O sol despontava no horizonte colorindo o céu de tons suaves de violeta e laranja. Um pequeno rouxinol aprumou suas penas e começou a cantar suavemente preenchendo o solitário alvorecer com o seu doce canto.
Em meio aos lençóis de linho e pesados cobertores de pele, Esmeralda abriu os olhos lentamente e encarou o teto do dossel. Sua mente entorpecida pelo sono pesado começou a despertar e a lembrança dos recentes acontecimentos caíram como um balde de água fria.
Com um suspiro pesado, se levantou da quente e confortável cama e se encaminhou para a sacada. Uma brisa suave bagunçou os seus cabelos e deu um beijo gélido em sua pele quente, o suave frescor da manhã era agradável e revigorante. Ela observou o jardim verde e florido, o chilrear dos pássaros alegres e o sol despontando no horizonte trazendo luz ao mundo novamente.
Não havia indícios do inverno frio das montanhas, muito menos a neve alva que cobria o chão e os campos ao redor, apenas o verde vivo era visível. Apesar de detestar o inverno, ela sentiu falta da neve, pois aquilo a lembrava da distância que estava do condado e de sua família.
Esmeralda ficou na sacada por um longo tempo, até que o sol estivesse em seu auge e o céu tomado por um azul-celeste. Apenas saiu devido à chegada da empregada que trazia consigo uma bandeja de café da manhã. A jovem a cumprimentou com um sorriso e agradeceu pela refeição.
– Milady, gostaria que citasse sua agenda do dia? — Cora perguntou enquanto Esmeralda despejava o chá de alecrim aromático em sua xícara. Esmeralda parou sua ação subitamente e lançou um olhar surpreso para Cora, afinal mal acabara de chegar ao ducado! Com um breve meneio, deu permissão para a empregada citar suas obrigações do dia — agora de manhã o mordomo irá lhe apresentar a mansão de Kingborn, às 12h00min a milady almoçará com o duque e a Lady Safira. A partir das 13h00min lhe será apresentada a professora de etiqueta e às 17h00min a milady tomará chá da tarde com a lady Safira. Às 19h00min será o jantar, com o duque e a lady Safira. Se algo na agenda não for do seu agrado, o duque lhe pede para conversar com ele.
Após um suspiro resignado, agradeceu e recusou a oferta de conversar com o duque. Esmeralda não queria causar transtornos ao Cassin por algo tão trivial, apesar do breve sobressalto, de toda a agenda havia apenas uma única tarefa que lhe fora de fato designada: a aula de etiqueta, algo que detestava profundamente, mas que com o tempo começou a relevar. Agora, como filha de um duque, sabia que aquelas aulas lhe seriam essenciais.
Esmeralda goleou o chá quente e se preparou para o dia que se seguiria.
O mordomo Kinsley lhe apresentava cada espaço da mansão eloquentemente e com deferência. Ele expunha desde a arquitetura à história que ali carregava, e quanta história ali havia! Uma geração de quase quinhentos anos deveria ter muita história para contar, assim como a árvore genealógica ocuparia uma parede bem grande.
Cerca de uma hora antes de dar o almoço, o mordomo a liberou para que se aprontasse para a refeição. Sentindo o suor quente escorrer por suas costas, a única coisa que mais ansiava naquele momento era se banhar em água gelada e trocar de roupa.
Ela substituiu seu vestido branco florido por uma peça de cetim de um verde profundo. O decote e a manga eram adornados por delicadas rendas ornamentadas com pérolas pequenas que acompanhavam duas linhas transversais do corpete. A saia rodada era bordada em fios prateados que formavam delicadas rosas. Esmeralda pediu para trançarem seus cabelos que receberam o adorno de um lindo arco de pérolas.
Após uma última checagem em seu reflexo, Esmeralda partiu para a sala de Jantar. Seria a primeira vez que conheceria a irmã mais velha. Seu coração batia freneticamente. Duvidas começaram a surgir acerca de sua irmã. Como ela seria? Iria recebê-la bem? Ou quem sabe surgisse alguma rivalidade? Aquelas indagações apenas aumentavam a sua ansiedade conforme se dirigia ao salão.
Assim que atravessou a porta dupla de carvalho, se deparou com Cassim e uma jovem de cabelos loiros conversando afetuosamente. Quando notaram a sua presença, pararam a conversa subitamente. Esmeralda engoliu em seco e se desculpou pelo atraso. O duque sorriu e abanou a mão em um gesto de insignificância e pediu para que se juntasse a eles.
Cassin sentava-se na ponta, como todo chefe de família, a sua direita estava Safira e a sua esquerda, Esmeralda. Devido à localização, a jovem teve a oportunidade de contemplar a irmã mais velha.
