Capítulo 2

O escritório quebrava o padrão de iluminação e leveza que era espalhado por toda a mansão. O piso de mármore branco acabava logo após a porta sendo substituído por uma madeira de mogno, da mesma cor que as madeixas de Esmeralda, as paredes tinham a cor de azul marinho enquanto os móveis tinham cores pretas ou de um marrom bem escuro. Em uma longa escrivaninha e sentado em uma cadeira com estofados azuis, um homem a encarava.

Seu corpo era bem constituído, a tez era branca e os cabelos loiros tinham mechas grisalhas. O nariz aquilino era pontudo e nele pousava um par de óculos redondos e por detrás das lentes, olhos azuis glaciais a analisavam.

Com movimentos lentos e elegantes, ele se aproximou de Esmeralda e, quando ela menos esperava, um par de braços a envolveu em um abraço apertado. Ela ficou estática com a ação repentina. O homem a distanciou um pouco para que pudesse observar a sua face e nesse meio tempo pôde vislumbrar seus olhos lacrimosos. Com uma voz embargada, o duque se pôs a falar:

– Minha filha... Minha filha está viva. A minha menininha está em casa. Isso é um verdadeiro sonho que jamais achei que se realizaria!

Esmeralda o encarou surpresa com as palavras e ações de seu pai. Ela abriu a boca para dizer algo, mas nada lhe vinha à mente, pois tamanha era a surpresa que por um momento tinha desaprendido a falar.

– Eu sei que é um tanto quanto repentino para você e sei como fui rude, mas simplesmente não me contive em saber que você estava viva por todo esse tempo. Eu não entendo por que Amélia e Rose teriam feito isso comigo, eu sofri tanto...

– Me perdoe por perguntar, mas vossa graça pretende colocar a condessa e o conde de Bullock em um julgamento? – sua pergunta foi proferida de forma hesitante, pois tinha medo de como seria recebida pelo duque, que para sua surpresa, apenas balançou a cabeça negativamente e a respondeu suavemente:

– Por mais hediondas que tenham sido suas ações, não poderia fazer isso com aqueles que te criaram, exceto, é claro, que tenham te tratado mal, e espero que não seja esse o caso – havia um tom ameaçador em sua fala que Esmeralda não pôde deixar de temer, mas saber que ele não pretendia denunciar seus pais à corte era o suficiente para que um alívio imenso tomasse conta de si. A menos que ele recorresse ao julgamento, nada de mal aconteceria aos seus pais adotivos.

– Não vossa graça, fui muito bem cuidada por eles – acrescentou rapidamente observando a expressão ameaçadora de Cassin ser desmanchada rapidamente.

– Isso é um alívio, no entanto gostaria que pudesse me tratar informalmente, não precisa me chamar necessariamente de pai, mas de Cassin é o suficiente, isso se estiver tudo bem para você.

– Eu tentarei, vossa graça... Cassin – Esmeralda se corrigiu de imediato e um sorriso largo surgiu nos lábios do duque.

– Perfeito! Por mais que adoraria continuar conversando com você, acredito que esteja muito cansada, certo? Você será levada para o seu quarto para que possa descansar.

– Agradeço pela atenção e cuidado.

– Isso não é nada, eu deveria me desculpar pelas coisas que te fiz passar. Espero que possa perdoar a minha ansiedade em revê-la, imagino que a viagem não tenha sido nada fácil.

– Está tudo bem, eu entendo as suas ações, não há nada para se preocupar.

– Muito obrigado, agora você deve repousar. Bom descanso minha filha.

Esmeralda agradeceu e se retirou da sala deixando para trás o duque. A jovem se sentia confusa com a cena que tinha acabado de se desenrolar, jamais imaginou que seria carinhosamente acolhida, ao menos não daquela maneira excessivamente afetuosa, afinal Cassin mal a conhecia. Naquele momento se sentiu mal pelo rancor que guardou do duque durante toda a viagem.

Assim que saiu do escritório se deparou com uma empregada mais velha a aguardando que dizia ser a responsável para guiá-la até o seu quarto. Enquanto caminhavam para suas acomodações, Esmeralda observou atentamente a arquitetura interna da mansão.

Os corredores eram bem iluminados com as altas janelas que permitiam a entrada da luz natural. As paredes eram brancas assim como o chão, porém ora ou outra havia algumas tapeçarias que traziam cor ao ambiente.

Seu quarto ficava no terceiro andar e dava para o jardim dos fundos. Ela adentrou olhando ao redor enquanto contemplava a decoração do local.

Antes do dormitório havia uma ante-sala. Nela havia um trio de sofás rosa perolado, logo em frente uma lareira crepitava aquecendo o quarto do frio de inverno enquanto no chão pousava um tapete felpudo que era agradável ao toque e no meio um candelabro grande enfeitava o teto trazendo luz ao lugar.

No fim da sala era possível visualizar uma porta simples que dava ao seu quarto. Esmeralda adentrou no cômodo e se deparou com uma sala imensa e ricamente trabalhada.

As paredes eram de cor salmão com detalhes brancos, próximo a uma janela alta estava a sua cama com lençóis e dossel igualmente brancos que se destacavam pelo seu tamanho imenso. Ali também havia uma lareira e próxima a ela estava apenas um sofá, provavelmente pelo seu dormitório ser um lugar mais íntimo não haveria a necessidade de muitos assentos, e em frente a sacada uma mesa de vidro com dois assentos estava decorada com um vaso de rosas brancas. Ela se aproximou das flores e inalou sua fragrância perfumada.

