Havia um comichão em sua bochecha. Ela o abanou querendo retirar o inseto que pousava em sua pele, mas o bicho era teimoso, pois logo repousou novamente em sua bochecha e novamente ela abanou a mão. Na terceira vez, ela abriu os seus olhos irritada se deparando com um par dourado que a encarava. Naquele momento, ela sentiu um sentimento de dejá-vu e começou a rir.
— Vai me dizer que sou uma dorminhoca? — supos enquanto o encarava, ainda deitada.
— A maior dorminhoca que já vi — Lucius acrescentou com um largo sorriso. A jovem se levantou para poder conversar de maneira decente com o seu amigo tão querido.
- Eu senti tanto a sua falta\, Lucius — confessou enquanto continha as lágrimas de alegria.
- O que aconteceu com cachinhos dourados? — ele a indagou ao passo em que se acomodava ao seu lado e ela deixou escapar uma gargalhada.
- Preocupado do porquê não te chamei assim? — o indagou com um largo sorriso ao que ele retribuiu prontamente.
— Talvez eu sinta que esteja sendo substituído pela sua querida irmã.
– Então já descobriu a minha verdadeira identidade? Você foi rápido dessa vez - zombou enquanto se lembrava do seu passado ao lado de Lucius e das várias mentiras que teve de contar para mantê-lo ao seu lado.
– Não precisei de muito para descobrir, então? Vai me contar um pouco da sua história?
– Você pede como se já não soubesse de tudo nos pormenores detalhes, afinal sempre foi de seu feitio a curiosidade — o atacou com um pequeno sorriso esperando por uma resposta defensiva.
— Na realidade, minha querida, quem ficava espiando a conversa dos outros era você, não se lembra? — de imediato, Esmeralda corou ao se relembrar da última vez em que se viram e das coisas estúpidas que disse.
— Isso foi baixo…
– Parece que você perdeu um pouco de seu brio, que pena… mas fico feliz ao ver que continua a mesma dorminhoca de sempre.
— Só porque eu estava de olhos fechados aqui…
– Eu não estava me referindo ao “aqui” e sim ao templo — após as acusações de Lucius, ela ficou mortificada de vergonha. Quantas pessoas haviam visto aquele momento constrangedor?
— Mas você viu!
— Todo mundo viu, inclusive estão comentando sobre “a garota que roncava”. O padre parou o sermão várias vezes devido ao seu ronco.
- Mas eu não ronco! — objetou exasperadamente\, mas\, no fundo\, diversas indagações sobre o seu possível ronco começaram a rodar por sua mente a perturbando.
- Ronca e que nem um porco — Lucius prosseguiu animadamente\, parecia feliz por encontrar uma maneira de perturbar a sua amiga.
- Ora seu! — aquilo fora demais e Esmeralda deu um tapa no braço de Lucius. Foi possível escutar o eco mesmo através dos tecidos que compunham a sua manga.
- Ai\, não precisa me agredir — reclamou exageradamente enquanto fazia um teatro onde massageava o braço e reclamava da força de Esmeralda\, que apenas revirou os olhos — Onde estão os seus modos milady? Realmente continua a mesma garotinha de antes\, com a diferença de que cresceu um pouco — o homem comentou ao passo em que apertava as bochechas de Esmeralda e ela deu um tapa em sua mão.
- Não precisa apertar tanto a minha bochecha\, doí\, sabia? — reclamou enquanto acariciava o local que recebeu o beliscão.
- Assim como o tapa que você me deu — retorquiu de imediato e Esmeralda achou graça\, afinal em todas as brigas que tinham ele sempre reclamava da força da menina:
- Fracote como sempre. E então\, o que faz aqui no palácio? — o indagou ansiosa para a briga cessar. Ela não queria que aquele momento de reencontro ficasse marcado por suas intrigas que perduraram desde quando eram crianças.
— Eu não lhe respondo nada até você me contar tudo antes.
– Lucius você já conhece até a minha irmã, está a par de tudo, mas até o momento eu não tenho uma pista de quem você seja.
– E continuará assim — e em seguida ele apertou a outra bochecha de Esmeralda, fazendo com que ela se afastasse rapidamente.
— Por que você fez isso? — o indagou irritada
–Estaava desproporcional, um dos lados vermelho e o outro branco como a morte, agora você está igual uma porquinha - ao dizer o nome do animal, Lucius começou a grunhir como um porco. Esmeralda teria rido da imitação se não estivesse tão brava com a audácia de seu amigo.
- Se você continuar me perturbando… - o alertou com os olhos semicerrados\, mas infelizmente\, o seu aviso surtiu um efeito contrário:
- O que você vai fazer? Me chutar com o seu pé todo torcido e inchado?
- Ele está muito melhor\, a propósito\, você nem se dignou a perguntar como eu estava\, não é mesmo? — comentou em um tom de indignação.
- E porque deveria quando aparenta estar tão bem? De todos os machucados que você já teve\, esse é o mais leve. Lembra de quando quase se afogou no rio?
- É mesmo\, tinha quase me esquecido - murmurou pensativamente conforme a memória do fatídico dia surgiu em sua mente. Se não fosse por Lucius\, ela teria morrido na certa. Após o evento catastrófico\, ela nunca mais ousou entrar no rio quando a correnteza estivesse forte.
- E quando caiu da árvore?
- Eu escorreguei\, e foi só um ralo bem leve — justificou o acidente. Novamente\, ela tinha se machucado por um motivo estúpido\, desta vez porque desejava verificar se não tinha um ninho de passarinho alojado na árvore.
- E o pulso quebrado — ele acrescentou de imediato.
- Detalhes.
- Esme\, eu nunca vi ninguém se quebrar tanto quanto você - observou seriamente. A jovem quase concordou com o fato inquestionável\, porém estava farta das considerações rudes de Lucius.
- Isso por acaso virou uma horda de ofensas contra mim?
- Estou me limitando aos fatos\, querida.
- Tem razão\, talvez eu tenha sido uma menina espoleta - admitiu envergonhada.
- Talvez?
- Ora Lucius!
- Está bem… - Lucius começou a olhar os arredores até que soltou um suspiro profundo e se virou para Esmeralda - Minha querida amiga\, acredito que o tempo está contra nós e eu devo me despedir.
- Mas já? - exclamou decepcionada. Tiveram tão pouco tempo juntos\, apesar das brigas e discussões\, ela amava estar junto de Lucius e relembrar a sua doce infância.
- Não se preocupe\, nos encontraremos logo — apesar de suas palavras confortadoras\, a jovem se sentia triste. Lucius se aproximou dela e depositou um beijo gentil em sua testa\, como era de costume quando crianças. Ela fechou os olhos momentaneamente ao sentir o toque de seus lábios úmidos e quentes em sua testa — até breve — ele se despediu em um murmúrio e então partiu. Esmeralda deitou novamente no banco enquanto recordava com um sorriso os minutos curtos em que teve de volta o seu mais querido amigo.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 82
Comments
Mary Lima
Que mistério a vida de Lucius,estou ansiosa por saber .
2024-02-08
1