Capítulo 04

Ao amanhecer, Elisa se levanta, faz sua higiene pessoal, e se arruma. Desde a noite anterior em que conversara com se marido sobre o passado, estava apreensiva, pois não queria ter que encarar novamente o homem que havia a engravidado, ainda na adolescência, porém, o que importava, era a vida de sua filha, e ela estava disposta a absolutamente tudo.

— Bom dia, meu amor! Estou pronto, e podemos sair em poucos minutos, não quero que vá à comunidade sozinha, pode ser perigoso.

— Bom dia!.....Amor, não me leve a mal, mas......eu prefiro enfrentar o passado sozinha, e além do mais, eu cresci naquele lugar, não acho que alguma coisa de ruim possa me acontecer.

— Eu não teria tanta certeza, já se passou muito tempo desde que você saiu da comunidade, e apesar de saber que a maioria das pessoas que moram lá, são pessoas de bem, ainda assim, é importante você estar ciente dos riscos.

— Eu entendo, e agradeço sua preocupação e cuidado comigo, mas eu preciso fazer isso sozinha. Não sei como Júlio vai me receber depois de tanto tempo, não sei nem se ele vai se lembrar de mim.

— Impossível não se lembrar de você, minha princesa, mas eu espero sinceramente que ele não coloque seus olhos em cima de você! Confesso que estou morrendo de medo de que você se afaste de mim, mas não posso impedir que volte o ver, temos que fazer isso por nossa filha. Me sinto egoísta de pensar nisso nesse momento, mas somente em pensar que eu posso te perder.........chega a doer, não posso evitar.

— Você não está sendo egoísta, eu sei que me ama, e é natural essa insegurança, mas acredite........não sou mais aquela jovem inocente de dezoito anos que engravidou de um malandro. Sou uma mulher de trinta e cinco anos, com uma família maravilhosa e com um homem perfeito ao meu lado. Não precisa ficar inseguro, não existe a menor possibilidade de eu sentir alguma coisa por aquele homem, ele não irá nos separar.

Elisa dizia aquelas palavras, e tinha absoluta certeza que nada do que acontecesse a separaria de seu marido, pois o amava verdadeiramente. Ela sai de sua casa ainda muito cedo, entra em seu carro, e dirige até o lugar em que havia crescido. Ao adentrar cada vez mais a comunidade, quase não reconhecia o lugar, pois estava completamente diferente, parecia que estava em outra cidade, a comunidade tinha absolutamente tudo. Havia muitos comércios, as casas tinham aumentado consideravelmente, e nem de longe era a sombra de um lugar simples em que havia crescido.

Ela ainda tinha em sua mente alguns pontos de referência de onde Júlio morava, já que seu marido havia dito que ele se encontrava exatamente no mesmo lugar. Ao se aproximar do lugar, seu coração começara a disparar, pois não tinha ideia de como era a aparência do homem que ela havia se entregado pela primeira vez. Ela então estaciona seu carro no meio fio, e fica observando atentamente a oficina que levava o sobrenome do homem que havia partido seu coração pela primeira vez: OFICINA MECÂNICA RODRIGUES. Em questão de segundos, sua mente ia se inundando de recordações do passado.

Verão de 2001...

— O que acha de fazer uma viagem de formatura, Elisa? Agora que recebi um aumento no meu salário, posso pagar uma viagem para você, o que acha? — Pergunta Marta, mãe de Elisa.

— Não quero que tenha esse gasto comigo, mãe! Eu sei que nossa situação financeira melhorou bastante, mas não quero que gaste dinheiro comigo.

— Mas você acabou de se formar no ensino médio, já tem dezoito anos, é uma menina responsável, e eu quero tanto te presentear com uma coisa importante, e eu sei que quer muito ir para a serra. Está decidido, não se fala mais nisso, eu quero te presentear, afinal, sempre foi minha melhor amiga, desde sempre somos somente nós duas, passamos muitas dificuldades juntas, eu sei que se sacrificou muitas vezes, te privei de muitas coisas, e agora que estou ganhando melhor, nada mais justo do que te fazer feliz.

— Está bem, mãe! Se é assim que a senhora quer, e se a senhora pode, eu aceito essa viagem de presente. Mal posso esperar para fazer minha primeira viagem sozinha!

— Tenho certeza que será inesquecível, meu amor. Eu nunca pude viajar sozinha, eu sempre fui empregada doméstica, e trabalho em casa de família desde os treze anos, e saber que seu futuro será diferente do meu, me enche de esperança. Não que seja vergonhoso ser empregada doméstica, porque não é, mas não é nada fácil abdicar de sua casa, sua família, para servir outra família.

— Eu tenho muito orgulho da senhora, mãe! Nunca senti vergonha de morar na comunidade, nem de ter uma mãe empregada doméstica, sempre me orgulhei de todos os sacrifícios que a senhora fez por mim, e pode ter certeza, que eu vou estudar muito e conseguir uma bolsa de estudos integral, vou ser a melhor dentista desse país!

— Tenho certeza que vai conseguir, meu amor! Você terá um futuro brilhante!

Elisa contava os minutos para sua primeira viagem sozinha. Sabia que era um privilégio poder fazer uma viagem daquele jeito, pois morava numa comunidade onde a maioria das pessoas viviam em condições precárias, a maioria de suas amigas do colegial, ou haviam largado o colégio para trabalhar, ou então haviam engravidado. Ela ainda tinha algumas amigas da época da escola, mas sabia que seu futuro seria bem diferente do de suas amigas, não porque elas não se esforçassem, mas porque as condições não são iguais para todo mundo, e nesse sentido, mesmo ela sendo pobre, ainda tinha certos privilégios, pois sua mãe trabalhava para um importante juiz, e recebia bem para isso.

No dia da viagem de Elisa, ela estava eufórica, acordara cedo, arrumara os últimos detalhes em sua mala, e se despedira de sua mãe com um eufórico abraço.

— Aproveite essa viagem, minha filha. E qualquer coisa, ligue no meu serviço, na casa do senhor Otto, está bem?

— Não se preocupe, dará tudo certo!

— Juízo, senhorita Elisa!

— Juízo é meu sobrenome, mãe!

Elisa então parte, deixando sua mãe apreensiva, mas ao mesmo tempo sabia que sua filha era responsável o suficiente, e que tinha a educado de forma correta, além do mais, era hora de sua filha criar asas e voar, queria que Elisa tivesse as oportunidades que ela não havia tido. Marta então termina de se arrumar e vai para seu trabalho, pois seu patrão, Otto Hoffman, não tolerava atrasos, e não seria ela que correria o risco de desagradá-lo.

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Comments

Maria Helena Macedo e Silva

Maria Helena Macedo e Silva

🙄📖🤝

2024-05-28

1

Telma Oliveira

Telma Oliveira

será tesse Júlio vai dizer eu ajudo se vc voltar pra mim e aí como fica Murilo?

2023-10-04

4

Ide Oliver📚

Ide Oliver📚

Muito linda a amizade entre mãe e filha♥️💝🩷

2023-06-20

2

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