As ruas da capital tinham se tornado uma explosão de cores vivas e vibrantes, o cheiro floral irradiava por toda a cidade que estava repleta de fitilhos e flores silvestres adornando todas as ruas e casas. Os cidadãos estavam mais alegres que o habitual e podia-se ver o movimento frenético que havia se tornado o lugar. Comerciantes aproveitavam a data festiva para vender e lucrar, poetas e músicos se uniram para compartilhar a sua arte e o povo apreciava o ar festivo.
Esmeralda não conseguia ver a beleza colorida que havia invadido a capital, ela estava sentada diante de um grande espelho enquanto três mulheres estavam debruçadas sobre si, focadas em deixá-la apresentável para o baile. Ela se sentia desconfortável com a quantidade exorbitante de processos de beleza que eram aplicados sobre ela.
Mais cedo naquele mesmo dia, havia passado por um banho estranhíssimo de lama, em seguida recebeu uma massagem, o que foi o mais prazeroso, e então sentia passarem em sua pele uma infinidade de cremes e produtos. Suas mãos e pés recebiam uma atenção que jamais tiveram e seus cabelos eram cuidadosamente enrolados para formarem lindos cachos. Era de certo modo sufocante a atenção excessiva que recebia.
Todo aquele preparo a deixava ansiosa para o baile. Quando era mais nova, tinha o desejo de participar desses eventos onde sua mãe e seu pai adotivo sempre iam e, ao conversar com sua irmã, ficou tão maravilhada com os cenários que ela descrevia que não podia pensar em outra coisa que não fosse a chegada daquele baile, mas naquele momento se sentia assustada.
Ela não se sentia pronta para um evento como aquele com tantas pessoas ao seu redor, o que era irônico uma vez que um dos motivos que a atraia para aquelas festas era o pensamento de não ficar só. Esmeralda sabia que teria sua irmã ao seu lado, entretanto não poderia contar unicamente com Safira, afinal ela parecia ser o tipo de nobre muito popular nos círculos sociais, sua beleza e elegância eram encantadoras e provavelmente atrairia um grande público ao seu redor como borboletas que se aproximavam de uma bela flor para sugar o seu néctar.
A jovem suspirou profundamente tentando desacelerar as batidas inquietas de seu coração. "Tudo ocorrerá bem", disse a si mesma em pensamento. Era apenas o seu primeiro baile de muitos outros, ela teria Safira e suas amigas para ajudá-la a se familiarizar com tudo, além de que ela não seria a única debutante, haveria outras que com toda a certeza chamariam mais atenção.
Esmeralda aproveitava aquelas intermináveis horas de preparo para se lembrar de todos os principais pontos de etiqueta, a sua maior falha devido aos anos de negligência. Ah se pudesse voltar ao passado teria sido uma aluna muito mais aplicada!
Após várias horas sendo alvo de uma expressão artística recebendo diversos cuidados e sendo enfeitada tal qual uma boneca, ela estava pronta para usar o vestido que Safira havia preparado para ela. Sua ansiedade apenas aumentou conforme via o pacote ser desembrulhado revelando a peça que deveria usar. Era sinal de que a grande noite estava prestes a começar.
Com a ajuda do esquadrão de empregadas, ela vestiu aquele amontoado de tecidos com grande dificuldade, mas o que de fato demorou foi ter de abotoar a infinidade de botões que tinha em suas costas. Quando finalmente estava pronta, ela caminhou em direção ao espelho gigantesco que estava na ponta de seu quarto e se avaliou.
Não havia palavras para descrever o vestido que Safira escolheu, era belo em todos os sentidos! Ela olhou para o corpete revestido de pedras preciosas que cintilavam à luz das velas, a saia possuía várias camadas de musselina verde que a tornava redonda com um aspecto de leveza, o que era só aparência, pois sentia o peso da quantidade de tecidos que compunham a peça. Não bastassem as pedrarias que confeccionavam o seu corpete, havia mais bordados em cada camada de sua saia, o que a fez pensar que quando fosse rodopiada aqueles cristais brilhariam na certa.
Era um vestido que parecia ter sido tirado de um sonho... Mas não os de Esmeralda. Ela se sentia desconfortável com a opulência em cada detalhe, jamais se imaginou vestindo algo com tamanha grandeza, era demais para ela.
Esmeralda rodopiou um pouco pelo quarto e balançou a saia tentando analisar por quanto tempo aguentaria usar aquela quantidade excessiva de tecidos e por fim calculou que em menos de uma hora estaria suplicando para retirá-lo. Talvez fosse melhor trocar por outro.
