Capítulo 9

- Mil perdões! Eu não sabia que tinha alguém atrás de mim\, peço humildemente que me perdoe — se desculpou rapidamente temerosa que tivesse desrespeitado alguém da alta nobreza.

- Não há importância\, acidentes acontecem\, espero que apenas não se repita — o estranho em que trombara aparentava ser um homem devido ao tom de voz\, contudo ela não ergueu o seu olhar para encará-lo por vergonha do pequeno incidente.

- Não acontecerá\, garanto. Com sua licença — se despediu ansiosa por se afastar rapidamente antes que cometesse mais algum erro que a deixasse em apuros.

- Espere — após o pedido do homem\, ela parou a contragosto e se virou lentamente\, mas seu olhar permaneceu baixo o tempo todo — o que fazia aqui sozinha? — ao ser indagada\, ela levantou instintivamente o olhar para encarar a face do homem\, mas era impossível distinguir os seus traços devido às sombras que o envolviam.

— Apenas vim tomar um pouco de ar.

- Apenas isso? — no mesmo instante\, Esmeralda franziu as suas sobrancelhas\, ultrajada com a entonação empregado pelo estranho como se ela estivesse aprontando alguma coisa.

- E quanto ao senhor\, o que fazia aqui? — o questionou em um tom desafiador. Ela já não se importava com quem falava e muito menos se estaria sendo desrespeitosa.

— Tomava ar também.

— Apenas isso? — o indagou de volta sarcasticamente. Ela esperava que ele fizesse alguma objeção, mas para a surpresa, ele apenas riu.

— Muito bem, acho que me pegou. Peço desculpas se fui grosseiro, mas é bastante suspeito que uma moça saia em seu primeiro baile para um jardim escuro e vazio.

— Por acaso é crime querer tomar um ar fresco?

— Não, não é. Peço desculpas novamente pela minha grosseria. Pode ir aproveitar o seu baile — "Mesmo pedindo desculpas, ainda é muito arrogante", a jovem pensou enquanto partia sem pronunciar uma única palavra. Estava ultrajada com a prepotência do homem e decidiu querer manter distância dele.

Esmeralda retornou ao baile a contragosto. Apesar de estar a pouquíssimo tempo no evento, se sentia cansada pelo esforço empregado em manter uma boa aparência, jamais imaginou que uma festa seria tão entediante e cansativa como aquilo!

Ela retornou ao grupo da irmã mais velha que não notou a sua chegada, pois estavam envolvidas em uma conversa calorosa e intrigante:

– Você soube que a rainha tem estado reclusa em seu quarto? Pobre mulher! — Cora comentou diminuindo sua voz em alguns tons. Esmeralda não sabia exatamente como aquele assunto chegou, então ela percorreu os seus olhos pelo salão a procura da rainha e a encontrou. Ela estava sentada em um dos pares de trono que ficava localizado no extremo do salão. Sua beleza era estonteante, a mulher possuía cabelos dourados tal qual o sol na tarde de verão e seus olhos eram de um verde levemente castanho, contudo toda a sua beleza altiva estava mascarada por uma cicatriz de tristeza e desolação, apesar de seu porte ereto de alguém do mais alto escalão, era perceptível que tudo não passava de uma farsa e que, no fundo, a dor a consumia por completo.

– Mas é compreensível, ela perdeu absolutamente tudo em uma noite só. Meu pai me disse que os nobres não a levam a sério e ignoram todas as suas opiniões desde que o rei morreu — outra acrescentou enquanto olhava disfarçadamente para Catelyn.

— Pobre mulher! Com toda a certeza o jovem rei quer distância dela, ele nem está no trono — uma lady observou fazendo com que todas assentissem em concordância.

Esmeralda achava repugnante a maneira como aquelas mulheres diziam coisas horríveis sobre alguém que mal saíra do luto, era no mínimo desrespeitoso e insensível dizer palavras odiosas como aquela. Ela se sentia terrível por ter de socializar com aquele tipo de gente.

A conversa entre o grupo começou a se ramificar para outros assuntos e em algum momento, Esmeralda simplesmente deixou de ouvir. Estava cansada daquele evento que parecia não ter fim e o seu maior desejo naquele momento era partir de volta para o quarto. Ela só voltou a si quando sentiu o toque de Safira sobre seu braço direito a puxando para um canto.

– Vários cavalheiros com idade de se casar dançarão com você, é o regulamento que as debutantes dancem com todos os homens disponíveis no baile, então tome cuidado, pois muitos aqui tentarão te galantear com segundas intenções. Boa sorte — após o breve conselho, Safira se distanciou rapidamente deixando Esmeralda sozinha e perdida.

Ela notou que sua irmã a puxou para o meio do salão onde já se encontrava uma quantidade considerável de jovens que aparentavam certa empolgação, ao contrário de Esmeralda que tinha uma expressão de desespero estampada em sua face.

