| Lembranças do inferno

...Athos Gautier Martínez...

Athos desembarcou o caixote de madeira, Petrova estava ajoelhada lá dentro em cima de pregos, e com uma mordaça que continha espinhos na boca. Garantiu que a viagem dela fosse o mais desconfortável possível.

Chegou ao Galpão e foi recepcionado por Mateus com um aperto de mão.

—O que o traz aqui?

Disse animado.

— Um presente maldito. Gesticulou para caixa.

— Yuliya Petrova?

— A própria.

Mateus assoviou.

— Porra! Vou ligar para a peste agora mesmo.

Enquanto desligava o telefone, Vincent também chegou. Passou pela caixa enquanto ouvia gemidos.

— O que temos aqui?

Disse apertando a mão do filho e em seguida cumprimentou Athos.

— Um presente maldito. Yuliya Petrova.

Vincent assoviou meneando a cabeça e sorrindo em pura satisfação. O carro de Logan e Aurora chegou algum tempo depois, eles entraram no galpão.

Aurora viu Athos sentado ao lado do seu pai, uma caixa estava no meio do local.

— Pequena...

Eu me levantei e segui em direção a ela. Apertei a mão do Logan num cumprimento cordial e em seguida abraçei Aurora, olhando a sua barriga ja grande. Ela estava radiante. Um silêncio formou-se, foi Mateus quem dissipou o ambiente ambíguo.

— Não vai perguntar o que tem na caixa?

— Eu não preciso.

Aurora sorriu. Ela me conhecia o suficiente para saber que cumpria minhas promessas.

— É Yuliya Petrova.

Completou.

— O que quer fazer?

Logan perguntou ao ver um sorriso travesso surgir nos lábios da sua mulher.

— Eu não posso dar o que ela merece nessas condições.

Disse olhando para a barriga.

—E ela me deve. Me deve sangue, gritos e lágrimas. Esta ouvindo Petrova? Hora de acertamos as nossas contas.

— Vamos dar as Boas-vindas?

Mateus disse.

— Levem-na e traga-me um teaser.

Enquanto eles se divertiam com o presente, estava fora do galpão, um dos meus homens havia sido morto por Aaron. Olhei a foto que me enviaram, um recado dele, de quem achava que poderia vir contra mim.

O cerco estava se fechando para ele. Quando entrei novamente no galpão vi Aurora sentada em uma das poltronas com os pés em outra. Mateus, Logan e Vincent estavam na sala dando as Boas-vindas a Petrova. Me sentei ao seu lado desabotoando o terno.

— Obrigada Athos. Você está bem?

— Eu estou.

Eu menti, não estava bem, e sabia que ela havia percebido isso. Eu estava em crise, a mulher que resgatei não saia da minha cabeça, e quando recebi o relatório médico, eu divaga entre passado e presente. Eu raramente pensava na minha mãe Johanna, por que não importa as poucas lembranças boas que tivemos juntos naquele inferno, eu só conseguia me lembrar se seu corpo se decompondo na minha frente.

— Ele já tem um nome?

Mudei de assunto.

— Sim, Athos Alencar Turner.

Ela sorriu e passou a mão pela barriga e eu olhei para ela surpreso.

— Você é bom Athos, tem bondade em você.

— Eu posso?

Apontei para a barriga, Aurora assentiu que sim, eu pousei a minha mão sobre a barriga dela, sentindo alguns chutes, sorri.

— Quero te pedir algo Athos.

— Peça pequena. E será feito.

— Quando mandou aquele presente... Disse que eu fui o começo, assim como a aurora do dia. Athos, você diz que não existe nada de bom em você, e que por isso ninguém poderia ama-lo. Isso é mentira. Você é bom Athos.

Aurora segurou a minha mão.

— Promete para mim, que vai quando chegar a hora vai se permitir ser amado como você deve ser, e ser feliz como você deve ser.

Aurora disse com os olhos banhados em lágrimas.

— Eu prometo pequena. Eu prometo.

Prometi, mesmo sabendo que seria incapaz de cumprir tal coisa. Algum tempo depois Logan, Mateus e Vincent saíram da sala.

— Quer jantar lá em casa?

Vincent perguntou.

— Mande meus cumprimentos a Anne, eu retorno mais tarde ao México, ainda tenho assuntos pendentes.

Me despedi, e quando entrei no carro, recebi outra mensagem, dessa vez quatro dos meus homens haviam sido escaldados e pendurados na parede de uma forma um tanto grotesca. Ele queria mesmo fazer esse jogo? Estava com tanto ódio retido, que precisava extravasar de alguma forma, ou perderia a lucidez, a minha mente estava atordoada, as palavras da Aurora, foram as mesmas de Johanna, e eu me vi naquela jaula de novo, era sufocante, parecia que estava sentindo o odor, vendo o meu pai rindo de forma diabólica, a cabeça que foi arranc*ada enquanto eu nem ao menos podia desviar o olhar. A minha mente estava sendo puxada para lembranças daquele inferno.

— Para onde senhor?

— Atlas, vá para o Hades.

Eu precisava de controle, domínio, se eu perdesse a lucidez, mil mortes não aplacariam a fúria dentro de mim.

Atlas dirigiu até a boate, desci do carro e fui em direção ao elevador, que levava ao verdadeiro destino e ao único que interessava a mim. Imediatamente abriram as portas para que eu entrasse. Desci até o local já movimentado fui em direção a área reservada.

Passei os olhos pelo lugar, uma morena com uma roupa de latex, expondo seus seios fartos e suas curvas generosas passou com um sorriso ao meu lado. No pingente da sua coleira um S. Era ela. Chamei o gerente e pedi um contrato.

Vi as preferências da mulher, nome, idade e exames, e depois de assinar fui até o bar e pedi um Bourbon, até que ela estivesse pronta para mim.

Afrouxei a gravata, apreciando uma mulher de mordaça, quase nua e ajoelhada, enquanto o som delicioso do couro era ouvido, juntos aos vergões que se formavam nas suas costas e pernas.

Alguns minutos depois, o mesmo gerente me entregou uma chave dourada, dizendo que tudo estava pronto.

Terminei o uísque devagar, e depois fui em direção ao quarto.

Ela usava apenas a coleira, e estava em pé, próximo a cama. Ela olhou para mim, e seria punida por isso. Limpei a gargante e tirei as abotoaduras.

— De joelhos Analice, e não olhe para mim.

Ordenei, em um tom rouco, e firme o suficiente para que ela entendesse quem era o dono da situação.

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