Washington D.C
Terça-feira.
07:30 AM.
Meu corpo inteiro dói. Minhas costelas principalmente. Não consigo nem me mexer direito, está latejando a região onde os socos foram deferidos. Nunca pensei que um dia alguém teria a coragem de levantar a mão para mim e me machucar daquela forma.
Foi horrível!
Vou abrindo as pálpebras vagarosamente. Em sequência fecho, incomodada com a claridade da luz que atingem as minhas pupilas. Percebo está em um quarto bastante branco, possivelmente em um hospital. Não sei como vim parar aqui, a última coisa que lembro vagamente, é de pedir para que ele parasse de me bater.
— Oh meu Deus, tia! Abre os olhos.— sou chamada insistentemente, e mesmo com os sentidos longes, reconheço a dona da voz que implora.
— Mãe, fala alguma coisa! Diabos, será que ela morreu?
O desespero que ambas repassam em querer que o meu silêncio, se torne gemidos, me faz querer fingir está inconsciente.
Como é que vou encara-lás, depois de tudo que me aconteceu?
— Deixe ela descansar mais, talvez Annabelle esteja assim por conta dos remédios que tomou.
Estremco, ao escutar o tom rouco do meu agressor.
Ele está junto com elas, e o medo cresce em meu corpo. Porque temo que possa ser agressivo também com as garotas, para me manter sob controle.
Resolvo despertar, abrindo os olhos. Algumas lágrimas solitárias escorrem, em decorrência da situação que estou passando. Sinto vergonha em está nesta maca, recebendo soro com medicamento, é muito constrangedor.
Ele me olha arrependido, mas não é o bastante para sarar a ferida que foi aberta. Em hipótese alguma irei esquecer o pesadelo de ontem, é traumático não saber como agir neste momento.
Viro o rosto pro outro lado e me mantenho em estado de choque, tentando assimilar se a culpa não foi minha. Talvez eu tenha o provocado, por isso que perdeu a cabeça e acabou cometendo aquela loucura. Procuro motivos para justificar o que Lorenzo fez comigo, porém, não há nenhum.
— Meu amor, até que enfim você acordou.
O mesmo se aproxima, e eu me esquivo, apavorada. A maneira de como age é tão calculista; banca o preocupado, como se de fato estivesse. Finge tão bem as aparências.
—Preciso ficar a sós com a minha paciente.— a médica rapidamente intervém, ao constatar a minha reação de pânico.
— Poxa, deixa a gente ficar mais um pouco. A tia não parece nada bem.
Nem consigo olhar para nenhuma delas, fico o tempo todo olhando para qualquer lugar, até pro teto, fugindo de encara-lás. Estou anestesiada ainda, a coragem some, meu emocional está abalado.
— Mãe, se precisar, estamos aqui tá.— minha filha toca no meu braço, até seus dedos macios chegam arder a minha pele.
Eu as ignoro, engolindo o choro. Não tenho força o suficiente para contar o que se passou.
— Vamos, Mel.— gelo, quando o homem a chama, saindo abraçado com a minha filha.
Eu espero que ele não a machuque.
A mulher de aparência de vinte e poucos anos, se coloca na minha frente, segurando uma prancheta nas mãos. Seus olhos escuros pairam analisando a minha face.
Choro, incapaz de segurar as lágrimas.
— Nós médicos temos o protocolo que quando atendemos pacientes que chegam ao hospital com indícios de violência doméstica, acionamos logo à polícia.
— Doutora, como assim?— sussurro, soando um pouco aérea.— Está me dizendo que eu?— as palavras fogem da minha boca, ao enxergar no seu rosto uma expressão de pena.— Não, jamais! Meu namorado não fez isso comigo. Eu apenas cai da escada, e acabei me machucando.— invento, negando toda suspeita que possa haver.
— Eu entendo que esteja com medo, confusa, assustada. É comum em casos assim.— ela se senta na beira da maca— Mas você não pode permitir que isso se repita. Hoje foi agressão física, amanhã pode se tornar algo mais grave. A polícia te dará todo o suporte que precisar, é necessário que denuncie.
