Capítulo 19

Na manhã seguinte, Elisa se sentia um trapo humano, ela desce as escadas e encontra seus filhos e sua mãe já sentados à mesa, mas seus olhos repousam imediatamente no lugar em que Murilo se sentava, e seu coração se aperta por saber que ele não estava ali.

— Bom dia! Me desculpem a demora, acho que dormi demais.

— Bom dia, mãe! — responde Liz, ainda com a expressão fechada.

— Bom dia, mamãe! Cadê o papai? Ele não vai me levar à escola, hoje?

— Seu pai teve que viajar, meu amor. Hoje o motorista o levará, está bem? Eu não me sinto muito disposta, acho que não vou trabalhar, mas o motorista o levará.

— O que você tem, minha filha? — Pergunta Marta, visivelmente preocupada.

— Não é nada, mãe. Não se preocupe, talvez seja algo que comi, ou pode ser algum mal-estar passageiro, logo estarei bem.

— Mamãe, posso faltar na aula, hoje? Faz tempo que não fica comigo.

Elisa pensa por um instante, pois seu filho reclamava com razão, pois os últimos acontecimentos tinham a tirado do eixo, sem contar que logo ela e Murilo anunciariam a separação, pelo menos daquela vez, faria o gosto de seu filho.

— Tenho uma ideia. O que acha de passarmos a manhã na piscina e depois ficarmos todos juntos assistindo um filme e comendo pipoca e brigadeiro? Ninguém precisa comparecer a compromisso algum, hoje. O que acham?

Breno grita de alegria, pois toda oportunidade de faltar à aula, ele aproveitava, já Liz, mesmo discretamente, e não demonstrando muito, tinha ficado feliz com a ideia de passar um dia inteiro com sua mãe.

Depois de tomarem café da manhã, todos vão até a área da piscina e passam a manhã inteira dentro d’água, Breno parecia um peixinho, pois adorava água, já Liz, aos poucos foi se soltando mais, coisa que desde o acidente e seu transplante, não fazia. Liz sai da água e se deita numa espreguiçadeira, Elisa assim que percebe, sai da água e vai atrás de sua filha. Ela apenas se deita na espreguiçadeira ao lado e fica de olhos fechados, as duas se mantinham em silêncio. Breno continuava a brincar na piscina, mas Marta tinha seus olhos atentos nele.

— Senti muito medo de morrer, mãe! — Diz, Liz, de forma inesperada.

Elisa se levanta e se senta na beirada da espreguiçadeira de sua filha, tampando o sol que tocava o rosto dela. Liz a olhava com lágrimas nos olhos, e Elisa sabia que finalmente ela estava pronta para finalmente falar sobre seu acidente.

— Eu conheci o Rafael na festa de aniversário da Carol, minha amiga do ballet, sabia que eu dei meu primeiro beijo nele?

— Eu não fazia ideia, meu amor. Sempre fomos amigas, e você sempre me contou tudo, mesmo você estando mais distante, mas.......por que não me falou sobre ele?

— Senti medo de que contasse ao meu pai, e ele ficasse bravo, a senhora sabe que ele sente ciúme de mim, né?

— Seu pai te ama, meu amor, você sabe que é o xodozinho dele! Mas tenho certeza que ele não se oporia a você ter um namoradinho, afinal, essa hora ia mesmo chegar.

— Sabia que no dia do acidente, o Rafa tinha mesmo me pedido em namoro?

— Eu sinto muito por você, meu amor, não queria que saísse machucada em seu primeiro amor!

— Eu tinha aceitado a namorar com ele. Mãe..........eu tive o namoro mais curto e traumatizante da vida. Aceitei namorar o Rafa, mas ele morreu horas depois!

— Eu não sei o que dizer, meu amor, mas eu te garanto que essa dor vai passar, você nunca vai esquecer o que aconteceu, mas vai aprender a conviver com isso.

