Segunda Chance
Havia uma semana que Elisa sentia uma inquietação crescente, sabia que seu sexto sentido estava a alertando de que algo aconteceria, pois desde pequena, era capaz de intuir quando algo estava escapando de seu controle, ou talvez, aquele sentimento fosse pelo fato de ter que lidar com dois filhos em idades diferentes. Qual mãe nunca passou por isso? Sua filha mais velha, Liz, era uma garota de dezessete anos, e já havia passado por todas as fases possíveis, havia sido rebelde, respondona, mas também já fora carinhosa, companheira e engraçada. Agora, a menina parecia estar na fase dos questionamentos, absolutamente tudo, era contestado.
Em contrapartida, o filho mais novo de Elisa, um menino de dez anos, era sempre alegre, tinha energia de sobra, mas era também muito amoroso, tanto com ela como com o seu pai, Murilo. Em muitos momentos, Elisa pensara que iria surtar por ter que dar conta da casa, do trabalho e de seu casamento, pois não é nada fácil se desdobrar para atender a todos, mas ainda assim, amava mais do que tudo na vida, cada integrante daquela família, e sabia todos os sacrifícios que já havia feito para chegar até onde havia chegado, e acordar todos os dias ao lado do homem que a amava e demonstrava seu amor a cada segundo, era reconfortante.
Mais uma semana estava começando, e Elisa sabia que teria muito trabalho pela frente, e que no final de tudo, daria conta das coisas, ela abre seus olhos e os esfrega com o dorso de sua mão, ao notar que Murilo também havia acabado de acordar, e a olhava, ela abre um sorriso apaixonado, pois a cada dia que passava seu amor por ele aumentava, e mesmo estando dezessete anos ao lado dele, ela ainda sentia o mesmo frio na barriga toda vez que seus olhos se cruzavam.
— Bom dia, minha princesa!
— Bom dia, amor!
— Você acordou especialmente linda, hoje!
— É mesmo? Você me diz a mesma coisa, todos os dias!
— O que eu posso fazer, se a cada dia você está mais linda?
— Eu conheço seus truques, senhor Hoffman, está tentando me fazer ficar nesta cama o dia todo, não é?
— Sim! O que eu posso fazer, se você chegou em minha vida e trouxe uma vida nova, dentro deste meu coração solitário? — Diz Murilo, abrindo um sorriso ainda maior.
Imediatamente, Murilo se apossa dos lábios de sua esposa, e em questão de segundos, os dois já se entregavam à paixão. Murilo era um homem intenso, e cada vez que estavam juntos, era como se fosse a primeira vez, pois com o passar dos anos, o amor e a paixão entre eles, somente aumentava.
Momentos depois, Elisa se arrumava em frente ao espelho, de forma apressada, pois havia passado mais de duas horas de seu horário, seu filho de dez anos com certeza já tinha ido para a escola, e sua filha, Liz de dezessete anos, certamente já tinha ido para sua aula de ballet.
— Me atrasei, de novo! — Diz Elisa tentando colocar seus brincos.
— Mas foi por um bom motivo! Não se preocupe, pois não é a primeira vez que perdemos a hora!
Murilo a olhava hipnotizado, ainda mantinha um sorriso nos lábios. Enquanto ela andava de um lado para o outro, ele se arrumava de forma muito calma, como se não estivessem se atrasado um minuto sequer. Momentos mais tarde, Elisa se despede de seu marido, e sai apressada, ela entra em seu carro, e sai, não tomara nem café da manhã, pois seus compromissos a aguardavam.
O dia estava quente e abafado, o céu estava aberto, de um azul como nunca visto antes, não tinha nuvem alguma. Mesmo o dia estando lindo, alguma coisa no coração de Elisa dizia que alguma coisa estava errada. Uma inquietação crescente tomava conta de seu peito, e ela tinha certeza que algo estava prestes a acontecer, pois sempre fora muito intuitiva, e se alguma coisa a incomodava, tinha certeza de que era somente uma questão de tempo, até que acontecesse.