– Não há outro vestido? — a pergunta repentina pegou a todas de surpresa que arregalaram os olhos instantaneamente.
— Milady, nenhum vestido se equipara a esse, temo ser o único apropriado para o baile de hoje — uma das criadas, Rizza, a respondeu. Esmeralda se olhou no espelho encarando o seu reflexo de volta. Pelo visto deveria se habituar àquele peso desconfortável, o que não seria um trabalho muito fácil, pois sentia que quando estava parada podia ceder ao chão a qualquer momento. Derrotada e sem opções, ela suspirou pesadamente.
Amargamente se lembrou dos conselhos da condessa que sempre dizia ser importante experimentar o vestido antes de usá-lo, com toda a certeza não cometeria o mesmo erro duas vezes.
Conformada, saiu de seus aposentos para se encontrar com sua irmã que a aguardava pacientemente na ante-sala. A sua figura esbelta sentada em uma das poltronas era... magnífica. Safira por si só tinha uma beleza deslumbrante que cativava qualquer um que a olhasse, mas naquela noite em específico ela estava radiante.
Seus cabelos loiros estavam presos em um penteado para cima evidenciando o formato de seu rosto altivo e gracioso. O vestido que usava era glorioso tendo a saia de um azul-celeste com bordados dourados ao redor e pequenas safiras anexadas, o corpete era ornado com mais bordados de flores douradas e decoradas com uma quantidade diversa de diamantes. Sem dúvidas, Safira seria o destaque daquela noite.
— Uau — Esmeralda exclamou atraindo a atenção de Safira que abriu um sorriso alegre ao observar a irmã mais nova — você está... belíssima — disse por fim sem saber qual palavra descreveria adequadamente a beleza irradiante de Safira que deu uma risada breve e então se levantou para abraçar a caçula.
— Com toda certeza, não mais que você. O vestido lhe caiu tal qual uma luva, temi que por conta de não ter experimentado antes tivesse algum problema na hora em que o vestisse, mas vejo que deu tudo certo no fim — Esmeralda corou levemente, pois não se sentia tão confortável na peça escolhida pela irmã, contudo optou por não dar voz às suas considerações.
— Sim, agradeço muito pelo seu favor, não sei o que faria sem você.
— Com toda a certeza escolheria algo melhor! Então? Preparada?
— Um pouco nervosa — admitiu enquanto alisava o vestido que usava.
— Não se preocupe, tudo sairá bem. Aliás, acho que está faltando alguma coisa em você — ela começou enquanto observa sua irmã que se sentiu ainda mais inquieta.
— O quê?
— Não se preocupe, acho que isso será o suficiente para te deixar ainda mais bela — dito isso, ela se adiantou para a mesa ao lado da poltrona e em seguida pegou uma caixa de veludo preto e a abriu revelando um lindo colar de diamantes onde no centro estava uma pesada e gigantesca esmeralda — feliz aniversário!
— Isso é.... Para mim? — perguntou em estado de choque.
— É claro que é, para quem mais seria?
— Mas ele é...
— Lindo? Espetacular? Um verdadeiro sonho? Eu sei, agora deixe-me colocar em você — Esmeralda queria dizer que era um presente extravagante demais para ela, mas após o tom imperioso empregado por Safira, ela apenas pôde obedecer sem dizer uma única palavra. Assim que o colar foi colocado, ela caminhou em direção ao espelho e observou o objeto que adornava o seu pescoço. Inconscientemente, seus dedos deslizaram pelos diamantes anexados em formas florais e chegou até a joia verde que era o protagonista da peça.
— É... incrível. Muito obrigada, minha irmã, não sei como retribuirei.
— Presente não se retribui, se agradece. Agora vamos, já estamos alguns minutos atrasadas — após seus dizeres, Safira ofereceu o seu braço ao qual Esmeralda o enlaçou e logo as duas damas percorriam os corredores em direção ao baile que as aguardava.
Enquanto caminhavam, Safira falava alegremente sobre os seus planos em relação ao aniversário da caçula. Esmeralda se sentia tocada pelo carinho que recebia, ela imaginou que passaria aquela data sozinha, jamais poderia pensar que Safira teria preparado algo tão especial.
Em todos os seus aniversários anteriores, seus pais adotivos faziam questão em comemorar com piqueniques ao ar livre, longos passeios pela campina e sempre tinha um banquete, mas sem convidados.
