Naquele momento, ela não sabia se deveria agir normalmente ou se retratar. " Já estou na lama mesmo, é melhor que deite e role", pensou consigo mesma enquanto abria um sorriso.
— Não, só estava pensando que deveria considerar que houve uma subida em sua hierarquia, afinal está carregando uma jovem indefesa como eu. É um ato heroico afinal.
— Tem toda a razão, carregar uma jovem tão temperamental é motivo de honrarias.
— Assim como eu ter de aguentar um homem tão mal humorado quanto vossa alteza.
— Eu já me retratei, por acaso deveria reverenciar para pedir suas desculpas de modo adequado? - ao insinuar a ação, Henric se curvou levemente e Esmeralda, temendo cair no chão, se agarrou nele.
— Não há necessidade, eu te perdoei, fique tranquilo — disse apressadamente, ansiosa para que ele voltasse à posição normal. Ela ainda receava cair a qualquer instante, mesmo que sentisse os braços de Henric a segurando firmemente.
- Fico tocado pelo seu bom coração... Então\, onde é o seu quarto? - Ele perguntou assim que terminou de subir o terceiro lance de escada\, para a surpresa de Esmeralda\, que estava tão imersa em sua conversa com o homem que não notou que subiam as escadarias.
– Aqui já está bom o suficiente, muito obrigada - disse enquanto fazia menção para descer, entretanto ele a apertou contra si impedindo-a de sair.
– Eu te levo até lá.
– Não precisa - rebateu constrangida, era muito estranho ser levada até o seu quarto sendo carregada por um homem. Era uma situação que a deixava desconfortável.
– Insisto - após tanta insistência e sabendo que se encontrava em desvantagem, Esmeralda simplesmente desistiu de lutar contra ele e começou a guiá-lo até a localização de seus aposentos. Quando finalmente chegaram até a porta de madeira que daria para o interior de seu quarto, o homem a colocou no chão.
– E eu achando que iria abrir a porta e me colocar deitada em minha cama – gracejou enquanto se apoiava em uma parede próxima a si.
– Não sabia que tinha pensamentos tão profanos Lady Esmeralda – um sorriso largo se espalhou pelo o rosto de Henric e, de início, a jovem ficou sem entender o que ele insinuava, até que passado algum tempo ela compreendeu o sentido conotativo que sua frase poderia ter. Esmeralda corou no mesmo instante.
– Eu não queria dizer nesse sentido – se apressou em se defender, mas o homem apenas riu o que a deixou ainda mais envergonhada. "Só quero que essa noite acabe logo", pensou consigo mesma refletindo sobre o desastre de seu primeiro baile e por todos os constrangimentos que passou em uma única noite.
– Não se preocupe, eu estava apenas brincando com você. Tenha uma boa noite - Henric se despediu calorosamente e Esmeralda abriu um pequeno sorriso.
- Muito obrigada\, tenha um bom descanso - dito isso\, ela abriu a porta de seus aposentos e adentrou ansiosa por tirar aquela roupa pesada e desconfortável.
Esmeralda tateou até as suas costas em busca da trilha de botões que prendia o vestido em seu corpo, desajeitadamente, ela começou a desabotoá-los, mas era uma tarefa impossível de se fazer sozinha.
Ela olhou para a corda que pendia ao lado de sua cama e começou a ponderar se deveria puxar ou não para convocar a sua empregada pessoal, ela não queria acordar a pobre Rizza para ajudá-la a tirar um vestido, mas estava se sentindo sufocada com ele.
Hesitantemente, ela puxou a corda e esperou por alguns minutos até que a figura de Rizza surgiu pela porta.
– Deseja algo milady? – uma mulher de pele caramelizada e cabelos castanhos presos em um coque modesto entrou no quarto. Apesar da simplicidade com que se vestia, a sua beleza se destacava e atraia o olhar de qualquer um que passasse.
- Sim\, eu sinto muito te chamar só para isso\, mas pode me ajudar a retirar o vestido? - Esmeralda a perguntou enquanto se virava de costas para a mulher mostrando a desordem que havia causado nos botões.
- Mas é claro milady! É meu dever ajudá-la - Rizza se adiantou para auxiliá-la a retirar o vestido que usava\, revelando o pé inchado e avermelhado - minha Deusa! O que aconteceu com o seu pé? - indagou enquanto ajudava a jovem a se sentar.
- Acho que torci o tornozelo\, será que pode pegar o kit de primeiros socorros?
- Devemos chamar um médico milady\, isso pode ser sério.
- Não se preocupe Rizza\, já torci o tornozelo antes\, só preciso dos itens necessários\, não há por quê incomodar o doutor a essa hora da noite por algo tão insignificante.
- Se é o que deseja - Rizza fez uma breve reverência e partiu a contragosto\, ainda achava que era necessário chamar um médico\, mas não poderia ir contra as palavras da lady de Kingborn.
Passados alguns minutos, Rizza ressurgiu acompanhado de um médico, entretanto não era um simples doutor e sim o responsável por tratar os ferimentos da família real. A jovem ficou boquiaberta com a sua presença e lançou um olhar confuso para a empregada que se explicou rapidamente:
- O grão duque exigiu que eu levasse o médico até você\, e ele acrescentou que se recusasse a oferta ele mesmo viria para garantir que fosse atendida.
- Mas ele é... - Esmeralda estava prestes a praguejar quando se lembrou de que o médico real a encarava. Ela suspirou profundamente e decidiu ignorar o fato - está bem\, muito obrigada Rizza.