Entre um paciente e outro, aproveitava para mandar mensagem para sua filha adolescente, Liz, e seu filho Breno, gostava de saber o que o pequeno menino de dez anos aprontava durante o período em que ela não estava em casa, já com sua filha Liz, gostava de saber com quem ela andava, já que Liz era uma adolescente de dezessete anos, e ultimamente andava meio rebelde. Por volta das onze da manhã, Elisa recebe em seu consultório odontológico, um imenso buquê de rosas vermelhas, e no cartão, lia-se apenas:
...Para meu amor de hoje e sempre, nunca se esquecer que é única dona do meu coração. Te amo....
...Sempre seu, Murilo....
Ela olhava aquelas flores e aquele bilhete com um sorriso aberto em seus lábios, pois a cada dia que passava, ela e Murilo se amavam mais, e as demonstrações de amor dele, por ela, a derretia por inteiro.
Elisa era uma renomada dentista, era dona de uma rede de consultórios que atendia a alta sociedade, era apaixonada por seu trabalho, e sua rotina. Desde pequena tivera que lidar com o preconceito das pessoas, pois ser negra, filha de empregada doméstica e moradora de comunidade, já era motivo suficiente para as pessoas olharem torto e julgarem seu caráter, como se isso fizesse sentido. Porém, sua mãe sempre a educara de forma que ela JAMAIS se sentisse menos do que as outras pessoas, Elisa crescera com a consciência de que era merecedora sim, de estar em lugar de liderança, e desde pequena, estabelecera uma meta: Seria uma das melhores dentistas do país, senão, a melhor, e nada a impediria isso, não abaixaria a cabeça para ninguém, muito menos se sentiria menos importante do que as outras pessoas, porém, sabia que se dedicar o dobro, pois suas condições financeiras, não era a das melhores.
Com muito empenho, e a ajuda das pessoas certas, ela havia conseguido se estabelecer financeiramente, ainda na juventude, já que não havia nascido em berço de ouro. Desde que se conhecera por gente, sempre fora ela e sua mãe batalhando sozinhas, apenas. A vida na comunidade não havia sido nada fácil, pois apesar de a maioria das pessoas daquele lugar serem pessoas de bem, e trabalhadoras, tinham que lidar além do preconceito, com com a violência que aumentava cada dia mais. Mas olhando no presente, cada conquista que Elisa tinha, olhava para trás com orgulho de sua trajetória, e sabia que sua mãe havia sido fundamental nesse processo.
Naquele dia de trabalho, o tempo havia voado. Elisa olha em seu luxuoso relógio de pulso e percebe que se aproximava das três da tarde, e seu expediente estava próximo de se encerrar, pois podia se dar ao luxo de sair a hora que bem entendesse, e mesmo tendo chegado mais tarde, ir para casa e ficar com seus filhos e seu marido, era sagrado. Ao atender seu último paciente, ela tira seu impecável jaleco com seu nome bordado, pega sua bolsa de grife, e sai porta afora, pois iria para casa. Ao se despedir de seus funcionários, ela caminha até o estacionamento e entra em seu luxuoso carro, liga o rádio afim de relaxar um pouco, e em poucos minutos já seguia pela estrada afora.
O trânsito estava lento, parecia que tinha mais carros do que de costume, o que era no mínimo estranho, pois àquele horário, era sempre tranquilo. Um pouco mais à frente, Elisa para o carro, estava oficialmente num engarrafamento. Abruptamente a música é interrompida, e o radialista entra ao vivo para anunciar um grave acidente.
...... Os condutores de veículos devem evitar a via expressa neste exato momento, pois um grave acidente acaba de acontecer. Nos chegam informações de que dois jovens alcoolizados acabam de bater o veículo, um rapaz, e uma moça, ambos de mais ou menos dezesseis anos. O resgate acaba de nos informar que o rapaz é que dirigia o veículo, e que infelizmente acabou perdendo o controle do veículo, e bateu de frente com um caminhão. Ao que tudo indica, o rapaz faleceu ainda no local, e a jovem que o acompanhava, está em estado grave... A qualquer momento, traremos novas informações......
Elisa abaixa o volume do rádio, e começa a se inquietar, pois imaginava a dor e a angústia dos pais daqueles jovens, não conseguia imaginar sua vida sem seus filhos. Aproveitando que estava parada na estrada, e que tudo levava a crer que o trânsito não andaria tão cedo, ela pega seu celular, e liga para seu filho de dez anos, o menino atende no mesmo instante, e de forma alegre. Os dois conversam mais um pouco, e em seguida Elisa desliga. Resolve então ligar para sua filha, Liz, que àquele horário deveria estar saindo de sua aula de ballet, pois em poucos dias seria sua formatura oficial, e já com dezessete anos, se formaria em Ballet Clássico, já pois que estudava desde seus sete anos de idade.