A beleza de Safira era sublime. Seus longos cabelos loiros, tão brilhantes como a lua encontravam-se soltos em pequenos cachos. Os olhos eram de um azul profundo e, de fato, suas iris aparentavam ter duas safiras cintilantes.
– É um prazer conhecê-la, irmã, espero que não se importe por te chamar de forma tão íntima — disse docemente com um sorriso amigável despencando de seus lábios avermelhados que Esmeralda retribui prontamente.
— O prazer é todo meu Milady e não se preocupe, me alegro de que me chame de irmã!
— Sendo assim não há necessidade de formalidades, certo? Aliás, fico tão triste por ser encontrada só agora, teria sido tão bom crescer em sua companhia.
— Digo o mesmo, infelizmente cresci bastante solitária. Gostaria de ter tido sua presença em minha infância.
Enquanto as duas irmãs trocavam palavras afáveis, o duque sorria alegremente observando um vínculo sendo criado. A refeição transcorreu tranquila e o medo de que algo desse errado assim que adentrou foi substituído pelo prazer em conversar com alguém com uma idade próxima de si.
– Estou tão ansiosa para chegar a hora do chá, peço desculpas por não ter te convidado pessoalmente, mas não quis te perturbar, você devia estar tão cansada pela viagem! É uma longa jornada até aqui.
– Está tudo bem, eu agradeço pela sua consideração. A propósito, fico feliz de ter uma companhia tão agradável na hora do chá.
E assim a refeição se encerrou com a promessa do chá da tarde. Logo após o almoço, Esmeralda teve um tempo de descanso. A jovem se acomodou em frente a sacada e observou o jardim bem cuidado.
Nos sessenta minutos de descanso que teria, pretendia usá-los para livrar a cabeça de pensamentos ociosos. No entanto, por mais que tentasse manter a mente livre, certos sentimentos e recordações não a deixavam. Ela olhava para o horizonte e só a memória e saudade de seus pais era o suficiente para atordoá-la.
Esmeralda recordou que desde que chegou não teve tempo de escrever uma carta aos seus pais de Bullock, muito menos dado um pedido de desculpas decente pela maneira que os tratou.
A jovem se acomodou na escrivaninha e pegou uma pena de ganso a molhando na tinta preta e viscosa. Ao colocar a ponta da pena no papel branco e imaculado, letras elegantes e cursivas começaram a ser desenhadas formando palavras que se tornavam frases dando origem a sua carta, onde abria todo o seu coração e expunha seus sentimentos mais íntimos, deixando claro o seu arrependimento e a saudade que sentia.
Para a sua infelicidade o tempo de descanso chegou ao fim rapidamente dando início às aulas de etiqueta. Ela prometeu a si mesma que daria o seu melhor para aprender, afinal ela participaria de um baile em breve, algo que nunca cogitou quando era a filha de um conde, e de tão baixo prestígio, mas que se tornou um fato inquestionável ao virar descendente de um duque.
Seus dezoito anos se aproximavam rapidamente assim como o baile de primavera no palácio ao qual deveria participar. Sendo assim não havia escapatória, ela deveria dar o melhor de si para não envergonhar o seu pai, o duque.
Não demorou muito para uma batida soar na porta de sua ante-sala. Esmeralda saiu de seu quarto e caminhou para o cômodo para receber a visita, que não era ninguém mais e ninguém menos que sua professora de etiqueta.
– Lady Esmeralda, eu sou Mirian de Gavins, serei sua professora de etiqueta, espero estar à altura de suas expectativas — a mulher a sua frente curvou-se elegantemente.
– É uma honra conhecê-la, agradeço por se disponibilizar em me ensinar — Esmeralda respondeu com um pequeno sorriso.
Mirian se mostrou muito paciente e bem disposta. Era uma companhia agradável e tentou transmitir seu conhecimento de uma maneira leve e sempre corrigindo sua pupila amavelmente. Com a maneira com que ela lhe tratava, Esmeralda só pode constatar que sua professora amava muito ensinar ou tinha certa deferência por posição social.
O resto da tarde transcorreu tranquilamente e logo havia chegado a hora do chá. Ela estava ansiosa por reencontrar sua irmã, pois finalmente tinha contato com alguém de sua idade, isso é claro, após Lucius.
Assim que colocou um vestido mais leve e com mangas que a protegiam do frio, ela se encaminhou para o jardim
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Atualizado até capítulo 84
Comments
Mary Lima
Aí.meu Deus espero que a irmã não conheça o amigo da irmã e isso venha causar problemas
2024-02-08
1
Abadon007
Estou sem palavras, essa obra é maravilhosa! 😱❤️
2023-07-18
3
Theros
Fiquei surpresa. 😱
2023-07-18
0