Cap-18 Um Final Estranho

Gabriel

Enquanto me aproximava do meu quarto, eu pensei na enxurrada de acontecimentos que viriam, na quantidade de desafios que teria que enfrentar, sem nem mesmo saber se conseguiria reconquistar Bianca. Independente de tudo, eu precisava mudar, e tê-la de volta a São Paulo, foi o gatilho que eu precisava. Mesmo que ela não me desse uma chance, ia dar um jeito de quebrar aquele contrato que separava os gêmeos e pelo menos meus filhos, poderiam ficar juntos de novo e assim como Miguel poderia conhecer a mãe, eu também voltaria a conviver com minha garotinha. Conseguindo um acordo assim com a Bianca, já considerava uma vitória e tanta, pois depois de todos esses anos, o que eu merecia mesmo, era que Miguel fosse arrancado de mim, e me deixassem sozinho, como o escroto do meu pai é sozinho.

Mas eu seria diferente, não podia continuar na sombra do meu pai, repetindo os mesmos erros e me condenar a sofrer o restante da vida. Meu pai tinha como deus: o poder e o dinheiro, mas eu ainda sonhava com uma família que se ama, que é simples e equilibrada, que é feliz pelas pessoas ao redor, sem se importar com aparência, apenas se amam.

Entrei no quarto distraído, e quando levantei os olhos quase caí de costas.

— O que está fazendo?!— exclamei surpreso.

— Uma surpresinha!— Janaína falou manhosa.

Ela estava numa fantasia erótica, nunca havia se vestido assim para mim. Não pude evitar de percorrer os olhos pelo corpo dela, estava perfeitamente produzida, num espartilho de couro preta, salto alto, chibata na mão e uma máscara.

Fechei os olhos e suspirei, só podia ser um teste do universo, no momento que decidi fazer uma mudança, minha namorada fria, que nunca se importou com esses fetiches sexuais, aparece assim. Abri os olhos e ela estava deitada na cama de maneira sensual, eu a encarei perplexo. Será que era a Janaína mesmo?

Nesse momento eu vi que lidar com o meu problema sexual, seria mais difícil do que eu imaginava, talvez ia ter que pedir ajuda profissional. Todo meu corpo reagiu, é como se um lado animal e irracional tomasse conta de mim, como eu queria deitar naquela cama e acalmar a minha fera.

— Vai ficar só olhando, Gabe? Posso fazer uma dança antes... não sou boa nisso, mas posso tentar!— ela se levantou e começou a rebolar.

Se eu cedesse a esse momento, não era digno de reconquistar a Bianca, e nem meus filhos. Não podia deixar meu lado carnal me consumir, estaria fadado a viver cativo de vícios e paixões passageiras, e num eterno vazio. E eu sabia em a tristeza e solidão desse vazio.

— Janaína, para, por favor.

Ela se aproximou e passou as unhas no meu peito.

— Não está se contendo? Libere o animal! Estou louca para fazer um sexö selvagem, com você!

Meneei a cabeça em negação, que provação é essa?

— Esquece isso! Precisamos conversar.— afirmei sério, usando todo meu auto controle para não demonstrar fraqueza.

— Não! Eu não quero fazer papel de ridícula! O que foi? Não gostou da fantasia? Não me acha atraente?— ela reclamou decepcionada.

— Se fosse há alguns dias atrás, eu iria amar, mas hoje não.— respondi desviando o olhar.

— Qual a diferença?

— A diferença é que eu vou terminar com você, eu quero acabar com essa farsa que é a nossa relação.— falei de uma vez, precisava jogar a verdade e fazer ela recuar.

— Que tal um sexö de despedida?

Eu encarei ela sem acreditar no que ouvia. Nenhum protesto?

Se existe um Deus, com certeza Ele estava me testando, porque o banquete estava cada vez mais convidativo.

— Não, Janaína! Eu não vou fazer isso com você, e nem com a minha consciência.— respondi.

— E desde quando se importa com a consciência? Quando ia no clubinho dos homens, e me traía, tinha consciência? Você é patético!— ela pegou um robe e vestiu.

— Sabia disso?— indaguei atônito.

— É claro! E enquanto era só o clubinho, eu aceitei, mas agora é sua ex não é mesmo? Ainda ama ela. Não dá pra competir com o amor. Eu vou embora. Me dê uns dias para pegar as minhas coisas e voltar ao meu apartamento.— ela falou pegando umas roupas dela.

— Tudo bem, pode gastar o tempo necessário. Vou dormir com meu filho hoje, fique à vontade.— falei saindo do quarto.

Achei muito estranho a maneira da Janaína, primeiro querer me seduzir, depois falar da minha ex-esposa, e então, aceitar o término sem protestar?

Ou eu estou muito cheio de mim, ou tem alguma coisa errada, e isso me deixa preocupado. Alguém contou que a Bianca está de volta para ela, e ainda deu dicas de como me seduzir, coisa que ela nunca havia feito.

Entrei no quarto do Miguel, e me deitei ao lado dele, mas não preguei o olho, pensando em tudo que havia acontecido. Eu tenho medo do que ela com meu pai podem fazer, temo a segurança dos meus filhos, e também da Bianca. Se fosse simples, fugiria para uma ilha remota, somente eu, Bianca e os gêmeos. Como gostaria de garantir que tudo fosse ficar bem e seguro.

Mas tinha que entender, o caminho da redenção não é fácil, especialmente o meu, eu nasci numa casa onde o pilar sempre foi viver de aparências, e para isso mentir sempre foi certo, fazer o que quiser sem se culpar, também é certo. Agora estava sofrendo pela confiança que havia quebrado, e sem chances de poder proteger a mulher que eu sempre amei. Isso me deixa em pânico, eu sei bem do que minha "família" é capaz quando acuados. Esse é o momento de ser homem e falar mais alto do que qualquer um que tentar me rebaixar, especialmente meu pai.

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