Solitária

Hospital- Washington D.C.

POV’s Mabel-

Terça-feira- 07:30 AM.

Nunca me senti tão nervosa em algo. Meus olhos estão tentados fitando o celular. Quero ligar, mas a coragem me falta. Hoje é um dos dias mais piores da minha vida e me encontro aqui prestes a iniciar a primeira hemodiálise. Sinto vontade de ouvir a voz de alguém, alguém que possa me confortar nesse momento, há um vazio imenso, ao está sozinha nessa sala de espera aguardando ser chamada.

Decido ligar. Chama, chama e cai na caixa postal. É normal, minha mãe nunca ia atender uma ligação minha, ela só me suporta por ter me colocado no mundo, mas vínculo mesmo, não temos nenhum. Eu sempre quis atenção dela, mas tudo que levei foi só apunhaladas nas costas. Nunca vou perdoa-lá por ter feito tantas merdas que acabou interferindo quem eu sou hoje. Ela queria que eu fosse igual a ela, quando resolvi seguir os seus passos, eu tornei uma vergonha para a família.

“ Alô, pai!” — o único capaz de me dá afeto, é o senhor Bieber. — “ Não desliga.”— peço, ouvindo o barulho alto soar no fundo.

“ Hey, filha! Quanto tempo?”— seu tom contagiante é tão bom de escutar. Sorrio, podendo ganhar a confiança em saber que um membro da família me apoia. Esse que nunca me julgou, ou sequer me abandonou. — “ Como você está?”

“ Morrendo de saudades, pai. Quando é que o senhor volta dessa missão, hein?”

“ Hoje.”

“ Mentira!”— vibro. ” Ah meu Deus, essa é a melhor notícia! Eu não vejo a hora de te ver e contar as novidades, pai. Têm tantas.”— me alegro, tirando um peso dos ombros ao suspirar aliviada.

Obtenho uma confiança de que nem tudo está perdido. Eu poderei contar com ele no que precisar, isso me dá mais forças para lutar contra a doença. Porque sei que não estarei sozinha nesse momento tão difícil.

A enfermeira avisa que está na hora de ir. Invento uma desculpa qualquer pro meu pai, encerrando a chamada.

Levanto com receio, andando em passos vagarosos, seguindo a mulher de jaleco branco pelo amplo corredor. Estou em uma ala que há vários pacientes com doenças terminais. Fico passando ao redor dos quartos e presenciando cada cena, no qual me pego imaginando, no lugar daqueles enfermos.

— Acho que houve mal-entendido.— interrompo.— Eu paguei para ficar em um quarto particular.

— Sinto muito senhora, mas no hospital este é o único lugar que as máquinas funcionam. Se quiser falar com o médico responsável….

— Não, não precisa, tudo bem. Sem problemas.

Abaixo à pose, engolindo o orgulho e preferindo não gerar uma confusão. É tão irônico a vida, pois na condição que estou, o meu dinheiro não serve para nada. Se eu pudesse trocaria milhões de dólares da minha conta bancária, para ter a minha saúde intacta. Mas como dinheiro não compra tudo, tenho que dividir o quarto com outras seis pessoas desconhecidas que estão enfrentando a mesma doença.

Sou guiada até o canto da parede, para a última poltrona. É um sentimento tão estranho, os olhares fazem eu virar o foco da atenção. Me sento, cabisbaixa, largando a minha bolsa no canto. Aguardo ser atendida e imediatamente outra mulher surge, trazendo o soro.

Posiciono o meu braço, recebendo a picada da agulha e à medicação na veia pelo líquido que derrama vagarosamente. É um sentimento tão grande de humilhação estar nessa posição, não tenho nem coragem de erguer a cabeça, tudo que faço é segurar o choro, com o nó na garganta.

Observo os outros pacientes e sinto um pouco de inveja; todos estão acompanhados, já eu não, não há ninguém que possa segurar na minha mão.

*******************************

POV’s Scarllet/ Giulia

Apartamento.

09:30 AM.

Bato na porta consecutivas vezes, desesperada. Ah meu Deus! Minha nuca dói, tive que vim me arrastando até aqui a pé, porque aquele filho da puta ainda roubou o meu carro.

—Quer quebrar?

A madeira é aberta e adentro sem pedir permissão, ouvindo a adolescente reclamar pela minha invasão.

— É muita cara de pau dessa bicht.

— Anna!— grito, a chamando.

