Capítulo 20

— E então, mãe? A senhora conhece o doador?

— Eu......eu, não o conheço muito bem, eu e seu pai anunciamos aos quatro cantos que precisávamos de um doador, esse homem apareceu e doou. Mas não sei nada dele, nem onde ele mora.

— É uma pena, eu queria muito agradecê-lo, afinal doar órgãos é um ato de amor, não é?

— É sim, meu amor.

— Mãe, posso fazer uma pergunta?

— Claro que sim!

— A senhora e o papai estão separados, não é? Porque não sou mais criança, e eu percebi que já tem meses que vocês estão estranhos um com o outro. Eu nunca vi vocês dois assim, esses anos todos sempre vi vocês dois apaixonados e grudados, mas depois do meu transplante.......a culpa foi minha?

— Jamais repita isso! Você não tem culpa de nada, é só que....as coisas mudam, e eu e seu pai estamos numa fase difícil, só isso. Ele saiu de casa essa madrugada, mas foi melhor assim, não podíamos ficar discutindo na frente do Breno e você. Peço que não comente isso perto dele, ele é uma criança esperta, vai acabar percebendo que o pai dele não foi somente viajar, mas por enquanto não me sinto preparada para contar que estamos nos separando.

— Então é oficial? Vão mesmo se divorciarem?

— Acho que sim, mas eu amo seu pai de todo meu coração.

— Eu não entendo! Se o ama, por que estão separados? Pois eu sei que meu pai é louco pela senhora!

— É complicado, meu amor. Às vezes, só o amor não basta, nós temos nossos problemas, e foi melhor assim, acredite!

— Eu não consigo entender isso.

— Quero que saiba que seu pai é um homem maravilhoso, e ele nunca vai se afastar de você. A hora que quiser pode ir vê-lo, ou ligar para ele.

— Ele é o melhor pai de todos, o amo muito.

— Bom, o que acha de entrarmos e almoçar? Passamos muito tempo nessa piscina e minha barriga já está roncando. Vamos chamar seu irmão e sua avó.

— Está bem!

Elisa e Liz, chamam Breno e Marta e depois entram, o dia estava sendo gostoso, mas ainda assim, faltava um membro na família.

Passaram-se dois meses, e Breno perguntava cada vez mais por Murilo, conversava com ele somente por telefone e vídeo-chamada, o que não era a mesma coisa. Elisa já voltara à sua rotina de trabalho e se ocupava com seus pacientes, pois precisava ocupar a cabeça e não ficar pensando na dor de sua separação.

Ela e Murilo não tinham se visto nesse período, e não tinham decidido ainda os termos da separação deles. Marta ficara triste com a notícia, e Otto e Rosana também, os dois continuavam a frequentar a casa de Elisa e tinham por ela o mesmo carinho, e ainda a considerava sua nora. Eram uma família unida, apesar de tudo, e todas as decisões eram compartilhadas e comunicadas.

Ao sair de seu consultório, numa sexta-feira, Elisa recebe uma notificação de agora seu advogado, já que Murilo não cuidava mais dos assuntos dela. Ele finalmente havia entrado com o pedido de divórcio, e ao ler aqueles papéis, Elisa para de respirar por alguns segundos, pois ainda tinha esperança de que Murilo voltasse para casa. Ela sai de seu consultório e decide ir até ele, não estava disposta a desistir tão facilmente, por mais que respeitasse e entendesse a atitude dele, não podia aceitar sem lutar por seu marido.

Ela chega ao escritório dele e sobe direto, não pede que a anunciassem, pois corria contra o tempo. Ao sair do elevador, ela se encaminhava até a porta da sala dele, mas em questão de segundos, a secretária dela se coloca à sua frente, impedindo que ela entre direto.

— Me desculpe, senhora, mas o senhor Murilo está com uma cliente.

— Uma cliente?

— Sim! Não posso deixa-la entrar, sinto muito.

— Eu posso esperar, pelo menos?

— Claro que sim! Aceita um café?

— Não, obrigada! Vou me sentar ali, com licença.

Elisa se acomoda numa das poltronas na recepção e fica esperando Murilo sair com a tal cliente. Evidentemente estava morrendo de ciúmes dele, e não era nada agradável saber que seu marido estava trancado com outra mulher na sala. E se ela fosse atraente? E se ela fosse bonita? E se Murilo e ela estivessem tendo um caso? Os pensamentos dela eram recheados de dúvidas, pois mesmo Murilo tendo entrado com o pedido de divórcio, ele ainda era seu marido.

Duas intermináveis horas depois, finalmente a porta do escritório dele se abre. Elisa pensara em ir embora uma centena de vezes, mas a medida em que o tempo ia passando e ninguém saía daquela sala, ela ficava mais enciumada e não queria sair dali. A mulher que acompanhava Murilo era lindíssima, mas muito diferente dela. Era loira, cabelos que iam até a cintura, alta, muito magra, seu sorriso era radiante. Elisa procurava algum defeito naquela mulher, queria odiá-la, mas era impossível, pois ela era simplesmente perfeita.

Assim que Murilo bate seus olhos em Elisa, ele muda sua expressão completamente, seu sorriso morre nos lábios, e sua testa franze, seu maxilar se contrai, e naquele momento, Elisa se arrepende completamente de estar ali, pois pelo que conhecia dele, Murilo não gostara de vê-la.

— Senhor Murilo, sua esposa estava te esperando.

— Esposa? Você me disse que estava separado! — Pergunta a loira perfeita.

— E estou! Precisa de alguma coisa, Elisa?

— Bem, eu........não é nada, estava passando por aqui perto e decidi vir, vim falar dos nossos filhos, mas vejo que está bem ocupado, posso falar com você outro dia, ou posso te ligar e tratamos isso por telefone, na verdade não sei porque não fiz isso, ao invés de te incomodar!

— Falar dos meus filhos não é incômodo algum, mas se é urgente, podemos conversar por alguns minutos em minha sala, acho que posso me atrasar por uns minutos. Você me espera aqui fora, Fernanda? Prometo que não vou me demorar.

Fernanda? Por que não tinha a chamado por SENHORA FERNANDA? Ou então pelo sobrenome? E que compromisso era aquele que ele tinha? Era evidente que Murilo estava envolvido com ela. Havia percebido os olhares dos dois, os toques suaves dele nas costas dela, tinha percebido o incômodo da secretária dele ao vê-la ali, ela só não queria se atentar aos sinais. Elisa não podia se senti pior, havia sido uma idiota em ter ido tentar salvar seu casamento, mas pelo menos, tinha feito o que estava ao seu alcance, pelo menos havia tentado.

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Comments

Ameles

Ameles

quando a confiança se quebra é difícil, e na realidade foi o que se quebrou de certa forma na mente dele duas vezes ele foi trocado por outro

2024-11-27

0

Ameles

Ameles

e vai piorar quando descobrir tudo pois indiretamente sim foi culpa do acidente mas principalmente das mais escolhas da Elisa

2024-11-27

0

Ameles

Ameles

Elisa não aprendeu nada, mentira e omissão tem perna curta, uma hora ela vai descobrir e vai ser pior

2024-11-27

0

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