As camélias e copos de leite se transformaram em um lindo arranjo que ocupava a mesa de cabeceira de Esmeralda que apreciava pensativamente as perfumadas flores ao seu lado. Era um presente de sua família adotiva, uma resposta à carta que enviara.
Ela pegou o papel de exatos sete centímetros e o releu pela décima primeira vez. "Pedimos as mais sinceras desculpas. Fique bem". Era um pedido de desculpas taciturno e desprovido de qualquer emoção.
Ela esperava ao menos receber uma carta em que explicasse o lado da história do casal de Bullock, mas a única coisa que obteve foi aquele bilhete medíocre. Francamente! Ela expôs os seus sentimentos mais profundos na carta que enviou para eles, o mínimo que deveriam ter enviado era uma carta decente, mas pelo visto não se importavam o suficiente com ela para se explicarem.
Esmeralda colocou as flores de lado e se pôs a observar o jardim que tanto adorava e que ficava de frente para a sua sacada enquanto repensava sobre sua estadia até aquele momento.
Tinham se passado exatos quinze dias desde que chegou ao ducado, sua vida estava pacata e tranquila, seu pai e sua irmã eram muito atenciosos com ela tratando-a muito bem, especialmente Safira que era uma companhia muito agradável. É claro que havia diferenças gritantes entre as duas, mas ainda assim, sua irmã era uma pessoa amável e sempre tornava o seu dia mais alegre. Para quem imaginou que seria um verdadeiro peixe fora d'água, as coisas iam realmente muito bem, exceto que ela se sentia extremamente sufocada com tudo aquilo.
O excesso de etiquetas que tinha de pôr em prática, mesmo que em família, as restrições e limitações que lhe eram impostas, tudo isso a deixava angustiada. Ela queria correr a cavalo, desbravar os arredores e conhecer o mar que não estava muito distante dali e, consequentemente, o porto, mas tudo lhe era tão limitado que se sentia novamente presa em uma gaiola e não importava o quão adorável era sua nova família, parecia que enfrentava os mesmos problemas da anterior.
"Ao menos desta vez tenho Safira", pensou consigo mesma enquanto um pequeno sorriso se formava. As duas tinham o hábito de visitar o quarto uma da outra, passear aos arredores da propriedade e conversar sobre uma infinidade de coisas, mesmo que com opiniões divergentes. Era bem mais fácil ser um passarinho preso quando se estava acompanhado de outro. Bem naquele momento, ela ouviu uma batida soar na porta de seu quarto e respondeu com um sonoro e alto "entre".
– Boa tarde! Está pronta para nossa caminhada... Mas que flores lindas! Não me lembro de ter Camélias, copos de leite sei que temos no lado oeste...
— Recebi dos meus... — ela estava prestes a dizer "pais" e logo se corrigiu — nossos tios.
– Mas que atencioso! Escreveram uma carta? — Safira a indagou ao passo em que se aproximava do jarro a procura do bilhete e o encontrou bem ao lado do arranjo — só isso? — perguntou incrédulo assim que leu a frase.
– Pois é — Esmeralda retrucou com os olhos baixos, era difícil mascarar a dor que sentia, era como se eles não se importassem verdadeiramente com o que haviam feito e, especialmente, com os seus sentimentos que naquela altura estavam arrasados. Safira, notando a melancolia da mais nova, se adiantou para abraçá-la em um gesto de conforto e carinho.
– Não se preocupe, devem estar terrivelmente envergonhados pelo que fizeram e por isso não providenciaram nada mais... apropriado — Esmeralda sabia perfeitamente que Safira receava por dizer "decente", mas apreciou o seu tato e especialmente o carinho que recebia.
– Muito obrigada, fico muito feliz de te ter ao meu lado — Esmeralda agradeceu com o coração um pouco mais leve devido ao consolo recebido.
– Muito bem, agora vamos fazer a nossa caminhada? Quero te mostrar o labirinto, tenho certeza de que vai adorar! — Safira se afastou gentilmente da irmã enquanto anunciava os seus planos para aquela tarde com um largo sorriso, Esmeralda não conteve a pequena risada que escapou ao observar o entusiasmo da mais velha e logo as duas iniciaram o seu passeio. É claro que seria bem mais emocionante se pudesse ser feito além da propriedade, mas sempre que insinuava algo, sua irmã ou o seu pai sempre desconversavam e chegou em um ponto que ela percebeu que eles não queriam que ela saísse tão cedo da mansão, o motivo ainda não era bem claro, mas optou por deixar de lado, pois muito em breve estaria indo de encontro a capital debutar, sendo esse o principal assunto entre as duas moças.