— O que está acontecendo?

Nameless aparece, vindo lá de dentro. Agacho próximo a ele, lhe suplicando por meio de um olhar desesperador.

— Dmitr-y.— gaguejo, tremendo as mãos — Ele, a levou. Acredite em mim!

— Levou quem?—seu tom emite confuso.

— Beba um copo de água com açúcar, moça, você está muito nervosa.— oferece a voz doce, e me arrepio, ao receber o toque da sua mão em meu braço.

Ergo a cabeça, indo de encontro com o olhar doce da mais velha. Gostaria tanto de revelar a minha identidade e abraçá-la agora, eu sinto tanta falta da minha vida antiga.

— Seu irmão sequestrou a Anna, Nameless! — finalmente consigo jogar para fora.

Mama derruba o copo ao ouvir aquilo, ficando pálida.

— Como assim, pegaram a minha filha?

— Essa mulher tá é drogada, vó, não levem a sério o que ela diz. — a Hope me acusa, querendo me pôr como louca.

— Essa safada vive inventando histórias. Deve está assim, porque o macho do ex noivo a abandonou no altar, ninguém a suporta.— a filha da Anna insinua.

— CALA A BOCA, SUA PIRRALHA MIMADA!— a empurro, perdendo a cabeça.— Você não sabe de nada do que está se passando, e nem quem sou eu para está me desrespeitando.

— Olha só vó, ela está agredindo a Mel.— sinaliza a outra ao apontar, fazendo o maior drama.— Essa mulher é uma descontrolada!

— Fica na sua você também!— mando, apontando o dedo para cara da adolescente que me provoca.

A ignoro e vou até o único que possa realmente acreditar na história:

—Nameless, pelo amor de Deus, temos que ir salva-lá o quanto antes!— suplico de joelhos. Mas para minha surpresa, o próprio vira a cara, indiferente.

Arregalo os olhos, indignada.

— Ela é a tua esposa, porra! Tu vai deixar o teu irmão matá-la?

— Já chega de escândalo, aqui é uma casa de família.—a voz madura é repressiva, ao se intrometer. — Peço que por gentileza, mocinha, abaixe esse seu tom. — trata-me mal, preferindo acreditar nas palavras das netas.

Fico sentida, com os olhos lacrimejados, porque a minha própria mãe está me odiando.

— Essa daí desconhece a palavra respeito, vovó, não esquenta a cabeça não. Quando a minha mãe acordar…

— Annabelle está lá dentro?— a interrompo, suspirando aliviada.— Irei falar com ela.

Sigo para o corredor, mas sou impedida pela minha sobrinha que novamente se coloca na minha frente, querendo me intimidar.

— Ela acordou indisposta e não quer falar com ninguém, é melhor que você vá embora Scarllet.

— A Mel tem razão.— reviro os olhos, o encarando perplexa. — É melhor que você volte outra hora.

O que está acontecendo para ele está assim dessa forma? Nem preocupado com a segurança da Anna parece está.

Será que ela já contou que realizou o aborto? É por isso que está puto?

— Tudo bem, eu vou.— assinto, contra a minha vontade.— Dona Selena, poderia pedir para Anna me ligar depois.— fito a mulher de cabelo escuro que continua parada, sem me olhar.

Escuto apenas o silêncio como resposta.

Saio arrasada, olhando o sorrisinho no rosto das duas cobrinhas que conseguiram colocar todos contra mim.

— Tchau, Scarllet, fecha a porta quando sair.— a filha da minha irmã me provoca.

— Se quiser um ombro amigo para chorar, querida, liga tá bom.— a outra (Hope) debocha da situação, gesticulando com a mão um sinal de aparelho celular.— Eu sei como é uma dor de cotovelo.

Volto os meus passos, não conseguindo mais segurar o disfarce. Elas são completamente baixas e mesquinhas, fazem de tudo para rebaixar os outros.

— Mama.— direciono o foco para a única pessoa desta sala que será capaz de me reconhecer. Eu costumava a chamar assim.— Sou eu, Giulia. A sua filha— ela pisca os olhos várias vezes, como se aquilo a deixasse desnorteada.

As outras que até então estavam fazendo chacota, ficam sérias e reagem incrédulas, como se vissem um fantasma.

— Eu não morri. Eu estou aqui, mama. Por favor, não me vire às costas. Anna está correndo perigo de vida e eu preciso avisa-lá. Me deixe entrar lá dentro, antes que seja tarde demais.

