Cap-14 Flashback

Gabriel(Flashback On)

— Nem sei porque vim aqui! Achei que seriamos civilizados e daria um jeito numa guarda compartilhada, mas já vi que eu não te conhecia o suficiente. É um canalha como seu pai! Eu também vou lutar. Os filhos vão ser apenas meus!— ela vociferou chorando e deu as costas.

— Não! Eu não faria isso... Bianca não vai!— eu tentei segurá-la, mas ela se desvencilhou com raiva, e me fuzilou através dos olhos, tive que recuar, e ver ela partir com qualquer resquício de esperança de que ela me perdoaria.

Depois dessa notícia, saí de casa feito louco, fui direto para a empresa, encontrar o advogado do divórcio. Estava püto da vida. Meu pai estava acabando comigo, me tirando tudo que eu mais amava. Queria uma guarda compartilhada, mas em termos de pais, os filhos devem ficar com a mãe, isso é o normal em qualquer mente sã. Só na mente irracional do meu pai, exigiria guarda total, ainda mais para Bianca, não existiria outra alma mais pura e capacitada como a dela.

Entrei na empresa cuspindo fogo, todos olhavam para mim perplexos, estava com a roupa que havia dormido, cabelo desarrumado, olhos vermelhos de chorar, rosto transtornado sofrendo de arrependimento, e agora meu pai havia cortado qualquer chance de perdão. Quando cheguei no andar, encontrei o advogado e meu pai, bebendo e dando risada.

— Que porrä vocês fizeram!— eu gritei com todo ódio que tinha. — Eu queria guarda compartilhada, merdä! Como fazem isso sem me consultar, o divórcio é meu, seus desgraçados!

Meu pai levantou e me encarou com raiva.

— Você está fora de si, por causa daquela moça caipira e sem classe! Esse divórcio tem que parecer ser culpa dela! Teremos seus filhos, isso mostrará que somos melhores para eles. Imagina meu netos longe do pai? Sem chance, vão pensar que não sou homem de família! Divórcio com guarda total sua, vai ser bem visto pelo público.— ele falou descaradamente.

— "Homem de família"?— respondi com escárnio.— Você nem gosta dos seus netos! Você está tirando os filhos de uma mãe, que não fez nada para merecer isso! A Bianca é uma mãe incrível, que eu nunca tive. Eu não vou permitir guarda total! Quero uma guarda compartilhada! Não sou o monstro que é pai, não vou tirar mais isso dela. Não está vendo que EU sou o errado, aqui? Eu traí, eu fui infiel, eu mereço sofrer, não ela. Eu imploro, não faça isso.

Terminei de falar em desespero, eu não queria arruinar as chances de ter Bianca de volta, estava tão perdido, sem rumo, não conseguia raciocinar direito, estava sofrendo, consequências dos meus próprios erros.

Meu pai me olhou com desprezo, sabia que ele reprovava minha atitude desesperada, ele nunca respeitou uma mulher, sempre foi frio e infiel, e para ele, traição é uma questão biológica, e não sentimental. Como eu fui idiota!

— Escuta aqui, garoto!— ele segurou na minha camiseta com raiva.— Você fez uma grande merdä, fique feliz por sua ex não expôr o vídeo e nos arruinar. Sabe que existem clubes liberais bem discretos para fazer o que fez. Agora me ouve, o público odeia traição conjugal, São Paulo é feito de nordestinos, imaginem se esses caipiras descobrem que você traiu uma deles? Eu vou tentar levar a melhor, das burradas que fez. Não se intrometa! Você vai apenas ficar quietinho e assinar o divórcio como eu quero! Ou então, vou arrumar outros meios de me livrar desse problema, ok?— ele concluiu me ameaçando.

Na verdade era pior, ele estava ameaçando a Bianca, conhecia bem os trabalhos sujos dele, e isso me deixou aterrorizado.

— Não separe ela dos filhos, pai. Eu prometo que vou ficar aqui, serei um filho obediente e farei tudo o que quiser, mas não deixe ela ficar longe dos filhos.— eu implorei, com lágrimas nos olhos.

Ele se afastou enojado, o advogado nos olhava pensativo.

— Podemos fazer um novo acordo, vocês podem dividir os filhos. Cada um fica um.— o advogado sugeriu.

Olhei para o advogado com raiva, que sugestão mais insana, separar gêmeos?

— Pode ser uma boa ideia...— meu pai ponderou.

— Não! Não é! Eles são gêmeos, como separar os dois, isso não!— protestei.

— Cala a boca, Gabriel! Olha pra mim, moleque atrevido!— encarei aqueles olhos azuis com indignação.— Você tem três opções, a melhor é aceitar esse acordo e ficamos com a guarda total do Miguel, e ela com Ariele. Segundo, ficamos com os dois e ela sem nada, terceiro, vai ter uma ex morta e filhos órfãos de mãe!

Engoli em seco, estava entre a cruz e a espada, qualquer opção seria um martírio, e eu sabia que meu pai cumpriria. Movido pela fraqueza mental, pela falta de coragem, (Bianca lutaria muito mais) mas eu estava exausto, minha cabeça nem raciocinava, a dor de arrependimento me consumia a alma, nesse dia, eu me perdi de vez.

— O que vai ser, Gabriel? Quer que eu escolha? Sabe qual eu escolheria.— ele me provocou.

Dentre todas opções, separar os gêmeos pareceu menos penosa na hora.

— Vamos separar o bebês.— balbuciei sentindo que estava terminando de condenar a minha alma.

— Só vou fazer isso, porque prometeu ser obediente e fazer tudo o que eu mandar. Porque meu jeito de lidar com as coisas é diferente. De agora em diante, você está nas minhas mãos, Gabriel. Sem aquela caipira, você vai brilhar comigo!

Ouvir a palavra "brilhar", foi o mesmo que "penar", porque eu sentia que acabara de fazer um pacto com o demônio.

— Uma coisa pai. Vou ficar do seu lado, mas nunca toque no nome dela, e muito menos na vida dela, nosso acordo dura enquanto ela estiver bem com a minha filha. Se voltar na sua palavra, eu também volto na minha.— falei sério.