente no templo!

— Não pense muito sobre isso, melhor irmos, o templo está quase vazio - sua irmã mais velha comentou enquanto lhe oferecia o braço para que ambas pudessem se retirar do local. Esmeralda, apesar de estar quase recuperada, ainda mancava e contava com a ajuda de Safira para se locomover. O médico lhe dissera que mais alguns dias de recuperação e ela estaria novinha em folha.

Em frente ao templo havia um lindo jardim com mesas e bancos onde muitos nobres se reuniam para confraternizar e estar a par dos acontecimentos recentes da corte, alguns aproveitavam o agradável espaço para fazer o desjejum nas mesas com chá, bolinhos, sanduíches e biscoitos. As amigas de Safira eram um desses aristocratas que desfrutam do lanche após as preces dominicais. Assim que avistaram as duas irmãs de Kingborn, acenaram pedindo para que se aproximaram. Esmeralda não tinha uma boa percepção sobre as jovens, mas acompanhada da irmã mais velha não teve muita escolha se não se aproximar com um largo sorriso.

— Milady Esmeralda, como é bom revê-la, faz muito tempo desde que nos vimos, como está o seu pé? — Cora a perguntou com um sorriso afável em seu rosto.

— É um prazer revê-la novamente, Lady Cora, felizmente estou muito melhor agora, agradeço pela preocupação.

— Então imagino que poderá comparecer ao chá da tarde da rainha? — Calina a indagou com um pequeno sorriso. De imediato, uma expressão de confusão surgiu em seu semblante, pois não estava a par da situação.

— Chá da tarde?

— Sim, a rainha nos convidou para visitarmos o jardim real privativo e desfrutarmos de um delicioso chá! Estou tão empolgada, me pergunto se o chá servido será importado, estou torcendo para ser das ilhas de Saliba, são uma verdadeira iguaria e de um sabor inigualável — Calina começou a divagar empolgadamente e logo se esqueceu da pergunta realizada anteriormente — encomendei um vestido novo somente para esse evento…

— Calina, você não deixou a lady Esmeralda responder se foi convidada ou não — Sina interveio com um pequeno sorriso em seus lábios, certamente havia um prazer mórbido estampado em sua face ao constatar que a jovem que era motivo de alvoroço na corte pela beleza e rumores de sua identidade não havia sido convidada para tal evento prestigioso.

— Eu não me lembro de ter recebido o convite — admitiu observando a alegria indisfarçada estampar na face de Sina e Calina.

— Na verdade, querida irmã, o convite foi entregue ao meu quarto. Suponho que a rainha temia que devido a sua indisposição você poderia se sentir pressionada a participar. Eu pretendia lhe comunicar do evento quando estivesse completamente recuperada, mas observando o decorrer da situação, não queria que houvesse uma má interpretação — completou enquanto observava a reação das duas mulheres que torceram os lábios.

— Imagino que a rainha tenha lhe dito esses motivos que a levaram a não entregar o convite a lady Esmeralda? — Cora a indagou enquanto pegava um biscoito amanteigado da cesta que estava em cima da mesa.

— Na verdade, não — Safira admitiu e Sina pareceu encontrar uma brecha para um contra-ataque.

— Então como pode supor os verdadeiros motivos de sua majestade, lady Safira?

Esmeralda estava tão irritada com aquela situação estupida que cerrou os punhos enquanto se contia. Era absurdo que as jovens damas estivessem dispostas a qualquer custo encontrar defeitos em algo, por mais mínimo que fosse. Tudo o que mais almejava era deixá-las falando sozinhas, mas não queria causar problemas a Safira, que gentilmente a defendia.

– Estranho ela não ter recebido um convite e ter sido por intermédio seu, não imaginei que o castelo estivesse com escassez de folhas e envelopes ou então que quisesse poupar os empregados — Calina acrescentou enquanto continha uma breve risada. Esmeralda abriu um pequeno sorriso:

– Por favor, Lady Calina, dizendo dessa maneira muitos podem interpretar que acredita que o reino está falido — ronrono docemente observando com diversão o rosto da nobre se contorcer em horror, afinal, era um crime passível a punições severas iniciar boatos do estado dos cofres reais.

— Não quis dizer desse modo e tenho certeza que não interpretariam assim milady Esmeralda — Calina tentou se explicar rapidamente. Safira olhou para a irmã como pedisse por revezamento no ataque, algo que Esmeralda concedeu.

— Mas não se pode crer que todos compreenderam a sua expressão dúbia milady, minha irmã tem razão, imagine só se por um pequeno acaso o rei estivesse aqui e escutasse suas afirmações?

