Os exames de Elisa e Murilo haviam saído em tempo recorde, mas as notícias não haviam sido nada boas.
— Eu sinto muito, senhor e senhora Hoffman, mas nenhum de vocês dois poderá ser o doador.
— Eu não acredito! Eu sou a mãe, tinha certeza que poderia ser a doadora!
— Infelizmente, não! Mas isso acontece, é mais frequente do que a senhora pensa. Agora o que temos que fazer é achar alguém compatível o mais rápido possível, pois o tempo da filha de vocês está se esgotando. Sugiro que vão para casa e avisem todos os parentes, amigos e pessoas próximas para que façam os exames para descobrirmos alguém adequado. Não percam tempo!
Ao ouvirem aquelas palavras, Elisa e Murilo saem apressadamente do hospital e começam a saga em busca de alguém compatível. Avisaram toda a família, amigos, e até os funcionários de ambos. Todos os dentistas que trabalhavam com Elisa e todos os funcionários dos escritórios de advocacia de Murilo haviam aceitado fazer os exames.
Uma semana se passa, e agora corriam contra o tempo, mas a cada resultado negativo do exame, o coração deles ficavam apertados. Àquela altura Breno, o filho deles já havia descoberto que a irmã dele estava no hospital, pois não poderiam mentir para sempre, sem contar que um menino de dez anos, é bem esperto.
— Minha irmã vai ficar bem, não vai?
— Claro que sim, garotão! Sua irmã é forte, logo, logo, ela estará aqui em casa com a gente — Dizia Murilo, tentando passar segurança para seu filho.
— Eu posso “ver ela”, papai?
— Ainda não, mas assim que ela puder receber visitas, eu prometo que te levo até lá.
A vida de Murilo e Elisa havia se transformado numa angústia sem fim, pois a única coisa que faziam, era tentar achar alguém compatível. Não dormiam direito, não comiam, tampouco estavam bem psicologicamente. Os dias eram exaustivos, mas ainda assim, se mantinham unidos. Todos, absolutamente todos os funcionários, amigos, familiares, e até alguns clientes de ambos haviam aceitado fazer os exames para descobrirem a compatibilidade, porém, quando o resultado da última pessoa saíra, o mundo de Elisa e Murilo desmoronado novamente, pois havia dado negativo.
Naquela noite, Elisa chorava silenciosamente em sua cama, pois não sabia mais o que fazer.
Murilo entra no quarto e se deita ao lado de sua esposa, a abraça e tenta confortá-la, mesmo ele próprio se sentindo destruído.
— Acharemos uma solução, minha princesa.
— Mas não resta ninguém mais, Murilo! O que faremos?
Murilo se mantinha em silêncio, não tinha certeza se deveria tocar num certo assunto do passado, mas mesmo assim, não se tratava somente dele, e sim, da vida de sua filha.
— Acho que você sabe muito bem o que devemos fazer, não é? — Diz, Murilo, a contragosto.
Elisa para de chorar no mesmo instante, e o encara, pois sabia exatamente sobre o que seu marido estava falando.
— Você não espera que eu remexa no passado, né?
— É necessário, meu amor. Lembre-se que não é sobre nós dois, e sim, sobre nossa filha. Temos que pensar somente nela, é questão de vida ou morte.
— Você acha mesmo que teremos que chegar a esse ponto?
— Para ser sincero, acho que deveríamos ter feito isso desde o início, pois a vida de nossa filha é mais importante do que qualquer coisa, e não podemos descartar nenhuma possibilidade.
— Tem toda razão! É como você sempre diz, não é? Um problema de cada vez! Amanhã mesmo eu farei o que tem que ser feito! Eu confesso que nem cheguei a pensar em coisas do passado, pois eu tinha fé que conseguiríamos alguém, mas........agora não tem mais jeito, essa é nossa única alternativa.
— Sobre isso........Eu me adiantei, pois quando percebi que nosso tempo estava se esgotando e que ainda não tínhamos arrumado alguém compatível, eu comecei a cogitar a possibilidade de remexer no passado, e.........foi o que eu fiz!