— Eu estava tão feliz. A gente saia junto sempre. Ele me fez ver que ser rebelde como eu estava sendo não levava a lugar algum, ele me apresentou à mãe dele, e ela me tratou tão bem. Me desculpe por ter sido tão mimada esse tempo todo, o Rafa me fez ver o quanto eu era privilegiada, e que muitas pessoas da minha idade não tem a mesma oportunidade que eu, e eu sempre quis mais, nunca dei muito valor, mesmo a senhora, meu pai e meus avós me dizendo isso o tempo todo.

— É muito bom ouvir isso, meu amor. Que bom que consegue olhar as coisas por um outro ângulo. Eu sei que você é jovem, está na idade de se divertir, mas a vida não é só festas, roupas caras, e futilidades, tem muito a ser descoberto.

— Eu entendi isso quando o Rafa morreu. Entendi da pior forma possível. O Rafa não era rico, sabia? Os pais dele eram operários de uma fábrica e contavam os centavos para viver, e eles moravam numa comunidade, acho que a mesma que a senhora cresceu.

— Seu namorado morava no morro das Laranjeiras?

— Sim! E eu fui lá, sabia?

Elisa sente seu coração disparar, pois ouvir que sua filha poderia de alguma forma se aproximar do verme do Júlio, a deixava em pânico.

— E.....e você não sentiu medo?

— Para falar verdade, não. O Rafa me mostrou tudo, sabia que ele era professor de violino? Ele ensinava as crianças carentes. Eu assisti muitas vezes as aulas dele.

— Estou muito surpresa com isso, minha filha, afinal, você sempre andou com amigos ricos, jamais imaginei que tivesse amizade com alguém mais humilde.

— A senhora não aprova, não é?

— Claro que aprovo, meu amor. Eu cresci naquela comunidade, lembra? Eu só não imaginava que conhecesse alguém de lá. Mas, no dia do acidente, vocês estavam num carro de luxo, de quem era aquele veículo?

— O Rafa pegou emprestado com um amigo nosso, ele estava atrasado para dar sua aula na comunidade, por isso pediu o carro, eu tinha faltado na minha aula de ballet só para assistir a aula dele, seria tudo diferente se tivéssemos chamado algum carro de aplicativo, pois aquele atraso, custou a vida do Rafa, e eu poderia ter morrido junto.

Nesse momento Liz começa a chorar, Elisa então abraça sua filha tentando passar a mensagem que estava ali para qualquer coisa, era bom ter sua filha mais perto, e ao mesmo tempo sentia orgulho de sua filha ter começado a pensar na vida de uma forma diferente, sem tantas futilidades.

— Mãe, a senhora pode ir comigo visitar a mãe do Rafa, qualquer dia desses? Eu gosto dela, mas não sei se consigo ir lá sozinha.

— Claro que sim, meu amor. Quando você se sentir preparada, é só me avisar que eu a levo lá.

— Obrigada.

— De nada, meu amor. Eu senti sua falta, sabia? Senti falta das nossas conversas, das suas implicâncias com seu irmão, e do seu sorriso tão lindo!

— É que eu ainda me sinto triste pelo Rafa. Ainda não consigo acreditar que ele tenha morrido tão jovem, eu podia ter morrido com ele.

— Não gosto nem de pensar numa coisa dessas, ainda bem que conseguimos um doador para você, e agora você poderá levar uma vida normal.

— Falando nisso, a senhora conhece o doador? Sabe quem fez esse ato tão bondoso?

Elisa gela no mesmo instante, pois Júlio não havia feito ato de bondade algum, ele tinha vendido um pedaço seu, e coagido ela a passar uma noite com ele, o que acabara custando seu casamento com o amor de sua vida.

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Comments

Nedelei Pagel

Nedelei Pagel

uma mãe é capaz de tudo para salvar um filho😥

2023-10-23

3

Miriam Ramos

Miriam Ramos

a Elisa só é um a mãe que ama

2023-09-26

0

Márcia Jungken

Márcia Jungken

Liz não aprendeu com amor mas teve que aprender com a dor

2023-09-23

3

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