Capítulo 18

Respiro fundo e abro a porta, Bella e Liz correm para me abraçar.

— Pensei que você não vinha, a mãe falou que você tinha viajado à trabalho. –Bella fala.

— Fiz o que tinha de fazer e voltei.

— Que bom que você veio, nós sentimos sua falta. –Liz fala.

— Vamos aproveitar que vocês estão de férias para passarem uns dias comigo.

— Sim, a gente vai. –diz Bella animada.

— Onde está nossa mãe?

— Na cozinha arrumando a mesa. –Liz fala.

— Aqui os presentes de vocês, espero que gostem, agora vou falar com a nossa mãe.

— Obrigada. –as duas dizem juntas e me abraçam.

Quando entro na cozinha, minha mãe conversa animadamente com Matheus. Ele é nosso vizinho, e foi meu primeiro namorado, aquele primeiro amor de infância, só que o nosso durou até a adolescência, e também tive minha primeira vez com ele.

— Filha! –minha mãe fala alto quando me ver. — Pensei que estava viajando à trabalho.

— Estava, cheguei hoje, só dei uma passada em casa e vim direto pra cá, seu presente. –ela me abraça.

— Obrigada filha.

— Oi Matheus. –digo.

— Oi Raquel, tudo bem? — ele diz se levantando para vir até mim, pega minha mão e a beija.

— Estou bem, e você?

— Estou bem.

— E seus pais e seus irmãos estão todos bem?

— Sim, se quiser vê-los pode ir lá em casa, estão todos lá. Eu vim ver sua mãe, pois fazia tempo que não a via, já que não estou morando mais aqui.

— Não? Onde você está morando?

— Estou trabalhando em outra cidade e moro lá, não é sempre que posso vir.

— Está trabalhando com o quê?

— T.I.

— Você sempre foi bom com informática.

— Sim, sempre gostei.

— Já terminou a faculdade?

— Tive que trancar, essa empresa foca muito no que você sabe fazer, se você sabe fazer eles não ligam muito para a formação.

— Que bom.

— E você, já se formou, não é? Sua mãe estava me contando.

— Sim, só fazer a prova da ordem agora.

— Você sempre quis advocacia, fico feliz por você ter conseguido.

— Obrigada.

— Você fica pra ceiar Matheus? –minha mãe pergunta.

— Não dona Maria, obrigado, mas meus pais estão me esperando, só vim dizer um oi pra senhora.

— Obrigada pela visita, meu filho, obrigada pelos chocolates e pelo vinho.

— Imagina. –minha mãe o abraça. — Você vai embora ainda hoje? –ele pergunta para mim.

— Não.

— Então a gente se ver depois, vou ficar aqui essa semana.

— Ok. –ele me abraça e sai.

— Como foi sua viagem, filha?

— Tudo bem mãe.

— E porque voltou antes?

— Meu chefe me liberou.

— Que bom, fico feliz por estar aqui, mas você está com uma carinha triste, aconteceu alguma coisa?

— Não, mãe, só estou cansada.

— Tá certo então, vamos comer?

— Vamos.

Minha mãe montou uma mesa muito bonita, tem arroz, farofa, salada, purê e o principal é o perú assado que só ela sabe fazer.

As meninas estão super empolgadas com os presentes dela, eu sei bem do que elas gostam. Comprei um all star rosa para cada uma, que fazia tempo elas estavam querendo e maquiagens, para minha mãe comprei um celular novo, pois faz tempo que ela não troca de celular.

É costume aqui no bairro da minha mãe, após a meia noite todos saírem para rua levando alguma sobremesa para compartilharem, minha mãe sempre leva brownie.

A mãe de Matheus sempre faz um pudim, que eu amo por sinal. As pessoas aqui do bairro se conhecem praticamente a vida inteira, muitos aqui se conhecem desde criança.

Que é o meu caso e de Matheus, nos conhecemos desde que nascemos, estudamos juntos desde o ensino fundamental até o médio, só nos separamos quando fomos fazer faculdade, pois queríamos cursos diferentes.

Que foi quando também acabou o namoro, decidimos quando chegamos ao final do ensino médio seguiriamos nossa vida e rumos diferentes.

Não houve brigas e nem desavenças no final de nosso namoro, apenas decidimos que queríamos terminar e seguir nossas vidas, mas que seríamos amigos, só que o tempo, o trabalho, os estudos e a rotina corrida de cada um nos afastou, acabou que nós mal nos falamos nesse tempo, na verdade não tenho mais nem o número de telefone dele, só tenho suas redes sociais.

Ele sempre Foi incrível como namorado, muito gentil, cavalheiro, me ajudava em tudo e fazia tudo para me ver feliz.

Sabe aquela pessoa que quando você deita fica imaginando se as coisas teriam dado certo? Se poderiam ter construído uma vida juntos? Esse é o nosso caso, eu sempre me pergunto como seria se nós tivéssemos ficado juntos.

Talvez já tivéssemos casado, já teríamos filhos, talvez teríamos uma linda vida juntos.

E me pergunto se a vida que nós teríamos construído juntos seria boa, se seria agradável, confortável, se nós continuaríamos nos amando. São tantos talvez, tantos porquês, que acabam me deixando nostálgica, triste e confusa.

Mateus nunca foi feio, sempre foi muito bonito, um dos mais bonitos da escola, eu era invejada por todas as meninas por namorar o cara mais gato da escola.