– Estou tão animada para que conheça as minhas amigas! É raro nos encontrarmos devido à distância entre os territórios, mas tenho certeza de que irá se divertir bastante com elas. A propósito, o seu vestido está quase pronto, não gostaria de dar uma olhada? — Safira sugeriu com um largo sorriso.
– Quem sabe outro dia... — ela tentou encontrar uma desculpa para fugir de uma possível série de provas de roupas que detestava. Sua mãe adotiva tinha o hábito de fazê-la experimentar diversas peças para no fim escolher apenas uma. Para a jovem, aquilo era extremamente exaustivo e chato. Ela confiava no gosto da irmã mais velha para saber que independentemente do que ela escolhesse, com toda a certeza seria algo à altura do evento — você sabe quanto tempo teremos na capital? Tenho alguns lugares que adoraria conhecer! — Esmeralda perguntou em uma tentativa de mudar de assunto, mas com genuína curiosidade, entretanto, não esperava pela reação inesperada de sua irmã mais velha que apenas desviou o olhar — Safira? Está tudo bem?
– Bem... Sim, mas é que terei de ficar mais tempo na capital — ao ouvir os dizeres de sua irmã, Esmeralda sentiu seu coração bater fracamente.
— Quanto tempo?
— Isso é... Eu não sei, talvez três meses, seis meses, até mesmo um ano.
– Eu não entendo... Por que tanto tempo? — perguntou confusa com tudo aquilo. Ela via a história se repetir novamente diante de seus olhos. Ela conhecia e se aproximava de alguém e então essa pessoa era subitamente tirada de sua vida. Parecia ser a sua sina ser afastada das pessoas em que se apegava.
– Fui convocada para ser uma das damas de companhia da rainha, não posso recusar um convite como esse.
– Eu... — Esmeralda começou a falar receosa, sem saber o que dizer ao certo, estava tão abalada com a informação que sua voz parecia ter sido suprimida — entendo — disse por fim — sentirei muito a sua falta, adoraria estar com você no palácio — e era mesmo verdade, por mais que o duque fosse um pai atencioso, Esmeralda não queria ficar presa naquela gaiola sozinha. Safira foi a razão para que não enlouquecesse ao ser trancafiada novamente.
– Bem, talvez você possa — Safira começou hesitantemente, ela queria observar a reação da caçula para sugerir a proposta que tinha em mente.
– O quê? — ao ver o brilho surgir nos olhos de Esmeralda, ela abriu um sorriso e prosseguiu:
– Você pode ficar no palácio como dama da corte, não há nada a se fazer, exceto participar das reuniões sociais, eventos e bailes. O que me diz? — um enorme sorriso surgiu nos lábios de Esmeralda que começou a repetir o "Sim" empolgadamente. As duas começaram a rir com a possibilidade de continuarem juntas na capital e logo, Esmeralda divagava sobre as aventuras que viveria naquele lugar ao lado de sua irmã.
Ir para o palácio e viver em meio a corte era o sonho de toda aristocrata. Qual moça não gostaria de viver no palco onde as fofocas pareciam alimentar o lugar? Viver em meio às mais novas tendências de moda e é claro, o palco dos maiores eventos do reino? Era uma honra participar e servir a corte. Esmeralda não se importava com as tendências de moda ou com as fofocas que rodeavam o lugar, ela queria apenas e unicamente se aventurar e conhecer o mundo, e que lugar melhor do que a corte palaciana?
Mas a pobre garota ingênua não sabia o lugar perigoso em que adentrava. Entre a grandeza e beleza do lugar, havia um jogo traiçoeiro sendo realizado. Cada gesto tinha um significado além por trás, alianças eram feitas, casas destruídas e reputações arruinadas, tudo movimentado pela ambição em angariar poder e riquezas.
Entretanto, nada daquilo se passava por sua cabeça, a única coisa que de fato ansiava era pelo dia em que finalmente partiria para a sua mais nova aventura e, para a sua sorte, o tempo voava rapidamente.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 84
Comments
Mary Lima
tenho minhas dúvidas.
tomara que Esmeralda tenha um anjo protetor no Palácio
2024-02-08
1
Rosangela Lelis Pedro
Será que foram eles mesmo que escreveram?
2023-10-02
3
dziyyo
Só queria poder abraçar o autor por ter criado algo tão incrível!
2023-07-19
0