— Ela é tão oportunista que está usando a memória da tia Giulia para tirar proveito.

— A tia Giulia não pode nem descansar em paz.

— Juro que eu não estou mentindo, sou eu mesma!— me imponho em alto e bom tom.

— Eu enterrei a minha filha no caixão há 6 anos atrás. Ela está morta. Com licença.

Reage ainda em luto, um pouco seca com a minha confissão, não dando a menor importância para que eu digo. Mama se retira e choro, quando tudo que digo não é levado em consideração. Me arrependo, porque esse não foi o melhor momento. Eu cometi a pior burrada em revelar a minha verdadeira identidade, agora estou ferrada.

************************

POV’s Annabelle Bieber.

— Socorro! Socorro!

Bato na traseira do porta-malas, insistindo em fazer barulho na esperança que alguém escute e chame a polícia. Minha respiração sai descompensada. Procuro ar, mas a sensação é sufocante. Estou ficando sem fôlego. Está tudo escuro, temo não resistir por tanto tempo.

— Por favor, alguém me ajuda!

**********************

POV’s Mabel Bieber.

Na saída do hospital, avisto Dmitry em pé próximo ao seu carro, com a cara de cachorro arrependido. Bufo baixinho, odiando o mico que está pagando ao ficar plantado no meio do sol esperando eu sair. A cena é o cúmulo do ridículo, ele está me perseguindo igual um rato, já estou de saco cheio.

Penso em ignora-ló e passar adiante, porém sei que não será fácil me livrar desse indivíduo chato e para não me estressar depois de horas fazendo hemodiálise, resolvo cumprimentá-lo.

—Hey, aí?— dou beijo no canto da sua bochecha, inclinando a cabeça.

Ele aperta a minha cintura, puxando-me para um abraço. Inalo o cheiro forte do seu perfume masculino, afundando o rosto em seu pescoço.

— Quero me desculpar sobre ontem, estava fora de si.

— Eu sei, é normal, todo mundo surta de vez em quando. O seu único problema foi querer se meter nos meus assuntos. Eu não tolero que ninguém se meta onde não é chamado. Eu sempre me virei sozinha, nunca precisei depender de ninguém, não será agora que irei precisar. Eu vou atrás de um doador, não se preocupe.

— Eu já achei um.

Afirma e o olho desconfiadamente.

— Quem?

— Não queira saber, apenas entre no carro que do resto eu cuido.

— O que você está aprontando, hein, Dmitry?

— Eu não disse que ia achar um doador, Mabelzinha, eu consegui um!

— Como?

Desconfio ainda mais das suas intenções.

— Eu paguei.

— Quanto?

— Será um presente do dia dos ficantes, não posso revelar, é surpresa. Aposto que você vai amar receber um coração novo— reviro os olhos, segurando o riso, com o bico nos lábios.— Não faça essa cara, baby, você não irá morrer. A sua doença será apenas mais um capítulo. Podemos até deixar o mundo do crime e sermos uma dupla improvável. Eu sei que você está afim de mim, eu sou o homem do seus sonhos— entrelaça as nossas mãos, fazendo-me ficar balançada. — Eu estou tão louco por você, Mabel. Eu faço qualquer coisa, para ter sua atenção.

— Até mesmo matar por mim?

— Isso não resta dúvida.— sussurra baixinho, fazendo a confissão, estando completamente hipnotizado com a minha beleza.

Seus olhos penetrantes, brilham fortemente em minha direção. Reajo sorrindo ao enxergar o seu olhar apaixonante, sinto o meu coração querer sair pela boca. As pernas estão bambas e surge o friozinho na barriga.

Sem hesitar, me entrego ao beijo cheio de desejo. Pela primeira vez em muito tempo, alguém está conseguindo arrancar sorrisos sinceros meus e mexer com o meu coração.

Talvez seja apenas carência, mas confesso que estou achando fofo em ele querer cuidar de mim, mesmo com o meu diagnóstico tão péssimo. Não faço a menor ideia até quando esse rolo vai durar, possivelmente até o meu cabelo começar a cair com a quimioterapia, mas estou disposta a dá-lo uma chance e aproveitar os últimos meses que me restam.

— Está ouvindo esse barulho?— pergunto, escutando às batidas.— Está vindo do porta-malas do seu carro.

