Cap-12 Ela Está De Volta

Gabriel

Era mais um dia de audiência, desse caso da construtora, o primeiro. Enquanto me arrumava, num típico traje de advogado, ensaiei meu discurso de abertura mentalmente. Mais uma mentira, com o amparo de brechas das leis desse país. Dez anos atuando como advogado do diabo, me dei bem com isso, mas nunca me senti realizado, ficar rico assim, polui sua alma, e sinceramente acho que a minha já está na posse do chifrudo, porque nem sinto que tenho mais.

Vestido com meu terno sob medida, sapatos importados, meu Rolex no braço, cabelo bem penteado, barrufei meu perfume preferido e desci. Janaína já estava acordada, e enquanto tomava café, já estava falando no celular. Cumprimentei a Maria que acabou de chegar, e enchi minha caneca de café. Ela logo se levantou e disse que talvez não viria para casa, pois faria uma viagem longa. Assenti e ela me deu um beijo rápido. Outro ponto negativo de ser político, é ficar viajando toda semana.

A audiência era logo cedo, mas antes de sair ainda dei um abraço no meu filho que já se arrumava para ir à escola.

Fui direto ao tribunal, acabei chegando mais cedo que todos, o que favoreceu-me de situar melhor. O meu assistente logo chegou, e minha irmã também quis participar da audiência, mesmo não sendo uma Salazar, ela cursou Direito. O lugar foi enchendo aos poucos, logo o dono da transportadora chegou, o senhor Reginaldo Soares, um grande filho da p***, como a maioria dos meus clientes. Quando tenho o privilégio de defender um empresário honesto, eu ganho o ano, mas esse cara é o tipo que suja você mais do que já estava.

— Viu o nome do novo promotor do caso? É uma mulher... — meu assistente falou.

— Sério? Novata, ou conhecêssemos?— perguntei olhando um tumulto na entrada, o pessoal da promotoria estava chegando.

— Novata eu acho, Bianca Diniz Garcia.

Quando eu ouvi aquele nome, a figura da minha ex-esposa já estava nítida. Não pude evitar a expressão de pasmado, deveria estar parecendo um cara que viu um fantasma do natal passado.

Meu, Deus! Os anos foram ótimos para ela! A mulher esbanjava elegância, beleza e poder. Como ela poderia estar mais linda? A morena alta, de lábios cheios, olhos sedutores e postura glamourosa, estava arrasando os corações, todos presentes não tiram os olhos dela. Numa saia justa, camisa e terninho, aquela meia calça e o salto alto do scarpin, só intensificou o charme e o ar obstinado dela.

— A mulher é gostosa demais! Vem pra mim xuxu!— meu assistente sussurrou ao lado.

— Cala a boca Vicente!— minha vontade era de dar um soco bem dado na cara dele.

Quando ela estava mais perto, notei que ela me olhou discretamente, mas não pareceu surpresa em me ver, ela devia estar bem inteirada do caso. Voltei a encarar os papéis na mesa, estava visivelmente abalado. Meu coração faltava saltar pela boca, minhas mãos começaram a suar, nem lembrava mais o que estava fazendo ali, tudo o que eu pensava era: "Ela conseguiu o que sempre sonhou, é uma promotora da justiça fodonä!"

Uma avalanche de pensamento me invadiu, senti que finalmente uma luz brilhou no fundo do túnel. Será que ela casou de novo? Como estaria minha filha? Cheguei a me beliscar, para garantir que não estava sonhando. Eu tinha que falar com ela. Como eu a abordaria?

Só voltei em mim, quando o juiz decretou o início da audiência. A advogada pública iniciou as acusações, nada que eu não esperasse. Mas ela fez uma excelente abordagem. Na minha vez, encarnei o advogado do diabo, e apresentei a minha defesa, mas não foi suficiente para encerrar o caso, o juiz decretou continuação. Embora não fosse o que eu esperava daquele caso, fiquei feliz porque veria Bianca outras vezes.

O Sr. Reginaldo estava claramente decepcionado, mas eu não dei a mínima, minha motivação era outra agora. Observei ela sair sorridente com sua equipe, notei que apesar de alguns anéis, nenhum expressava de casamento ou compromisso sério. Fui andando devagar, eu não ia sobreviver esse dia se não falasse com ela. Esperei quando ela estava apenas com uma das suas colegas e me aproximei.

— Bianca?

Ela me olhou com desdém, merecia aquilo, mas não me intimidei.

— Me dá licença, Deise, já estou de saída, pode me esperar.— a moça assentiu e saiu sem entender.

Ela me encarou, senti que os olhos dela me escanearam e de imediato me reprovou.

— Fala, Gabriel.

— Estou surpreso em te ver. Meu Deus, você está linda! Arrasando! Quando voltou para São Paulo?— minha vontade era de gritar: Sabe que ainda te amo?