- Boa noite milady\, será que posso analisar o ferimento? - o doutor a perguntou gentilmente e somente após a confirmação de Esmeralda\, ele se ajoelhou no chão e começou a analisar o seu pé.
Naquele mesmo instante, Safira irrompeu no quarto à procura da irmã caçula que estava ferida. Seu rosto estava corado e levemente suado indicando que ela havia corrido até o seu encontro.
– Esmeralda! – Safira exclamou indo de encontro a caçula que vestia um robe branco e estava sentada na poltrona sendo analisada pelo médico.
– Estou bem, fique calma – a jovem tranquilizou Safira com uma voz mansa e sorriso afável no rosto.
– Eu fui te procurar quando a dança terminou, mas você não estava lá. Perguntei por você e me disseram que foi carregada pelo grão duque! Onde ele te levou?
– Acalme-se Safira, está muito afobada. Quanto ao Grão Duque, ele é um bom homem. Bem, quando não está ranzinza e mal humorado – respondeu com uma risadinha, entretanto sua irmã lhe lançou um olhar sério que a fez calar no mesmo momento.
– Aquele homem é impiedoso. Ele não pensaria duas vezes antes de matar alguém. Ele é frio e cruel. Sabe qual o apelido dele? Lâmina da morte, e isso não é à toa.
– Oh, por favor, são só rumores.
– Se ele te tratou gentilmente é porque ele tinha segundas intenções
– Safira! - a caçula exclamou escandalizada.
– Ele não fez nada com você? Não sente dor em nenhum lugar? – Safira se agachou ao lado de Esmeralda enquanto lhe observava atentamente.
– Apenas em meu pé e isso porque eu o torci. Acalme-se, nada aconteceu.
– Isso é um alívio. Se algo tivesse acontecido você jamais conseguiria um marido e teria que ser exilada – Safira acariciava as madeixas de sua irmã como se tocasse algo precioso e frágil, que se desfaria a qualquer momento.
– O quê?
– Sim. Talvez você não saiba, mas no ducado de Kingborn quando uma das filhas perde a honra e a pureza antes do casamento é exilada para uma propriedade nas montanhas onde é guardada por eunucos e empregadas.
– Ela vive na miséria?
– Não, mas perde toda a honra. E viver confortavelmente sem dignidade é o pior castigo que pode existir.
_ Não me parece assim tão ruim... Ai! – ela exclamou ao sentir uma pequena dor em seu tornozelo que estava sendo examinado pelo médico. Enquanto ela discutia com Safira havia se esquecido da presença do homem e de sua empregada.
– Me desculpe milady, estava analisando a fratura.
– Tudo bem.
– Como você pode dizer algo assim? Acaso enlouqueceu? – Safira se levantou de forma abrupta encarando sua irmã em descrença.
– Não. Só acredito que não seria tão ruim assim, afinal eu preferia isso a me casar com um homem que me agrediria sempre.
– Mas para estar lá você precisaria perder a sua honra, na verdade só um rumor é o suficiente, acha isso bom?
– Bem, se formos comparar com outras possibilidades talvez essa seja melhor.
– Eu não acredito no que estou ouvindo.
– Milady Esmeralda, me dá um segundo para te passar o seu diagnóstico e tratamento? – o médico as interrompeu fazendo com que o olhar de ambas fosse voltado para o pequeno homem que parecia inabalável pelos olhos em chamas de Safira.
– Claro.
– Milady apenas torceu o tornozelo, deverá ficar de repouso e evitar andar ao máximo. Prescreverei os medicamentos e entregarei para a sua empregada. Qualquer coisa é só me chamar. Adeus – o médico disse rapidamente, provavelmente ansioso para sair daquele ambiente opressor que havia se tornado com a discussão das duas jovens. Após se despedir fez uma profunda reverência e se retirou chamando Rizza para acompanhá-lo a fim de lhe passar os medicamentos.
Sozinhas, Safira suspirou e aos poucos seus olhos que antes pareciam uma verdadeira tempestade estavam calmos e pacíficos como um lago.
– Eu só te peço, tome cuidado com suas ações, a partir de agora tudo o que fizer poderá ser usado contra você. Pense bem – Safira depositou um beijo na testa de Esmeralda e se retirou.
Finalmente sozinha, se estirou na cama e encarou o dossel. Mas que dia mais estranho. Enquanto discutia com sua irmã, nem percebeu que o médico enfaixou seu tornozelo. Ela olhou para o seu pé enfaixado e ponderou sobre as palavras de sua irmã. A lâmina da morte. O Grão duque era chamado de "Lâmina da morte". Era um apelido tosco, verdade seja dita, mas nem por isso era menos assustador.
Por um momento se questionou do porquê daquele apelido, não havia guerras no reino e pelo que ela sabia nem mesmo no ducado Douvier, então de onde originou essa nomenclatura? Ele não parecia um homem mal quando não estava de mau humor, já sobre sua aparência Esmeralda não poderia dizer muito, afinal quase não viu seu rosto e tinha certeza que se o encontrasse de novo não o reconheceria. De qualquer modo, em breve ele voltaria para a sua terra e não o veria mais. Absorta em seus pensamentos nem percebeu em que momento entrou em um sono profundo.
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Atualizado até capítulo 82
Comments
Mary Lima
Estou gostando do desenrolar desta história /Good//Good//Good//Good//Good//Good/
2024-02-08
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