A jovem tinha ciência de que dançaria com um ou dois cavalheiros, mas não imaginava que seria com todos os homens solteiros presentes no baile, era uma verdadeira prova de resistência! Ainda mais quando os saltos que usava começavam a doer e incomodar o seu pé, além do vestido pesado que usava.

Gradualmente, Esmeralda notou que havia uma música em específico ecoando pelo salão e conforme as notas eram tocadas mais jovens e cavalheiros se aproximavam.

A melodia aumentava lentamente conforme homens e mulheres se agrupavam no centro do salão. Era um som puro e angelical que Esmeralda certamente apreciaria se não indicasse a dança lenta que seria realizada.

Nos dois extremos do salão havia fileiras, de um lado, homens e do outro mulheres. Com todos prontos para iniciarem a dança, a nota foi trocada para os pares iniciarem os passos coreografados. Sob a nota aguda de um violino, os casais se aproximaram e somente quando os homens tomaram as mulheres pelas mãos os outros instrumentos iniciaram os seus acordes dando origem a um som muito agradável. Havia notas agudas do violino e outras graves do piano, assim como breves dedilhados. Ao som da melodia a dança começou.

O primeiro par de Esmeralda era um homem calado, suas madeixas ruivas atraiam os olhares. A dança entre os dois prosseguiu com uma distância respeitosa. Ela agradeceu pela sorte de ter um par como aquele. Como era agradável o silêncio!

A música chegou ao fim e outra começou, então trocou-se os pares. Por sorte, os arranjos músicais eram breves e durava menos de dois minutos, mas ainda assim era uma tortura para a jovem que sentia o seu pé pulsar de dor.

Por sorte, em nenhum momento teve de dialogar com seus parceiros que pareciam tão animados quanto ela para exercer aquela tarefa, mas para o seu azar isso se estendeu até o seu terceiro par, pois o quarto...

– Milady é muito linda, qual o seu nome? — ela dançava com o conde que Safira havia lhe falado. Bourne. Aquele que devia as calças.

– Esmeralda, Sir — respondeu mal-humorada pela ousadia daquele homem. Embora sua aparência fosse bela, seus modos deixavam a desejar e seu toque a enojava.

– O nome de uma bela joia caí bem em milady, tão bela quanto uma joia! — Esmeralda estava tentada a revirar os olhos diante daquela fala estúpida, mas se conteve em murmurar um agradecimento cordial:

— Agradeço pelo seu elogio Sir.

— É o seu primeiro baile, suponho? — Esmeralda quase quis rir da pergunta estupida. "Ora, se estou sendo obrigada a dançar com você é porque é meu primeiro baile!", pensou furiosa tentada a dar voz aos seus pensamentos, mas se limitou a responder brevemente:

— Sim, Sir.

— E está gostando? — apesar de suas respostas curtas e diretas, o homem insistia em manter um diálogo que a irritava profundamente. No momento em que foi puxada para perto, ela sentiu a mão do homem descer alguns palmos de onde deveria estar e ela deliberadamente pisou em seu pé com força ocasionando um ganido baixo do homem. Ela conteve a gargalhada que queria escapar e apenas murmurou um pedido desculpas insincero:

— Mil perdões, Sir, não quis machucá-lo! Sou tão desastrada!

— Não há problemas milady — ele arfou as suas palavras como se tentasse puxar um pouco de ar. Ela notou que ele mancava levemente e se sentiu feliz por pisar forte o suficiente para causar tal dano. "Quem sabe assim ele aprende", pensou satisfeita consigo, mas indo contra as suas expectativas, o homem prosseguiu com sua ousadia — Milady... Talvez após a dança, quem sabe não podemos...

E como se alguma divindade tivesse se apiedado de sua situação, as músicas foram trocadas e os pares também.

Como Safira havia dito, havia poucos homens tentados a se casarem, o que significava que não iriam puxar assunto com Esmeralda. Inclusive, as conversas trocadas durante as danças eram mantidas em sua grande maioria pelas jovens ansiosas pelo casamento. Evidentemente, um ou outro tentava lhe galantear, mas estava claro que não era para casamento e sempre que lhe chateavam, como o Bourne fizera, pisava no pé de seus acompanhantes e caso prosseguissem pisava novamente.

Esmeralda estava tão ansiosa para terminar com aquilo que começava a contar os pares com quem dançava, mas sem reparar muito em seus rostos. Ela estava em seu oitavo par quando um sussurro chegou-lhe no ouvido:

– Pelo visto se esqueceu de mim — a voz grossa que soou de maneira abrupta a assustou fazendo a erguer o olhar. Seus olhos verdes se depararam com um par dourado que estavam fixos nela. Eram irreconhecíveis.

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Mary Lima

Mary Lima

Opa quem será????

2024-02-08

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