Seita.

Em algum lugar, 2011.

- Entre... - uma voz me dizia.

Não me recordo da última lembrança... sei que estava em um carro com alguns homens, um deles o José Cubas, porém não faço ideia do que aconteceu. Esfrego os olhos e reparo que agora estou diante de uma enorme porta de madeira só um pouco aberta. Só um pouco de calafrio eu tive. Só um pouco de coragem ao tentar dar o primeiro passo. Só um pouco de atenção eu tive do olhar impassível do homem com vestimenta esquisita que me pediu para entrar.

Era escuro. Estava de noite. O piso era como um tabuleiro de xadrez e isso me fez lembrar Cubas. Quando olhei para trás percebi que ninguém me acompanhava e a porta se fechou. Olhei para frente e, onde havia uma parte do corpo humano em tamanho gigante, saiu uma pessoa com mais uma daquelas roupas engraçadas. Se alguém saísse assim na rua as pessoas dariam risada, contudo, por alguma razão, sinto medo desses tipos.

- Em geral eu digo para não ter medo, mas não vou mentir para você... tem motivos de sobra para estar amedrontada - e o cara foi se aproximando.

É um senhor de uns quase cinquenta anos e na sua roupa há um número. Paro de prestar atenção ao ouvir:

- Nessa sala não entram mulheres, ou melhor, até entram, mas não saem... e você sairá. Eu prometo - uma mensagem de alívio?!

- O que acontece com as mulheres que entram aqui? - pergunto já me arrependendo de ser tão curiosa. Meus lábios tremem e sinto as pernas fracas, todavia procuro posar de forte.

- Não são bem mulheres, porque são muito jovens, mas são fêmeas ainda puras. É melhor você não saber o restante. O conhecimento é sempre bom. O conhecimento é sempre ruim - um enigma.

- O conhecimento... por que há o lado bom e o lado ruim? - tento focar na filosofia da situação e esquecer a maldade perversa e diabólica que fazem naquele piso.

- O conhecimento é sempre o saber. O saber envolve uma verdade e uma mentira. Quando você sabe, automaticamente, você sabe da verdade e da mentira ao mesmo tempo - o que ele fala faz todo o sentido.

- Tipo... quando você sabe que a Terra é redonda sabe também que ela não é plana. É assim? - pergunto com um exemplo.

- Nesse caso você acha que sabe, mas não sabe ao certo. E nem vai saber. Era melhor outro exemplo, mas não estamos aqui para isso - o que ouço não consigo mensurar.

- Por que estou aqui? - volto a me concentrar em outra coisa. Ao menos ele me garantiu que eu sairia... ou então pode ter mentido.

- Está aqui por muitos motivos - ele fala e vai andando e fazendo sinal para segui-lo e, sem muitas escolhas, acompanho-o e o velho continua - está porque é inteligente. Porque é curiosa. Porque sabe de algumas coisas. Porque nós queremos que esteja aqui, principalmente - e conclui.

- Nós... quem? - afinal eu só via um homem.

- Nós não vamos responder as suas perguntas. Só vamos lhe dar algum saber - o velho fala enquanto chegamos em uma outra sala, essa bem mais quente, acesa por tochas. Sinto-me como se estivesse em uma época medieval.

- Que... - penso em falar um palavrão, mas desisto, então completo - interessante... e se eu recusar ouvir? - queria ver suas intenções.

- Começo a duvidar de sua inteligência... o que vai fazer? Vai dar um jeito de machucar os ouvidos até perder a audição? E se a informação for escrita, vai ferir os olhos para não enxergar? Por favor, seja mais prudente. É bem simples. Vou falar umas coisas e vou abrir a porta para você sair - e ele aponta para uma outra porta de madeira, diferente da que eu entrei.

- Então pode falar, pois estou com pressa - eu só queria que aquilo terminasse.

- Você se chama Leila - e sentou-se em uma das cadeiras de madeira que tinham ali... fez sinal para eu sentar, mas fiquei de pé e ele, apoiando os cotovelos na mesa, continuou - sonhava em estudar Filosofia e saiu de Campinho para Paulo de Tarso com isso em mente, porém sentiu necessidade por dinheiro e acabou entrando no sujo mundo da política. Ganhou algum dinheiro e agora deseja sair. Até agora quer fazer alguma observação no meu resumo? - ele mostrou pacientemente ter revirado minha vida.

- Pode ter uma ou outra imprecisão, mas vou deixar que termine - eu tinha um plano em mente caso tudo piorasse muito.

- Para nós é muito fácil a resolução de problemas. Já viste aviões caindo, acidentes em estradas... qualquer coisa que as pessoas pensam ser obra do acaso poderia acontecer com a jovem Leila, mas não queremos isso. Achamos que seria mais útil ter seus serviços conosco. Está pronta para ouvir uma proposta? - ele perguntou como se estivesse oferecendo um cardápio, tamanha sua frieza.

- Claro - aparente entusiasmo e medo. Muito medo.

- Bem... há duas coisas muito boas em você. O sexo, esse preciso falar em primeiro lugar, pelo que ouvi dizer. E a segunda coisa é essa sua curiosidade, junto com sua inteligência e personalidade. Você é como uma aprendiz de espiã. Queremos você ao nosso lado - eis a proposta.

- Em troca o que ganho? - perguntei para ter mais tempo de pensar nas possibilidades.

- Está em aberto... o mais importante é que você deixa de perder... acidentes podem acontecer em Campinho, por exemplo... - ele deixa nas entrelinhas que minha família corre perigo e meu coração dispara - diga algumas coisas que deseja e veremos o que podemos fazer - o velho conclui com um sorriso malicioso, enfim uma expressão.

- Não acontecer nada de mal para mim e para quem eu amo é a primeira das condições - disse com muito gaguejo, mas ele entendeu e então continuei com um pouco mais de firmeza na voz - e queria liberdade - disse de forma vaga algo que é básico, não queria servi-los para o resto da vida.

- Volto logo - ele se levantou e saiu por onde entrou.

Fiquei esperando e finalmente cedi e sentei-me. Que situação insana...

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