— Então........você sabe do paradeiro dele?
— Sim, eu sei. Ele continua morando no mesmo lugar, ainda mora no morro das Laranjeiras, ainda vive no mesmo lugar em que vocês se conheceram.
— Eu jamais imaginei isso, confesso que nunca mais pensei nele desde que saí de lá. Não pensei que depois de tanto tempo, tivesse que revê-lo..........enfim.......não quero pensar nisso agora, quero somente salvar a vida de nossa filha.
— É o mais importante, meu amor!.......Elisa.............me prometa que, aconteça o que acontecer, sempre se lembrará que eu a amo?
— Não fale assim! Não acontecerá nada, eu também o amo. VOCÊ é meu marido, é o homem que me deu um lar, é o homem que me amou desde o primeiro momento que me viu, não tenho intenção alguma de reviver o passado.
— Tem certeza? Afinal..........Aquele homem foi o seu primeiro amor, e.........ele e o pai biológico da nossa Liz!
— VOCÊ, é o pai da Liz! Nunca se esqueça disso. Ele apenas foi o homem que contribuiu para que ela fosse gerada, mas quem esteve ao meu lado desde sempre, foi você.
— Promete que se sentir alguma dúvida quanto ao seu sentimento por mim, vai me contar?
— Isso não vai acontecer! Eu amo nossa vida e nossa família.........Amanhã tentarei falar com o pai biológico de Liz, mas minha intenção será única e exclusivamente para salvar a vida de nossa filha, nada além disso.
Ele então abraça sua esposa com muito amor, pois sentia que sua vida daria uma guinada completa. Estavam prestes a reviver o passado, e ele sabia muito bem a importância que Júlio havia tido na vida de sua esposa, afinal, dizem que o primeiro amor, é inesquecível.
Murilo Hoffman era um homem de 45 anos, era educado, charmoso, galante, cavalheiro, de boa família, e extremamente bonito e sedutor, por onde passava chamava atenção, pois sempre estava bem vestido e seu cheiro era inconfundível. Era filho de um importante juiz e crescera sabendo muito bem que seu destino seria o direito, pois desde pequeno demonstrava interesse pela advocacia.
Em sua juventude havia sido um garoto estudioso, o melhor da sala, era rodeado de amigos e garotas, mas seu coração pertencia somente a uma jovem, Elisa Martins, a filha da empregada de sua casa. O problema era que a menina parecia não se impressionar com o belo rapaz. Durante algum tempo, Murilo amou Elisa em silêncio, e sempre que tentava se aproximar da moça, sentia que não tinha chance alguma com ela, sem contar que eles tinham uma diferença de dez anos, e ele teria que espera-la completar a maioridade para se declarar.
Elisa era uma jovem negra, de cabelos crespos volumosos, sorriso largo, boca carnuda e olhos expressivos, corpo esguio, poderia ter sido facilmente uma grande modelo de passarelas. Por onde Elisa andava, chamava atenção, pois tinha uma beleza desconcertante, e uma classe invejável. Não demorou muito, para que Murilo se encantasse completamente por ela, pois Elisa saía da escola e ia até a mansão dos Hoffman todos os dias, depois da escola, pois a comunidade em que morava era um tanto quanto violenta. Na mansão todos conheciam Elisa e simpatizavam com ela, pois Elisa era uma menina doce, educada e simpática, e várias vezes ajudava sua mãe nas tarefas da mansão.
Agora, depois de tanto tempo, o passado batia à porta deles, os fazendo encarar as consequências de terem omitido algo tão sério. Teriam que lidar cada um com sua dor. Só restava saber o que sobraria, depois da tempestade.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Conceição Andrade
Tema polêmico. Comum, mas difícil de ser falado.
Parabéns pela escolha.
2025-02-27
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Ameles
sabia que um dos dois não era o pai biológico
2024-11-26
0
Anonyamor
Qdo li a sinopse eu percebi que algo do passado iria mexer com as estruturas dessa família
O amor entre o casal tem que ser forte ter confiança e companheirismo e não se preocupar com o que as pessoas irão dizer ou pensar
2024-09-29
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