— Eu não posso aceitar — recusou educadamente o presente, afinal mal se conheciam o suficiente para tanto, contudo o homem parecia obstinado em fazê-la aceitar o presente.
— Por favor, pense como um símbolo de nossa amizade — ele sugeriu enquanto pacote permanecia estendido, pronto para ser entregue.
— Amizade? — ela repetiu a palavra ainda confusa. Ambos se conheciam há tão pouco tempo para se considerarem amigos.
— Não gosta da ideia de ser minha amiga? — Henric a questionou com um semblante entristecido, Esmeralda sentiu o seu coração vacilar ao avistar a expressão de abate na face do homem e tentou se retratar rapidamente:
— Não é isso, apenas achei repentino que um homem como vossa alteza quisesse ter a minha pessoa como amiga.
— Sou um homem solitário, é raro ter em companhia pessoas que não me veem como um "degrau" — comentou referindo-se a sua fala anterior.
— Sendo assim, aceito o seu presente — dito isso, ela pegou o embrulho nas mãos do homem e um sorriso envergonhado se desenhou em sua face, afinal não esperava pelo ato tão generoso — muito obrigada.
Esmeralda começou a desembrulhar o pacote quando Henric a impediu segurando suas mãos. Seus olhos denotavam exasperação e a ação repentina assustou a jovem.
— Por favor, abra quando chegar ao seu quarto — pediu embaraçosamente. Seus olhos pareciam percorrer por todos os cantos do jardim fugindo de se encontrar com a face da jovem que se recuperava do pedido tão inesperado.
— Está envergonhado? — ela perguntou, tentando disfarçar a graça que via no todo. Era um contraste muito grande um homem forte e corpulento aparentar certo acanhamento. Henric apenas olhou para baixo e a jovem notou um tom avermelhado tomando parte de sua pele branca.
— Apenas não estou acostumado a dar presentes — disse após tossir levemente e levar a mão a boca para disfarçar o constrangimento. Esmeralda conteve a risada para não deixá-lo ainda mais envergonhado e então colocou o pacote de lado.
— Está bem, se insiste.
— Bem, eu preciso ir, até breve milady — ele se despediu de maneira cortês e partiu rapidamente. Assim que ele sumiu de suas vistas, Esmeralda deixou escapar as gargalhadas que segurava e em seguida pegou o embrulho para analisar o presente que recebera.
Ao desembrulhar, notou que era algo ligeiramente pesado e metálico. Quando o último tecido de veludo sumiu, se revelou em suas mãos um lindo diadema de ouro com entalhes finamente trabalhados que simulavam folhas de árvores e no centro uma esmeralda reluzia. "Dessa maneira acabarei com todas as esmeraldas do mundo'' pensou consigo mesma em tom de joça, afinal todos insistiam em lhe entregar presentes com a tal joia. Apesar da pequena consideração, ainda assim ficava agradecida pela delicadeza e atenção recebidas, a intenção sempre valeria muito mais que o próprio presente em si.
A jovem admirou o delicado adorno em suas mãos. Quanto mais seus olhos se demoravam no lindo objeto, mas detalhes encontrava. Ela notou que em alguns pontos haviam cristais em formato de gota muito provavelmente simulando a gota de orvalho no início da manhã. Em aluns pontos ela conseguia sentir as nervuras das folhas. O artesão que desenvolveu aquela preciosidade deveria ser muito habilidoso para moldar objetos tão delicados. Certamente, era uma joia caríssima e rara. "Era por isso que não queria que abrisse na sua frente, sabia que rejeitaria" pensou consigo mesma ao deslizar seus dedos sobre o diadema.
Sabendo que não teria muita voz caso optasse por devolver, ela optou por guardar o presente. Enquanto o embrulhava novamente, Rizza apareceu segurando em suas mãos uma bandeja de chá farta.
— Me desculpe pelo atraso, a cozinha estava obstruída — se desculpo enquanto arranjava um lugar para acomodar a bandeja.
— Não tem problema, se tivesse chegado um pouco antes teria encontrado o grão-duque — comentou enquanto pegava um biscoito decorado com glacê. Rizza estava servindo o chá quando petrificou a menção do nome.