— Será que não entende, doutora?— a questiono, ecoando com o tom angustiado.— Eu não sofri nenhuma agressão. É um mal-entendido! Não sei de onde foi tirado essa conclusão. Eu não vou denunciar ninguém, o meu namorado pode ser cheio de defeitos, mas ele nunca encostaria um dedo em mim.
Com muita dor no meu coração, verbalizo em voz alta para protegê-lo. Depois viro o rosto pro outro lado, chorando em silêncio. É a única saída que achei, mesmo que essa decisão esteja me matando por dentro, mas não posso arriscar que Lorenzo acabe indo para prisão e depois ser solto como se nada tivesse acontecido.
— Que segurança acha que trará ao seu bebê ao não denunciar?
— Bebê?— um sussurro inaudível escapa dos meus lábios. — Não, não é possível.— balanço a cabeça em negação, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.— Ah meu Deus! Eu estou grávida?
Ponho a mão em cima da barriga, enquanto faço o questionamento em choque. A médica confirma que sim. Após isso, desabo aos prantos. Sempre fui cuidadosa, sempre me preservei, por que foi acontecer?
—Não, eu não posso ter esse bebê.— nego qualquer possibilidade.— Já tenho uma filha de 16 anos. Não posso ter um bebê nessa altura do campeonato. Meu namorado ele não convive em casa, tenho que dar conta de tudo. Ainda tem o meu trabalho, não posso abandonar o FBI para me dedicar a uma gravidez. Porque quem sustenta a casa sou eu. — remito a vida difícil que enfrento.— Doutora, pelo amor de Deus, me ajude!
Seguro em sua mão, a implorando. No mesmo instante, somos interrompidas com a entrada da enfermeira que troca o meu soro, colocando outro novo. Círculo os meus olhos reparando na quantidade de hematomas roxos que estão espalhados pelos meus braços.
— Com licença.— ouço algumas batidas na porta, o medo me toma ao vê-lo adentrando. — Gostaria de saber como a minha mulher está?
O desespero bate.
Quem vê assim, até acha que ele realmente é esse cara gentil e carinhoso.
— Meu amor, você está chorando?— questiona, se colocando ao meu lado. — Seu quadro é grave?
— O quadro da paciente é estável. — num tom rude, a profissional o interrompe, quando eu a suplico para que não conte nada.
— Então ela já pode ter alta?
— Não, ainda não.— a médica recusa.— Ela precisa ficar em observação durante 24 horas. Até saber de onde essas lesões foram causadas— manda meio que uma indireta, analisando-o, com indiferença.
— Não acho que seja necessário. Minha mulher tropeçou e caiu da bicicleta.— ele mente, desconstruindo toda a versão que criei. — Não foi, Annabelle?— pede para que eu confirme, apertando o meu braço sem que ninguém perceba.
— Sim, querido.
Forço um sorriso fraco, ao confirmar. Toda a encenação, é uma tortura, pois enquanto as palavras são proferidas, eu peço socorro através do olhar.
—Não há nada do que se preocupar, doutora, minha namorada é muito forte— garante, inclinando o rosto e dando um beijo na minha testa.
Sinto nojo e vontade de vomitar.
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Terça-feira.
23:30 PM.
Tive que fugir do hospital, para buscar ajuda. A médica facilitou a minha fuga, embora ache que esteja escapando para uma delegacia pra prestar queixa, prefiro optar por uma outra saída. Talvez seja uma loucura o que estou prestes a fazer… mas eu preciso ao menos recorrer a um meio para me proteger do Lorenzo.
— Você de novo?— franze a testa, ao se surpreender com a minha aparição. — Se veio me chamar de assassino novamente, é melhor dar meia volta e ir embora.
Ele puxa os pneus da cadeira de rodas para se virar, ignorando-me. No entanto, lhe faço parar:
— Você ainda trabalha para aquela organização criminosa? A mesma que a Mabel trabalhava?
Volta a me olhar de canto de olho, intrigado, arqueando a sobrancelha.
— Se veio achar que sou X-9, perdeu o seu tempo.
— É sério, Nameless.
— Se fosse a Mabelzinha, eu não ficaria surpreso. Mas você…— me fita com superioridade. — Está enferma?