— Uma suposição esdrúxula, eu diria — ela a interrompeu ansiosamente, contudo, era possível notar os seus olhos vagueando pelo jardim como se a qualquer momento o rei pudesse surgiu com uma tropa de guardas para levá-la.

— Mas ainda uma possibilidade — Esmeralda retorquiu com um pequeno sorriso.

— Esme tem toda a razão, se as miladies nos dão licença, preciso acompanhar minha irmã até seu quarto. Ela precisa descansar — Safira a pegou pelo braço e então se afastou do grupo que tinha uma expressão perplexa. Assim que se encontraram em uma distância longe o suficiente, ambas cederam as gargalhadas que tanto seguravam.

— Ninguém ataca as irmãs de Kingborn — Esmeralda comentou ao passo em que as risadas finalmente cessavam.

— Nunca vi Calina tão irritada Esme. Você tem um poder…

— De irritar as pessoas? Eu não gosto de me gabar, mas de fato tenho — e novamente as duas riram — mas você também foi maldosa ao colocar o rei no meio disso, se ele te descobre…

— Não se preocupe, eu me arranjo com ele depois, o importante é que ela ficou desesperada pensando que ele de fato estava perto.

— Algo quase impossível, não o vi hoje na cerimônia.

— Ele estava na primeira fileira com a rainha e o grão-duque, mas imagino que realmente não os viu, estava ocupada demais dormindo — acrescentou notando o tom ruborizado manchar a pele de Esmeralda.

— Foram os remédios que tomei, eles são tão fortes! — Esmeralda tentou encontrar uma desculpa para justificar o seu sono pecaminoso, mesmo que fosse uma mentira, algo que Safira certamente sabia, pois logo replicou com uma de suas sobrancelhas louras arqueadas:

— Pensei que só passasse unguentos em seu pé querida irmã.

— E tomar um remédio para aliviar a dor também — acrescentou rapidamente, mas apesar de seus argumentos e de seu esforço, Safira não parecia completamente convencida e apenas respondeu um murmúrio:

— Se é o que diz.

— Exatamente — Esmeralda olhou para os lados, pois sabia que sua irmã mais velha a observava com uma expressão de zombaria. Nesse ínterim, notou caminharem em direção ao palácio central, onde estavam alojadas. Ela não queria voltar tão cedo para os aposentos, especialmente quando era a primeira vez em que estava fora do palácio, podendo desfrutar da brisa primaveril e agradável que soprava. Ela olhou para a irmã que naquele momento possuía uma expressão passível e decidiu fazer um pedido — Safira, você se importa em me deixar aqui no jardim? Há muito que gostaria de desfrutar do ar livre.

— Minha querida, infelizmente tenho alguns compromissos agora e não poderei ficar com você.

— Não tem problemas, posso ficar aqui sozinha.

- Mas como vai voltar depois? — a irmã mais velha a indagou preocupada. Por mais que Esmeralda estivesse quase recuperada\, ainda precisava de um apoio para se locomover.

- Talvez eu esteja abusando de você\, mas pode pedir para Rizza vir me buscar? — sugeriu com os olhos brilhando de esperança. Safira abriu um largo sorriso e acariciou a mão de sua irmã gentilmente.

- Está realmente abusando da minha boa vontade\, mas eu não me importo. Apenas prometa não ficar perambulando por aí.

— Eu prometo!

- Muito bem\, que tal sentar ali? Parece muito agradável — comentou enquanto observava o banco próximo a uma árvore que aparentava ter sido recentemente podada devido ao formato oval de suas folhas verdes vibrantes. Esmeralda aceitou de imediato e logo Safira a deixava no banco\, despedindo-se com um beijo na testa da caçula.

Esmeralda se acomodou no banco enquanto apreciava a brisa fresca que soprava, fazendo com que os fios soltos de seus cabelos tremulassem fracamente. A jovem olhou aos arredores certificando-se de que não havia ninguém ao seu entorno e então se deitou no banco. Sua cabeça e ombros ficaram a mercê do sol da manhã que produzia raios mornos que acariciavam a sua pele. Novamente, os seus olhos se fecharam e assim ela ficou por longos minutos.

Havia um comichão em sua bochecha. Ela o abanou querendo retirar o inseto que pousava em sua pele, mas o bicho era teimoso, pois logo repousou novamente em sua bochecha e novamente ela abanou a mão. Na terceira vez, ela abriu os seus olhos irritada se deparando com um par dourado que a encarava.

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Mary Lima

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2024-02-08

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