— É... é mesmo? Eu não sabia — disse desconcertadamente conforme voltava aos afazeres mecanicamente. Esmeralda arqueou levemente a sobrancelha diante ao nervosismo repentino de Rizza. Tentada a tirar dúvidas, ela prosseguiu:
— Engraçado que ele sabia que eu estaria aqui hoje. Sabia que ele me deu um presente de aniversário? foi um gesto muito adorável!
— É mesmo? — Rizza parou abruptamente se virando para Esmeralda.
— Sim, foi um lindo diadema. Mas eu estava pensando, como ele soube do meu aniversário? Sei que Safira não disse nada a ninguém, muito menos ao grão-duque - Esmeralda prosseguiu teatralmente aguardando qualquer movimento de Rizza. Vendo que ela não se pronunciaria, prosseguiu — adoraria saber quem é o informante do grão-duque — desta vez, Rizza deixou a colher cair no chão. Suas mãos tremiam. — está tudo bem Rizza? Parece nervosa — Esmeralda a indagou gentilmente. Rizza assentiu rapidamente e se agachou para recuperar a colher perdida. Era nítido que a pobre empregada não sabia mentir.
— Está tudo ótimo.
— Rizza — Esmeralda a chamou fazendo-a se levantar, ficando frente a frente com a jovem que a encarava seriamente. Apesar de ser péssima mentirosa, ela levaria a mentira até o fim. Seria bom colocar um fim naquele teatro.
— S... Sim?
— Sei que foi você que disse ao — após a acusação, Rizza se prostrou de joelhos. Seus olhos brilhavam com as lágrimas que começavam a cair.
— Por favor, milady, não fique brava comigo, não fiz por mal, eu juro — exclamou exasperada. Esmeralda soltou um longo suspiro. Sabia que na corte não havia segredos, especialmente por conta dos empregados que eram subornados a dar voz aos segredos de seus patrões, mas não esperava que acontecesse tão cedo. Ela optou por acalmar Rizza que estava em prantos para fazê-la falar:
— Está tudo bem Rizza, apenas quero entender por que disse a ele, apenas isso. Me conte exatamente o que aconteceu e quando.
— Ontem à tarde ele trombou comigo quando estava a caminho do seu quarto. Eu disse a ele que estava apressada porque a milady e sua irmã estavam comemorando uma data especial, ele obviamente me perguntou que data era e eu disse ser seu aniversário, ou no caso, a razão da comemoração já que... — Esmeralda gesticulou com a mão pedindo para que ele prosseguisse com os fatos relevantes e Rizza a atendeu prontamente — enfim, ele me perguntou sobre a milady e quando sairia de seu quarto e eu disse que não sabia e então...
— Então...? — Esmeralda notou que Rizza estava hesitante em concluir o monologo e sabia que algo muito sério estava por vir.
— Ele me pediu para avisá-lo quando a milady saísse.
— Por esse motivo foi tão solicita em busca do chá, para avisar a ele — Esmeralda concluiu ainda em choque. Apesar de ser algo simples, não era agradável a ideia de alguém lhe esconder um segredo e pior, fazer um plano que a envolvia. Rizza pareceu notar o desagrado da jovem e abaixou a cabeça submissa.
— Apenas fiz isso porque pensei que ele gosta da milady e queria te agradar, não fiz por mal, eu juro — após as palavras finais de Rizza, a jovem ficou longos minutos ponderando sobre suas ações e principalmente sua observação em relação aos sentimentos de Henric. Ela estava indecisa sobre o que fazer.
— Rizza — a chamou suavemente fazendo com que a empregada levantasse a cabeça — desta vez relevarei suas ações — diante as falas de Esmeralda, a mulher soltou um suspiro de alívio — mas quero confiar em você, para isso peço que não me esconda nada, preciso de alguém para confiar e esse alguém é você. Relevarei o ocorrido porque sei que fez de bom coração, mas não tome decisões que vão me afetar sem me consultar antes.
— Prometo que nunca mais acontecerá.
— Ótimo. Confiarei em você.
— Mas milady, se o grão-duque lhe deu um presente, é porque ele gosta mesmo de você — Esmeralda corou após ouvir as considerações de Rizza. Decida a contornar o assunto, tentou mudar o rumo da conversa:
— Vamos tomar o chá antes que esfrie? — sugeriu ao passo em que depositava o líquido quente em sua xícara de porcelana e o levando aos lábios. Rizza sorriu e optou por seguir o pedido implícito de Esmeralda para que mudassem o rumo da conversa.
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Atualizado até capítulo 82
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