Cap-20 Um Caminho Perigoso

Bianca

Quando toda equipe do caso estava na minha sala, eu me levantei e tentei ficar tranquila. Todos me olhavam curiosos, no fundo deveriam saber que existia alguma coisa entre eu e Gabriel.

— Bom, eu chamei vocês porque não quero que tenhamos segredos.O que vou contar é parte da minha vida pessoal e pertence ao passado. Não quero falar sobre isso, eu confesso que, certamente, não falaria se não fosse necessário no momento. Eu já fui casada, hoje sou divorciada, o Gabriel Salazar foi meu marido há dez anos atrás.— ninguém escondeu a expressão de surpresa.— O divórcio foi bem dolorido, complicado, e com filhos, tudo fica pior. Então vocês podem pensar que tudo foi um plano de vingança ou sei lá. Mas acreditem, minha primeira reação foi não aceitar esse caso, quando o Wilson me trouxe. Mas eu estou disposta a seguir em frente se vocês me ajudarem. Eu quero ser bem minuciosa, seguir a linha do promotor anterior. A minha vida toda, meu desejo é lutar por justiça, e é só isso!

Eles me olhavam admirados e apreensivos.

— É claro que se eu puder me vingar, vai ser a cereja do bolo.— sorri e pisquei pra eles.

Todos riram.

As meninas se aproximaram e quiseram saber detalhes, típico de mulheres, eu também ia querer saber no lugar delas, e olhando pra elas, me senti segura em contar, mas não agora.

— É uma longa história. Esse não seria o momento.— falei.

— Que tal sairmos juntas depois do expediente? Acho que merecemos um tempinho entre colegas!— Ana Carolina sugeriu.

— Eu ia adorar, mas eu já prometi pra outra pessoa.— respondi com um sorriso.

— Não me diga que o bonitão do Wilson já te chamou pra sair?!— Deise falou empolgada.

— Você viu ele conversar comigo?— perguntei curiosa.

— É claro! Não perco nada do que acontece aqui! Que legal, ele é muito divertido, vai gostar! Ele deve ter uma pegada!— Deise falou suspirando.

— Não ligue para o jeito da Deisinha, ela é bem intensa, e casada, então fique a vontade com o procurador bonitão.— Joana D'arc falou dando tapinhas nas costas da Deise.

— E muito bem casada, querida! Se quiser dica de como apimentar a relação, é só me procurar!— Deise sorriu divertida.

— Podemos sair no fim de semana, o que acha Bianca?— Ana sugeriu.

— Tem algum lugar que poderia levar minhas filhas, junto?— perguntei.

— Ótima idéia! Podemos levar nossos filhos juntos! — Ana falou.

— Excelente ideia! Um parque?— Joana sugeriu.

— Vou fazer um grupo, e enviamos sugestões, aí vemos o que fica melhor. Mas gostei do parque, podemos ir de dia e ter liberdade de conversar.— Ana falou.

As meninas me colocaram no grupo, e então voltei ao trabalho. Eu li as anotações do promotor anterior pela milésima vez, embora eu quisesse prosseguir com a linha de investigação na construtora, algo me dizia que seria mexer num vespeiro. Mas até quando esses políticos iam sair com a melhor? Até quando o povo ia aguentar trabalhar e pagar o salário absurdo desses corruptos, e serem enganados?

Me reclinei na cadeira, o meu salário também é pago pelo povo, então o mínimo que eu tenho que fazer é cumprir meu papel. Decidi falar com o Valter, e veria com ele por onde começar.

Tentei ligar para o promotor anterior, mas ele não atendeu, liguei do meu celular, ele também não atendeu, isso atiçou minha curiosidade, então procurei saber mais, após o almoço, fui até a sala do Wilson, afinal, foi ele que me designou o caso. Ele estava conversando no telefone, mas deu sinal para eu entrar. Assim que encerrou a ligação, ele me olhou surpreso.

— O que trás sua ilustre presença a minha humilde sala?— ele brincou com um sorriso.

Dei risada.

— Eu preciso conversar com o promotor anterior, o Valter.— falei sem rodeios.

Ele assentiu pensativo.

— Você vai mesmo adentrar nessa sujeira, né?— ele indagou preocupado.

— Eu sinto que preciso. Foi pra isso que eu quis ser promotora.— respondi convicta.

— Posso ver o brilho nos seus olhos. Eu também já fui assim. É um caminho perigoso, Bianca. Aqui no Brasil, pessoas honestas que tentam fazer seu trabalho, podem ser consideradas loucas. Eu não vou mentir pra você, vai enfrentar todo tipo de adversidades e a maioria das pessoas não vão permanecer com você até o final, se deseja mesmo isso, é um caminho solitário e perigoso.— ele me alertou sério.

— Está querendo que eu desista?— perguntei desconfiada.

— De forma alguma, acho que a promotoria vai ganhar uma excelente profissional. Estamos em falta de promotores que queiram trabalhar na área eleitoral, seu crescimento seria iminente nessa área. Mas seria um homem mal, se dissesse que é um caminho fácil e tranquilo.— ele falou me olhando nos olhos.

— Eu sei... estou ciente disso. Claro que eu não sei como será, mas algo me diz que não vai ser fácil. Mas não estou aqui para me acovardar, eu quero fazer meu trabalho, e lutar pela justiça. Esse caso chegou nas minhas mãos e quero seguir com a linha de investigação do Valter, por isso quero falar com ele. Ele não me atende.— falei.

Wilson assentiu.

— Vou tentar falar com ele, o Valter anda meio afastado esses dias, acho que a doença dele tem deixado ele muito triste. Se não se importar, vou com você, para não assustá-lo e poder te apoiar. E qualquer coisa que precisar, pode me pedir. Estou à disposição.— ele falou se levantando.

— É claro que não me importo! Seria ótimo uma carona, estou cansada de andar de Uber pra todo lado.— reclamei.

— Não me diga que não tem um carro? Não sabe dirigir?— ele me olhou atônito.

— Me mudei à pouco tempo, vendi o carro que tinha. Sei dirigir sim. Só não tive tempo de procurar um carro pra comprar.— dei com os ombros.

— Nesse caso me permita te ajudar. Posso apresentar a concessionária que costumo comprar os meus, e te ajudar a comprar um. Me diga marca preferida, modelo...

— Eu não sei essas coisas... modelo, marca... meu último carro meu irmão que indicou.— dei risada.

— Me diga o que quer no carro, e te apresento as opções. Um assunto para o nosso encontro. Ainda está de pé, né?— ele perguntou atento.

— Sim, cumpro as minhas promessas, a menos que forças maiores me impeçam.

— Vou rezar para que o universo esteja a nosso favor, então.— ele juntou as mãos e olhou pra cima.

Sorri e saí da sala.

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