Capítulo 17

Olho para o lado e Caio ainda dorme, não vi a que horas ele veio para o quarto, mas foi melhor assim, não gostaria de encará-lo depois da nossa conversa.

Espero que a proposta de irmos embora daqui a dois dias ainda esteja de pé, não vou aguentar todo esse fingimento por mais tempo.

Aproveito que ele está dormindo e levanto para fazer minha higiene matinal.

Após banho visto um suéter cinza, uma calça jeans preta e uma bota também preta, deixo os cabelos soltos e passo um pouco de maquiagem para esconder as olheiras.

— Já está de pé? Que horas são?

— 8:30.

— Por que acordou tão cedo?

— Dormi cedo.

— Vai querer ir comprar o vestido?

— Vou, mas posso ir sozinha.

— Ok.

Pego um casaco e saio do quarto sem olhar para trás, não consigo encará-lo depois de praticamente confessar que estou apaixonada por ele.

Desço as escadas e encontro Paloma pronta para sair.

— Ah! Oi, bom dia. –ela diz quando me ver.

— Bom dia.

— Estou saindo para tomar café em uma cafeteira que eu gosto, lá tem uma torda de morango deliciosa, desejo de grávida! Quer vir comigo?

— Sim, preciso de um vestido para usar hoje à noite.

— Ótimo, vamos tomar café e depois comprar seu vestido.

— Obrigada.

— Imagina, adoro fazer compras. –ela diz e sorri.

O motorista nos leva até a cafeteira que Paloma queria ir e fica nos esperando do lado de fora.

— O que você vai querer? –ela pergunta.

— O mesmo que você, quero experimentar essa torta que você tanto gosta.

— Ok. –ela pede duas tortas e dois cafés. — Aconteceu alguma coisa? Estou te achando com uma carinha triste.

— Não, estou bem, acho que ainda é cansaço da viagem.

— Entendi, sei que você não quer me contar e nem temos intimidade para isso, mas sei como Caio pode ser difícil e teimoso, ele e a Bárbara se davam bem porque são iguais, o temperamento é o mesmo, você é o oposto deles, nem sei como olhou para o Caio, não que ele seja ruim, é uma ótima pessoa, mas é difícil de lidar.

— Eu que o diga, como chefe ele é bem pior.

— Não sei se você quer ouvir sobre isso, mas você foi a única mulher que ele apresentou para a família depois que terminou com Bárbara, nós sabíamos que ele tinha encontros, mas nunca a ponto de apresentar para a família, então você deve ser importante para ele.

— Talvez sim.

— Acho que ela se arrependeu por ter deixado ele pelo o outro, mas agora é tarde, já que Caio está com você.

— Sim.

— Se você gosta dele de verdade não deixe o caminho livre para ela, pois eu vi como ela olhava para ele, e com certeza se você der um espaço ela vai querer reconquistá-lo.

— No final das contas quem decide é ele não é? Não posso obrigá-lo a ficar comigo caso ele não queira.

— Sim, claro, mas pode lutar por ele.

— Sim, com certeza, a torta é mesmo muito boa.

— Não é?!

Terminamos nosso café e vamos para o shopping.

Olho muitos vestidos e decido comprar um verde, todas as pessoas sempre passam o Natal de vermelho, inclusive eu em todos os anos.

Aproveito também para comprar os presentes de natal das minhas irmãs e da minha mãe.

— Muito bonito o vestido que você escolheu, dizem que quem passa o Natal de verde fica grávida. –ela diz e sorri.

— Não acredito nisso.

— Comigo funcionou. –olho para ela surpresa.

— Estou ficando com medo.

— Estou te dizendo, usei verde no natal passado.

— Mas esse vestido é tão lindo.

— Então leve, eu estou grávida porque estava tentando engravidar, mas você não.

— Não mesmo!

— Ouviu nossa sogra? Ela quer netos e logo.

— Infelizmente não poderei realizar seu desejo.

— Você não quer ter filhos?

— Sim, quero, mas não agora, isso pode esperar.

— Claro, você é muito jovem ainda, eu já tenho quase trinta.

— Não parece.

— Obrigada, mas daqui a três anos faço trinta, daqui para lá pretendo ter mais um bebê, decidimos que vamos ter dois e com pouco tempo de um para o outro, para os dois crescerem juntos.

— Minha mãe teve gêmeas.

— Que ótimo, se eu tivesse gêmeos não precisaria engravidar outra vez, mas é só um bebê mesmo.

— Morro de medo de ter gêmeos.

— Não deve ser fácil, suas irmãs tem quantos anos?

— Quatorze.

— Ah! São adolescentes já.

— Sim.