Mais populares

Comments

Neta Souza

Neta Souza

ele não pode fazer isso com s Anna alguém tem que salvar ela

2023-11-26

1

Iara Drimel

Iara Drimel

Estou com dó e preocupada com a Scarlet. Mas acho que ninguém levou a sério a sua confissão, ou talvez apenas Namelles. E ninguém ouviu a Scarlet e Annabele foi realmente sequestrada, porém a Mabel vai livrá-la de Dimitri, ela não permitirá que mate a irmã para ela viver. Situações complicadas; Annabele magoou Namelles e ela tem toda a família para cuidar. Scarlet entregou seu disfarce e ninguém acreditou, Mabel está assustada e com medo. Agora resta Dimitri que só sabe usar da violência. Namelles vai salvar Annabele? E muita emoção!

2023-07-16

4

Eni Urias

Eni Urias

não quero nem comentar nada

2023-07-16

1

Ver todos
Capítulos
1 Personagens
2 Julgamento
3 Peraí, vão abrir o caso de Giulia?
4 Hospital
5 Noivo?
6 Dizer adeus também faz parte
7 Quem é?
8 Casamento
9 Lua de mel
10 Casa branca
11 Eu não vou perder você
12 Solitária
13 Floresta
14 Ciúmes?
15 Eu já sei de tudo
16 Revelação
17 Que os jogos comecem!
18 Cadê, Nameless?
19 Porque ele é o alvo mais fraco deles
20 Eu fui roubado
21 Você não deveria nem ter nascido
22 Você não tem querer
23 Eu sei que você jamais me trairia
24 Você se apaixonou primeiro, como também preferiu dizer adeus primeiro
25 Ele nunca vai ser feliz com você
26 E você que vai matar
27 Divórcio?
28 E serei o último
29 Dormirá comigo hoje
30 Estou mesmo grávida
31 Iremos até a cena do crime
32 A nossa noite será inesquecível
33 Você é um monstro
34 O meu coração pertence a outro
35 O que você está tramando?
36 Você acabou com a minha vida
37 Eu quero que possamos ser uma família
38 Você nunca incomoda
39 Meu bebê
40 Já pediu autorização a sua esposa?
41 Eu só quero ser amada
42 Depende do seu sim.
43 Dói muito amar uma pessoa e ser rejeitada por essa pessoa
44 Eu te amo
45 Eu vou embora
46 Tá na hora de revelar toda a verdade
47 Lutando contra a vida
48 Eu não cedo a chantagem
49 Ele queria te ver morta!
50 Aceita dançar comigo essa dança?
51 Quando foi que você descobriu que me amava?
52 Último capítulo da terceira temporada
53 Nova temporada
Capítulos

Atualizado até capítulo 53

1
Personagens
2
Julgamento
3
Peraí, vão abrir o caso de Giulia?
4
Hospital
5
Noivo?
6
Dizer adeus também faz parte
7
Quem é?
8
Casamento
9
Lua de mel
10
Casa branca
11
Eu não vou perder você
12
Solitária
13
Floresta
14
Ciúmes?
15
Eu já sei de tudo
16
Revelação
17
Que os jogos comecem!
18
Cadê, Nameless?
19
Porque ele é o alvo mais fraco deles
20
Eu fui roubado
21
Você não deveria nem ter nascido
22
Você não tem querer
23
Eu sei que você jamais me trairia
24
Você se apaixonou primeiro, como também preferiu dizer adeus primeiro
25
Ele nunca vai ser feliz com você
26
E você que vai matar
27
Divórcio?
28
E serei o último
29
Dormirá comigo hoje
30
Estou mesmo grávida
31
Iremos até a cena do crime
32
A nossa noite será inesquecível
33
Você é um monstro
34
O meu coração pertence a outro
35
O que você está tramando?
36
Você acabou com a minha vida
37
Eu quero que possamos ser uma família
38
Você nunca incomoda
39
Meu bebê
40
Já pediu autorização a sua esposa?
41
Eu só quero ser amada
42
Depende do seu sim.
43
Dói muito amar uma pessoa e ser rejeitada por essa pessoa
44
Eu te amo
45
Eu vou embora
46
Tá na hora de revelar toda a verdade
47
Lutando contra a vida
48
Eu não cedo a chantagem
49
Ele queria te ver morta!
50
Aceita dançar comigo essa dança?
51
Quando foi que você descobriu que me amava?
52
Último capítulo da terceira temporada
53
Nova temporada

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!