O pai dele é coreano, e a mãe brasileira, só que ele só herdou as características do pai. Sabe aqueles atores de Dorama? Pois Matheus parece um, e com o passar dos anos ficou ainda mais bonito, está mais alto, mais forte. Agora ele é um homem feito.

— Pra você, eu sei que você gosta. — ele diz me entregando um pedaço do pudim que sua mãe fez.

— Obrigada.

— Nem acredito que estou te vendo, fazia muito tempo desde a última vez.

— Sim, eu sempre estou por aqui nessa época.

— Eu não tinha conseguido mais vir, muito trabalho, assuntos pessoais. –deve ser a namorada, penso.

— Entendi.

— Você não mudou nada. — ele diz me olhando.

— Você mudou muito, está mais alto e forte.

— Malho todos os dias.

— Gostaria de ter disposição.

— Mas você não precisa.

— Preciso sim, é questão de saúde.

— Sim, isso é, mas seu corpo é muito bonito, sempre foi.

— Obrigada.

Fica aquele silêncio constrangedor, pois nosso assunto morre e não temos mais nada a dizer um para o outro.

— As vezes eu penso em você Raquel. — ele diz.

— Também penso em você às vezes.

— Se as coisas teriam dado certo! –falamos juntos e sorrimos por isso.

— Eu acho que não foi a melhor ideia nós terminarmos, poderíamos ter insistido um pouco mais. –ele diz.

— Eu acho que foi o que achamos melhor naquele momento da vida.

— Nós éramos jovens, não pensávamos direito nas coisas, se eu tivesse o pensamento de hoje me esforçaria ao máximo para ficar ao seu lado.

E eu teria gostado se ele tivesse feito isso, só assim eu não teria entrado nesse acordo maluco com Caio e não teria saído dessa história apaixonada e machucada.

— Mas já foi, não é? Não adianta se lamentar. –digo.

— É, mas se arrepender faz parte, ainda mais quando você ver o que perdeu, você é a mulher mais bonita que já passou na minha vida, e não falo só de beleza física, que você tem de sobra, falo também do seu caráter, da pessoa que você é.

— Obrigada Matheus, é bom saber que você pensa isso sobre mim, você também é tudo isso, gostei muito do nosso tempo juntos.

— Podemos tentar de novo.

— Você não tem namorada?

— Tinha, terminou a mais ou menos um ano, e você? Está namorando?

— Acabou faz mais ou menos o mesmo tempo que o seu.

— Então... Podemos tentar outra vez.

— Não sei, não somos mais adolescentes, acredito que mudamos muito esses anos, e vai que não gostamos de quem nos tornamos.

— Impossível, a essência de alguém não muda, mas você tem razão. Vamos nos reconhecer novamente então, que tal sairmos amanhã?

— Pode ser. –a verdade é que estou fazendo isso para ver se Caio sai da minha cabeça.

— Amanhã então. –ele diz.

— Amanhã. –digo.

As gêmeas estão conversando animadamente em grupinho de adolescentes, há algumas meninas e meninos também, percebo que os meninos olham muito para elas, minhas irmãs são muito bonitas, não tem como não olhar.

Os vizinhos comem suas sobremesas compartilhadas e conversam animadamente, é muito bom morar aqui, eu lembro como eu sempre amei essa parte nas festas de natal.

Hoje em dia eu nem sei quem são meus vizinhos, vivemos correndo, mal paramos para dar bom dia.

Matheus ficou perto de mim o tempo inteiro, conversamos muitos sobre a vida, nossos trabalhos, sobre projetos para o futuro. Ele se tornou um homem incrível, responsável, não que ele não fosse, mas quando somos adolescentes não nos preocupamos muito com as coisas.

A família de Matheus é uma das que tem mais condições financeiras aqui no bairro, eles tem uma loja que vende vários produtos importados.

Seu pai conheceu sua mãe quando veio passar férias no Brasil e se apaixonou por ela. Foi muito difícil o começo da relação deles, pois eles não falavam o mesmo idioma e na época não existiam redes sociais, eles se falavam por telefone somente para ouvirem a voz um do outro, sem entender uma palavra que o outro dizia.

Até que ele levou ele para morar com ele e lá ela aprendeu coreano, e alguns tempos depois vieram para o Brasil e resolveram ficar de vez, ele já falando Português tudo foi mais fácil, montaram a loja e deu muito certo.

Eu amo a história de amor deles, parece coisa de novela, ou Dorama no caso.

— Passo pra te buscar amanhã às 20:00 horas. –Matheus diz.

— Tá.

— Durma bem.

— Você também.

Ele me abraça bem forte e cheira meu pescoço, o que me causa um arrepio, sem que eu espere ele me dá um selinho e sorri.

— Matheus!

— Desculpa. — ele beija minha mão e sai.

Recolhemos nossas coisas e entramos em casa e todos os outros vizinhos fazem o mesmo, já passa um pouco das 2:00 horas da manhã.

Minhas irmãs vão direto para o quarto, estão muito cansadas.

Eu fico ajudando minha mãe com a bagunça, arrumamos tudo, lavamos a louça e logo vamos deitar.

Tomo um banho, visto um pijama e deito para dormir, vou dormir junto com minha mãe, já que meu quarto agora é das gêmeas.

Demoro um pouco para pegar no sono, ficando pensando em Caio, em como ele foi frio comigo, mal me olhou, isso me dói. Por outro lado, a noite foi bem agradável, gostei de reencontrar Matheus, foi uma linda surpresa.

Após pensar e pensar, acabo pegando no sono.

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