A companhia de Paloma é muito agradável, ela ama conversar, contar sobre sua vida, sobre a vida dos outros, ama fazer perguntas, saber sobre sua vida, ela é o tipo de pessoa que te faz achar que já se conhecem há anos.

— Você demorou vida. –Alex diz quando entramos.

— Fui tomar café com Raquel e depois fui ao shopping com ela.

— Tudo bem, senti sua falta.

— Já estou aqui meu bem. –ela acena para mim e sobe as escadas com Alex.

Eu também subo as escadas e vou para o quarto.

Quando entro encontro Caio deitado na cama, ele está com o celular na mão, vejo que está em chamada de vídeo com alguém, tento não olhar muito.

É uma situação incômoda para os dois, mas ele nos meteu nisso e teremos que nos suportar.

Ele está conversando com uma mulher ouço sua voz, me sinto enjoada, uma dor estranha rasga meu peito.

Ela fala que está com muita vontade de vê-lo outra vez e que quer repetir o que fizeram.

Saio do quarto para não ter que ouvir mais nada, não suporto essa situação, gosto dele mais do que imaginei.

Desço as escadas correndo, tento segurar as lágrimas, pois perante a família dele somos um casal feliz, preciso cumprir minha parte do acordo.

Vou para jardim, mas não consigo ficar do lado de fora por muito tempo, pois está muito frio e eu não estou agasalhada.

— Você vai ficar resfriada. –Caio diz quando entro.

— Como se isso te importasse!

— Claro que me importo, quero te devolver para sua mãe em perfeito estado.

— Não precisa se preocupar comigo.

— Não sabia a que horas você ia voltar.

— Tanto faz!

— Por que está na defensiva?

— Não estou.

— Está sim.

— Você precisa pensar em uma forma de dizer para sua família que terminamos, essa é a última vez que faço isso.

— E o chá semana que vem?

— Eu não vou!

— Nem com um novo contrato?

— Chega de contratos! Esse foi o último.

— Ok, vou pensar em algo para falar para eles.

— Nós vamos embora amanhã?

— Vamos, disse que ficaremos com sua família.

— Não precisa ir.

— Não quer que eu vá?

— Na verdade não.

— Tudo bem.

— Vamos fazer assim, fala que nós terminamos e eu vou embora hoje mesmo.

— É isso que quer?

— Sim.

— Tudo bem então, vou pedir para prepararem o jato, você ainda vai conseguir passar o Natal com sua família.

— Ótimo.

— Arrume suas coisas, o motorista vai te levar, tente sair sem ninguém te ver.

— Pode deixar.

Ele se vira e sai sem olhar para trás, eu subo para o quarto e arrumo minhas malas, logo alguém bate na porta e eu vou abrir, é o motorista que veio buscar minhas malas.

Por sorte saímos sem ninguém nos ver, as lágrimas querem descer outra vez, mas eu me recurso a chorar, por mais que a vontade seja grande.

O caminho até o aeroporto é silencioso, sou somente eu com meus pensamentos.

Exatamente às 11:00 horas da manhã estou decolando de volta para o Brasil, iremos pousar mais ou menos às 21:30. A parte boa é que chegarei a tempo da ceia.

Tomo meu remédio para enjôo, só tenho a ele de companhia, o bom é que ele me faz dormir.

Após a decolagem deito a cadeira do avião, me cubro e apago.

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Dormi o vôo inteiro, a comissária precisou me acordar para pôr o cinto na hora de aterrizar.

Agradeço a eles e saio do avião, é um tanto ruim estar com três malas e sozinha.

Por sorte há muitos táxi disponíveis, entro no primeiro que encontro, vou direto para o meu apartamento, não quero chegar na casa da minha mãe com três malas, pois ela sabe que não tenho tanta roupa assim.

Já no meu prédio o porteiro me ajuda a subir as malas, pois infelizmente não tem elevador.

Passa um pouco das 22:00 horas, daqui até a casa da minha mãe é um pouco longe, mas não passarei essa noite sozinha de jeito nenhum.

Tomo um banho rápido, arrumo o cabelo, faço uma make rápida, visto o vestido que comprei em New York e calço uma sapato nude que combina com a bolsa.

Pego os presentes e chamo outro táxi, por sorte não demora muito, é o mesmo que me trouxe que ainda estava por aqui.

Chego na casa de minha mãe às 23:55, a tempo da ceia.

Respiro fundo e tento colocar meu melhor sorriso no rosto antes de tocar a campainha, elas não merecem me ver triste, principalmente no dia de hoje, preciso deixar toda a dor aqui fora, da porta para dentro só entram sentimentos bons.

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