Ela jamais entendeu o motivo de ser tão resguardada, mas após a descoberta compreendeu que tudo foi feito para que sua identidade jamais fosse revelada.
— Você consegue ouvir a música? Estamos chegando! — Safira anunciou fazendo com que Esmeralda começasse a prestar atenção. Ela podia ouvir o som instrumental que invadia os corredores.
Conforme caminhavam, se aproximavam cada vez mais do salão onde a música soava alta e reverberava por entre as paredes. Esmeralda sentiu seu coração disparar.
No fim do corredor, estava uma porta dupla aberta revelando brevemente as decorações. A luz escapava e invadia os corredores que naquele momento se tornaram tão sombrios.
— Tudo ocorrerá bem — Safira sussurrou em seus ouvidos tentando tranquilizá-la. Esmeralda apenas abriu um sorriso em agradecimento, pois o nervosismo havia corroído suas cordas vocais.
Ela não notou quando, mas em algum momento ela parou no topo da escadaria e observou o salão.
Os grandes vitrais foram invadidos pelas rosas trepadeiras que escapavam do jardim sul por pequenas frestas. O teto de vidro e no formato oval a lembrou da estufa que havia na residência dos Bullock, só que mil vezes menor quando comparada àquela. Devido à impossibilidade de lustres, havia uma quantidade considerável de castiçais anexados por todas as paredes e candelabros residindo em cada superfície trazendo uma iluminação baixa.
Em cada canto era possível ver flores e o uso de tecidos coloridos para enfeitar o local que, para ela, era um verdadeiro jardim no auge de seu esplendor. A fragrância suave das flores era agradável e apesar da quantidade de cores não era o suficiente para ser agressivo aos olhos, tudo havia sido feito em perfeita harmonia. Diante de tamanha beleza, era impossível conter uma exclamação de admiração e espanto.
Safira observou a reação de Esmeralda e seu sorriso se alargou ainda mais:
— É realmente bonito não? É uma das minhas decorações preferidas.
– Há quanto tempo você vem ao palácio? — Esmeralda a questionou pela primeira vez. A jovem tinha certeza de que a mais velha já havia visitado o palácio, mas não sabia ao certo há quanto tempo Safira frequentava a corte para conhecer tão bem o local.
– Cerca de dois anos. Desde que fiz dezoito anos sempre compareço a esses eventos e com você acontecerá o mesmo, bem, até encontrar um marido digno, então a sua presença nesses bailes não será obrigatória — Esmeralda sentiu um frio na barriga com a menção de casamento, mas tentou não demonstrar os seus sentimentos de desconforto.
As duas irmãs iniciaram a sua descida pela longa escadaria que as levaria até o salão onde havia damas da mais alta estirpe usando vestidos esplendorosos e cavalheiros que pareciam retrógrados e desconfortáveis com o evento. Esmeralda abriu um pequeno sorriso ao observar que se não fosse obrigatório a presença daqueles cavalheiros, muitos jamais pisaram o pé naquele evento.
– Eles não parecem muito animados com o baile — Esmeralda comentou com um risinho e Safira conteve a gargalhada que queria escapar.
– Muitos aqui apenas estão porque são obrigados, mas acho que posso entendê-los por não quererem lidar com mães e jovens afobadas por se casarem. Aquela ali é Perla — disse lançado um olhar breve para uma jovem de cabelos negros e lisos — todos fogem da coitada já que ela sempre causa algum desastre, pobrezinha. Mas o pior é o conde de Bourne, aquele ali está longe de ser indicado para algum casamento, está devendo até os calções e por isso está desesperado para uma noiva abastada — após ouvir o comentário de Safira, Esmeralda colocou a mão na boca para abafar o riso, entretanto daquela vez Safira permaneceu com uma expressão séria como se tivesse algo importante a dizer, por esse motivo, Esmeralda cessou rapidamente com as suas risadas — Me escute bem irmã, se por acaso se interessar por qualquer homem deve me avisar, muitos aqui são deploráveis e não merecem nem ao menos o seu bom dia!
– Não acho que me interessarei por algum homem tão cedo — Esmeralda tentou tranquilizar a mais velha, pois não estava animada com o assunto, com toda a certeza se prosseguissem teria a sua noite molhada por um balde de água fria
— Isso é ótimo, pois duvido que tenha a chance de se casar com um par de seu interesse, assim como eu — por um momento Esmeralda foi pega de surpresa, o que sua irmã queria dizer com aquilo?
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Atualizado até capítulo 84
Comments
Mary Lima
Este baile vai dar pano pra manga
2024-02-08
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