— Não é da sua conta.— me cubro com o casaco preto, sem jeito, escondendo os meus hematomas. — Eu não vou perder tempo, eu vou logo direto ao ponto. Eu preciso da sua ajuda.
Diminuo a voz, havendo uma dor em meu tom. É ridículo procurar justamente uma pessoa da laia dele. Mas bandido conhece bandido, e se a maneira mais conveniente for essa de me livrar de Lorenzo, eu estou disposta a fazer qualquer sacrifício. Até mesmo, me humilhar.
— Já deve está por dentro da novidade, não é? — o modo debochado de como profere, me faz franzir o cenho confusa.
— Que novidade?
— Meu advogado não lhe comunicou? Achei que ele fosse o primeiro a informar a minha amada esposa.
O mesmo está me tirando do sério com esse tipo de comentário irônico.
— Eu não sou a sua esposa.— perco a paciência.— Está me confundindo com Mabel?
Nameless solta uma gargalhada.
— Ah, esqueci que casei com as duas, mas apenas o meu casamento com a Mabelzinha é válido nos EUA.— soa provocativo e sem hesitar aperto fundo os meus olhos, com ódio. — Já o nosso é válido na Rússia. Se eu morrer hoje, quem fica com todo o meu patrimônio é você. Já que eu coloquei no meu testamento o seu nome, como única beneficiária.
— Não vem ao caso agora.— rebato, extremamente desconfortável.
— Por qual razão você veio me procurar, Annabelle? Acredito que não tenha vindo apenas para ver o meu lindo rosto. — dá de ombros, super convencido. É nessa hora que tomo coragem de manter o contato visual com o loiro. Meus olhos amargurados se direcionam até os seus.— Quem fez isso com você?
Abaixo a cabeça, bastante triste ao entreolhar para ele e o seu olhar profundo me atingir ao enxergar os machucados pelo meu corpo. Por mais que eu queira disfarçar, eu estou péssima.
— Não importa.
— É claro que importa! Você pode não acreditar, mas tenho um apreço muito grande por você, Annabelle. Se Mabel não tivesse se metido entre nós dois, você seria a mulher no qual eu adoraria passar o resto da minha vida.
— Não é hora para blefar, Nameless. — o corto. — Se fôssemos ter uma DR sobre o passado, perderíamos horas citando o que deu errado. Não posso ficar aqui parada perdendo tempo, enquanto os meus estão em perigo. Eu tomei uma decisão, foi bem difícil, mas eu decidi entrar para Organização que você trabalha. Eu quero fazer parte do negócio.
O comunico, tomando cuidado com as palavras, ao observar as câmeras de segurança que há na sala que estão captando cada segundo desse momento.
— Jamais permitirei que você se contamine com essa vida do crime. — nega.
— Eu não vim pedir a sua autorização.— bato de frente.
—Voce não está entendendo. Quem entra para essa vida, não tem saída. Há não ser…
— Com a morte. — completo a frase.— Foi isso que eles fizeram com a Mabel? A mataram, quando ela não era mais útil?
O próprio fica pensativo, respondendo a dúvida com o seu silêncio.
— Talvez.— sussurra pra si. — Ela só queria ter uma vida normal. — conta, havendo um tom de admiração — É por isso que não vou admitir que você tenha o mesmo fim que sua irmã.— olha-me sério, com vestígio de preocupação no fundo das suas orbes azuis.
— Será que não entende? Eu tô grávida, Nameless! — revelo, aos soluços, fazendo-o ter uma reação negativa.— Se eu não tiver uma proteção, Lorenzo vai me matar. Se eu cogitar em denunciar ele, é mesmo que nada. Como é que vou denunciar a própria polícia? Eu não vejo outra saída. Fugir, não é uma opção. Não tenho condições de me manter e muito menos cuidar sozinha de duas adolescentes, duas crianças e um rapaz que precisa de cuidado especial.
— E se você voltar para mim, Annabelle…— sugere, inesperadamente.
Ergo momentaneamente os meus olhos chorosos, sentindo o meu coração disparar.
— Pra quê? — desconfio da intenção.—Por pena?
— Eu posso proteger tanto você, como a sua família.
