– Está noiva? — sua pergunta foi recebida com um sorriso suave e a jovem notou os olhos distantes de Safira enquanto esta lhe respondia:
– Por enquanto não, mas nosso pai vem enfrentando alguns problemas e uma aliança através do casamento é a mais singela que se pode ter.
– Sim... — foi a única coisa que conseguiu dizer para o comentário de Safira. A ideia de se casar daquela maneira ainda não lhe era muito bem quista e precisaria de um tempo para se conformar com aquilo.
– Não fique assim. Como nobre é nosso dever garantir a prosperidade de nossas casas e a melhor maneira é o casamento e o parto, essas são as maiores dádivas de uma mulher — Safira tentava consolar Esmeralda, mas sem sucesso, em realidade suas palavras surtiram um efeito completamente contrário.
Ela não gostava da ideia de se tornar apenas um mero objeto que seria usado. Durante toda a sua infância, foi ensinada para herdar terras e comércios que deveria saber administrar quando adulta e sabia que quando aquilo ocorresse a liberdade estaria em sua porta pronta para ser aproveitada e só então pensaria na ideia de se casar, mas somente por amor. Pois, no fundo, Esmeralda queria ser amada e amar também.
A jovem sempre teve ciência dos obstáculos que poderiam surgir devido ao seu gênero, mas estava disposta a enfrentá-los, pois era um preço pequeno pela liberdade que teria... Mas tudo mudou.
Ela não mais seria um ser independente como tanto almejava e sim se tornaria a propriedade de um marido que seria escolhido apenas pelo bem de sua casa. Tudo era muito frustrante e não gostava de pensar profundamente sobre o assunto, pois sabia que rapidamente o seu mundo seria desfeito. Ela gostava das coisas como estavam naquele momento e não pretendia se preocupar com um futuro que parecia tão distante.
- Ah! Adoro essa música\, é tão bela! — Esmeralda exclamou tentando mudar rapidamente de assunto. Não queria que seu primeiro baile fosse um desastre por conta de seus receios despertados por uma simples conversa. Por sorte\, Safira se deixou levar pelo assunto e ambas iniciaram um diálogo agradável.
O baile estava em seu início, as duas conversavam animadamente e com o decorrer do tempo, algumas damas se aproximavam para conversar com as duas irmãs, e de início todas faziam algum comentário acerca da recente descoberta de Esmeralda.
_ Safira! Como tem estado? Há muito que não nos falamos, é um prazer revê-la novamente — uma das moças se adiantou para dar um abraço afetuoso ao qual Safira retribuiu na mesma intensidade.
- É um prazer revê-la novamente Cora\, Calina\, Sina e Farine — Safira estendeu seus cumprimentos para as outras jovens que acompanhavam Cora. Esmeralda se lembrava vagamente da descrição que sua irmã fez acerca de cada uma delas\, contudo sabia que elas eram as amigas que Safira queria tanto lhes apresentar.
- Ora ora Safira\, você se manteve tão distante de nós que pensávamos que estivesse se escondendo\, ou talvez quem sabe\, escondendo alguém — uma das jovens nobres ronronou enquanto seus olhos pousavam em Esmeralda.
— Talvez quem sabe o motivo de seu sumiço repentino tenha sido o aparecimento de sua irmã perdida? — outra sugeriu com um sorriso pequeno de divertimento. Esmeralda se sentia confusa com aquelas palavras doces que tinham um pingo de zombaria, tornava difícil saber se estavam sendo hostis ou não. Safira apenas sorriu de volta e se explicou:
- É verdade que me mantive distante\, a realidade é que com o surgimento de minha irmã quis aproveitar cada minuto possível com ela.
- Então aqui estamos diante da segunda lady de Kingborn? Estávamos muito curiosas acerca de você\, é realmente muito bonita — Cora se virou para Esmeralda com um sorriso cortês\, entretanto ela notou o olhar analítico que a percorria como se a avaliasse. Aquilo fez seu coração disparar.
- É um prazer conhecê-las\, Safira disse muito bem sobre as ladies — a jovem as cumprimentou educadamente\, embora sentisse a palma de suas mãos suar frio.
- Tenha certeza de que o prazer é nosso. Por que não nos diz como foi criada? Estávamos curiosas acerca dos rumores que vêm correndo pela capital desde a sua descoberta — com a sugestão de uma das moças\, Esmeralda olhou de soslaio para Safira esperando a sua aprovação\, o que foi feito por meio de um breve aceno incentivando-a a contar.
Esmeralda suspirou profundamente e começou a narrar parcamente sobre a sua infância até o dia de sua descoberta e, apesar da falta de detalhes proposital, todas escutavam avidamente. Sentir tantos pares de olhos sobre si a deixava nervosa a ponto de tropeçar em algumas palavras e até mesmo a gaguejar. Quando chegou no fim de sua narrativa, uma das damas a questionou:
_ E como se sente agora? Sendo filha de uma das casas mais prestigiadas por todo o reino?
- Acredito que me sinto muito mais feliz por essa família que recebi\, tenho um pai atencioso e uma irmã amorosa e incrível. É muito mais do que eu poderia desejar até então — Esmeralda disse com paixão enquanto seus olhos vagavam em direção a Safira que tinha um lindo sorriso em seu rosto.
- E eu me sinto abençoada por você chegar até nós\, uma pena que demorou tantos anos...
As jovens nobres aparentavam satisfeitas com as informações recebidas e logo adentraram em outros tópicos dando a Esmeralda um tempo para que pudesse organizar suas ideias. Ela sentia o seu coração acelerado devido às emoções que passou, afinal jamais teve que enfrentar uma tarefa como aquela de conversar com tantas pessoas estranhas de uma vez só e ainda mais ser o centro das atenções!
Com o calor que emanava devido à abundância de convidados recentes e o esforço empregado em seu discurso, tudo o que ela mais queria era pegar uma brisa refrescante de ar. Seus olhos vagueavam pelo salão enquanto as moças conversavam e então ela se deparou com uma porta de vidro que dava ao jardim. "Talvez não fará mal sair por alguns instantes" pensou enquanto mordia levemente o seu lábio inferior.
- Vou pegar uma bebida — sussurrou no ouvido da irmã que apenas acenou brevemente. Esmeralda caminhou com passos decididos até o local fresco e sem multidão que a aguardava. Por sorte o seu caminho foi realizado sem trombar com estranhos ansiosos por iniciar uma conversa e logo ela chegou ao seu destino.
A brisa fresca que soprava naquele jardim a aliviou instantaneamente. Ela sentiu que poderia respirar melhor após finalmente se encontrar em um lugar vazio e silencioso como aquele em que o ar corria livremente.
Esmeralda caminhou pelo jardim apreciando o ar fresco. Como adorava a natureza! Parecia que a cada vez que tinha contato com ela, suas energias eram renovadas quase que de imediato. Talvez devido ao tempo em que passou na floresta tenha desenvolvido algum vínculo místico. "Mas que bobagem" pensou consigo mesma enquanto uma risada baixa escapou de seus lábios. Ela apenas gostava por gostar, pela liberdade que o ar livre lhe proporcionava.
Após alguns minutos, sentiu suas forças recarregadas e decidiu que era hora de retornar, embora não gostasse da ideia. Ela estava prestes a se virar quando sentiu que seu corpo se chocava em algo, no caso alguém, por escutar um grunhido baixo de irritação.
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Atualizado até capítulo 84
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