O telefone chamava sem resposta, e o coração de Elisa começava a bater depressa, pois apesar de sua filha ser um tanto quanto temperamental, sempre que ela ligava, Liz atendia. Os motoristas dos carros ao lado de Elisa começam então a sair de seus carros e caminhar até o acidente, nessa hora a curiosidade sempre fala mais alto, e num gesto automático, Elisa acaba também saindo de seu carro e caminhando junto com os outros motoristas. Seu telefone insistia em chamar por sua filha, mas nada mudava, o telefone dela apenas chamava.
Ao se aproximar um pouco mais do acidente, Elisa ia ficando cada vez mais angustiada, ela olhava o resgate trabalhar de forma apressada, afim de tentar retirar a jovem das ferragens do carro, já que ela ouvira que infelizmente o condutor do veículo havia falecido. Ela nota então o corpo do jovem rapaz coberto no chão, e sente seu corpo se arrepiar por inteiro. Ela se aproximava cada vez mais do acidente, e acaba encostando na faixa sinalizadora que o resgate colocara para os motoristas curiosos não ultrapassarem.
Nesse momento, Elisa acaba ouvindo um celular tocando, exatamente com a mesma música como tocava o de sua filha, poderia ser uma coincidência, se não fosse o fato, de o toque em questão era dae sua música favorita de Liz, era a, Blue Danube, por Johann Strauss. Imediatamente seus olhos começam a procurar os de Liz, mas de onde estava, não conseguia ver com nitidez se a jovem socorrida, era sua filha, ou se ela estava por perto vendo a cena. Elisa andava por entre as pessoas tentando um melhor ângulo, precisava ver se conseguia reconhecer a jovem ferida. No mesmo instante em que os socorristas e os bombeiros retiravam a jovem do veículo e a colocavam na maca, o coração de Elisa quase para, pois finalmente consegue ver a jovem acidentada, e sim, era sua filha, assim como seu coração dizia.
Desde a manhã, seu coração andava apertado, e todas as vezes que isso acontecia, alguma notícia ruim logo chegava. Imediatamente ela começa a chorar e a gritar para que a deixassem se aproximar de sua filha, precisava ficar perto de Liz.
— Me deixem passar, por favor!
— Não pode ultrapassar a barreira, senhora!
— Mas é minha filha que está ali.
— Sua filha? Tem certeza?
— Claro que sim, me deixe acompanha-la......eu imploro!
— Está bem, mas não a toque, está bem? Ela precisa ir ao hospital imediatamente, pois seu estado é grave. Eu sinto muito, senhora!
Elisa ultrapassa a barreira e sai correndo em direção à sua filha, a menina se encontrava inconsciente, e sangrava muito. A todo instante Elisa a chamava, quase que no automático, pois era evidente que Liz não a ouvia. Ela tremia por completo ao ver o estado em que sua filha estava, e pede aos céus com todas as suas forças que sua filha se salvasse.
Ao entrar na ambulância, ela tinha seus olhos fixos em sua filha, não conseguia desviar um minuto sequer, e via o quanto os socorristas se esforçavam para manter o quadro dela estável.
Em poucos minutos chegam ao hospital e imediatamente sua filha é levada para dentro, e some por entre os corredores, a deixando ali, sozinha, desamparada e angustiada. Elisa não ouvia uma palavra sequer do que as enfermeiras diziam a ela, seus pensamentos estavam somente em sua filha, e no que poderia acontecer, a partir dali. Muito tempo se passa, até que ela resolve sair do lugar, pois parecia uma rocha, fincada ao chão. Elisa então reúne todas as suas forças e caminha até a recepção, afim de preencher a papelada, e logo em seguida, liga para seu marido, pois ele precisava saber urgentemente o que havia acontecido.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Anonyamor
Um acidente..... quantos sonhos serão interrompidos???
Uma mãe um pau e a incerteza quanto ao futuro!!
2024-09-29
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Cida Gomes
Sr amado, arripei inteira,ao lê que era a filha dela😔
2024-08-21
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Fbiana De Santos
estou adorando a história parabéns autora
2024-06-12
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