— E o que você vai querer ganhar em troca com isso, Nameless? — lhe encaro de relance, desconfiada.
— Olhe para mim, o que tenho a oferecer? — o analiso.— Estou paraplégico, talvez nunca mais volte a andar de novo. Meu rosto está estampado em todos os jornais americanos sendo acusado de assassino. Logo serei condenado a viver numa prisão perpétua. Enquanto não houver um novo julgamento, quero experimentar o tempo que me resta ao lado de pessoas reais. Não me olhe como se fosse um absurdo desejar ter uma família de aluguel. Apenas diga que sim, que do resto eu cuido.— assegura, e o meu coração ficar balançado.
— Preciso pensar.
— Pense rápido, porque amanhã serei solto. Consegui a liberdade provisória.
— É o quê?
Faço uma careta descrente.
— Essa era a surpresa que eu disse que o meu advogado te daria.— esbanja um belo sorriso. — Gostou? Teremos mais tempo juntos. Como uma família!
Enche a boca para enfatizar, bastante animado com a ideia.
Engulo à seco.
Oh meu Deus, ele já está até se comportando como se eu tivesse respondido um sim.
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Quarta-feira.
Na manhã seguinte….
07:45 AM.
— É óbvio que não vou aceitar esse homem aqui dentro, tia! Você por acaso enlouqueceu?
Hope está aos gritos, transtornada.
— Ele matou a minha mãe!
— Eu sei, Hope.—a entendo.
— Sabe tanto que você vai apoiar que ele venha morar conosco!— revinda, inconformada, andando de um lado pro outro. — É uma puta falta de respeito com a memória da minha mãe.
— Você não entende o sacrifício que estou tendo que fazer. Lá na frente irá entender o motivo.
— Entender o quê, caralho?— gesticula os braços, me xingando.— Coitado do tio Lorenzo em ter que aguentar sua obsessão por aquele criminoso!
— Fico com pena real do meu pai. Sério, vai ser uma baita decepção pra ele, tadinho. — a outra “lamenta”.
— Fica quieta, Melissa!— mando. — A sua prima tem todo o direito de ficar chateada, mas quem manda na minha vida sou eu. Faço o que bem quiser. As decisões que eu tomo é pensando no bem estar de todos. Por mais que vocês pensem que estou amando essa situação, eu não estou! Mas o que posso fazer? Nameless é meu marido, querendo ou não. Ele não tem mais nada e nem ninguém por ele. Não posso abandona-ló nesse estado.
— Eu acho isso uma hipocrisia, tia! Deixa esse homem se foder!
— Hope, tá certa, mãe. Quem tem pena do coitado, vai pro lugar dele.
— Querem saber? Não ligo pra opinião de nenhuma das duas. Irei reatar o meu casamento. E a partir de hoje, eu proíbo qualquer uma de faltar com respeito com ele. Estão me ouvindo?
—Se for assim, mãe, terá que escolher entre nós, ou o vagabundo?
— Olha, Melissa, não começa!— altero a minha voz, tendo que gritar.
— Escolha então.
— Eu escolho o Nameless.
— Você não pode está falando sério, tia!
—Nunca falei algo tão sério em toda a minha vida. Querem ir embora? A porta está ali! Mas saibam que qualquer uma que se atrever a sair, não precisa voltar mais.
— Pois bem, eu vou embora para casa do meu pai. — minha filha me afronta.
— Que rebeldia!— a voz rouca surge.— Desculpem entrar sem bater, a porta estava entreaberta. — com dificuldades para se locomover, puxa os pneus da cadeira de rodas— Já contou a novidade, meu bem? Não precisa ter vergonha. Fale para elas, conte a notícia.
— Que notícia é pior que a vinda desse demônio para aqui dentro de casa, tia?
— Eu tô grávida.
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Atualizado até capítulo 53
Comments
Amanda
Eita
2025-02-01
0
Cida Sandro Morozoli
pelo que eu entendi ela e agente do FBI denuncia sim se não resolver mete uma bala na testa dele e outra ela deveria saber técnicas de luta tomou uma surra
2024-03-09
0
Phillip Shakespeare
caramba parabéns a autora estou me prendendo a cada cap que eu leio
2023-08-31
2