– Milady, deseja tomar banho agora ou comer antes? – a empregada que a guiava silenciosamente a questionou tirando-a de seus pensamentos acerca de seu belo aposento.

– Preferia tomar um banho agora.

– Irei preparar a água milady.

Esmeralda achou que demoraria até que enchesse a banheira e foi se sentar no sofá para aguardar o seu banho ficar pronto, contudo foi surpreendida com a empregada aparecendo minutos depois anunciando que a água estava pronta. Assim que entrou na sala de banho se deparou com uma banheira redonda e grande que era anexada no chão. O vapor havia tomado toda a sala junto do agradável perfume floral.

– Como você encheu a banheira rapidamente? - perguntou estupefata enquanto seus olhos se dirigiam para a empregada que apenas lhe respondeu com grande naturalidade:

– Existem fontes mágicas que foram fabricadas por magia em Douvier, apesar de estarmos longe do grão ducado, algumas peças mágicas como essa ainda funcionam. A água é sugada por tubos de um poço próximo e só são ativadas quando puxamos essa alavanca. Podemos regular a temperatura da água assim que a puxamos - finalizou apontando para a peça. Esmeralda se aproximou com os olhos brilhando de curiosidade enquanto analisava atentamente. Era a primeira vez que via um item como aquele.

– Deve ter sido um grande investimento – constatou enquanto analisava o instrumento a sua frente que estava revestido com uma delicada escultura de mármore em forma de um grupo de ninfas d' água, seus cabelos de pedra ondulavam como as margens de um lago e havia uma expressão de serenidade em seus rostos frios e duros de mármore. As vestimentas que usavam eram vestidos transparentes e tão bem entalhados que pareciam de fato tecidos que tremeluziam conforme o sopro do vento que ia de encontro aos seus corpos emoldurados. Era uma escultura incrível e muito bem trabalhada.

– Sim milady, são poucas casas que podem adquirir. Todos os quartos possuem uma fonte similar a essa.

– É incrível – Esmeralda ficou assombrada com o poder aquisitivo do duque, apesar de Kingborn não ser tão rica como outros ducados e condados, ainda tinha condições de implantar um sistema tão caro como aquele.

– Sim. Milady, gostaria que te ajudasse a se banhar?

– Não é preciso, enquanto isso você pode buscar algo para comer? – seu pedido era uma maneira de despachar a empregada para que pudesse desfrutar de alguns minutos de privacidade e relaxar em seu banho. A empregada assentiu e partiu para a cozinha buscar sua refeição. Sozinha, Esmeralda se despiu e entrou na água, que estava em uma temperatura perfeita e agradável.

Naquele momento em que estava só teve tempo para refletir sobre tudo o que tinha acontecido naquele dia.

O duque a surpreendeu pelos gestos gentis e afáveis que demonstrou e por isso gostaria de ser atenciosa com ele e tentar se aproximar mais. O fato de que sua família de Bullock não iria para julgamento a aliviou imensamente e só aumentou a percepção que tinha do duque.

Apesar das boas considerações até o momento, ela não poderia se esquecer de que as coisas mudariam. O cuidado que deveria tomar para não cometer erros tinha de ser redobrado e deveria começar a considerar a ideia de casamentos arranjados, embora só de pensar naquilo era o suficiente para que sua língua ficasse amarga. Talvez fosse bom deixar aqueles pensamentos para o futuro e não divagar demais a fim de evitar a ansiedade de algo que poderia demorar a acontecer.

Após seu banho relaxante, Esmeralda vestiu um roupão uma vez que suas roupas ainda estavam na mala, e saiu para encontrar uma roupa confortável para descansar. Assim que terminou de se vestir uma batida suave soou:

– Milady, é a Cora. Trouxe sua refeição como tinha pedido.

Esmeralda autorizou sua entrada e em segundos Cora estava no quarto segurando em suas mãos uma bandeja de prata bastante farta. O cheiro que emanava era tentador e a jovem não conseguiu conter o seu estômago murmurar trazendo a lembrança de que não comia decentemente desde o início da tortuosa viagem.

A comida trazida constituía em um ensopado de peixe com legumes, um pedaço generoso de frango assado com frutas vermelhas e com crostas de ervas, uma mistura de legumes e vegetais, pão branco e para acompanhar vinho e água. Esmeralda dispensou o vinho por ter uma tolerância baixa ao álcool e se pôs a comer de imediato. Ela se conteve ao máximo para não perder os bons modos à mesa, mas a comida era tão saborosa que havia se tornado um trabalho quase hercúleo.

Quando terminou, foi-lhe oferecido uma torta de frutas vermelhas, mas prevendo a indigestão que viria, recusou. Estava satisfeita e naquele momento a única coisa que almejava era dormir. Logo estava enroscada no emaranhado de lençóis e travesseiros. Confortavelmente instalada, não demorou muito para que o sono chegasse.

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Comments

Arisu75

Arisu75

Este livro me fez rir, chorar e sentir todas as emoções. 😂😢😍

2023-07-18

3

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Capítulos
1 Prólogo Parte 1
2 Prólogo Parte 2
3 Prólogo Parte 3
4 Prólogo Parte 4
5 Capítulo 1
6 Capítulo 2
7 Capítulo 3
8 Capítulo 4
9 Capítulo 5
10 Capítulo 6
11 Capitulo 7
12 Capítulo 8
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Atualizado até capítulo 82

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