Vitória.

Paulo de Tarso, 2009.

Um mês muito agitado. Depois de tanta lentidão o tempo parecia mais rápido enquanto trabalhava ainda mais. Pude acompanhar algumas gravações para horário eleitoral da TV e como é tudo falso... alguém acredita? Quantas pessoas, na verdade, assistem essa porcaria, que é obrigatória? Muitas contradições...

Talvez por conta da rotina, mas a realidade é que penso cada vez menos na minha família e na minha melhor amiga Anna... seria esse um indicativo que vou ceder e me submeter a mais e mais sujeira desse porco mundo? Há algum retorno? No dia seguinte procuro não pensar nisso, pois finalmente recebi dinheiro. Enfim, após dois meses trabalhando eu recebi. Um dinheiro que nunca havia recebido. A motivação que faltava para a reta final de campanha. Desde que soube o quanto iria demorar em receber que já havia decidido que esse era o momento para sair, mas resolvi continuar. Mais outro mês e iria receber essa quantia novamente. Preciso aguentar. E trabalhar.

Foi quando me dei conta... quando é que eu estava torcendo para os bandidos ganharem? E pensei mais e notei que as coisas são assim no nosso país. Levamos como uma competição esportiva, em vez de buscar realmente o que é o certo e o que é o melhor. Que vida difícil a nossa e parece que o Brasil está com isso encrostado, apenas uma ou outra região possui um pouco menos dessa cultura.

De qualquer forma o tempo foi passando e a vitória aconteceu. Pelos próximos quatro anos teremos Fernão na presidência do país. E pensar que eu, aquela menina ingênua do interior, já deu sua intimidade e fez um oral para o homem que hoje é o presidente, quem diria - urgh, verme nojento.

No dia da festa eu flagro o chefe pensativo. Resolvo perguntar:

- Senhor... tudo bem? - faço uma pausa enquanto penso em como sou boazinha mesmo para esses filhos da puta.

- Tudo sim, garota ingênua... - ele responde sem nem me olhar e fazendo pouco caso de mim. Normal. Resolvo tentar pegar algo de bom.

- E que tal explicar alguma coisa para eu ser menos ingênua? - e sento-me ao seu lado e fico o observando.

- Eu te prefiro ingênua, mas minha arrogância é maior e então vou te explicar. Estou feliz que o pacto deu realmente certo e o presidente, o verdadeiro presidente, está melhorando, mas não sei se ele vai querer ocupar o cargo máximo de novo - ele só revela parte dos seus pensamentos.

- Pacto... Fernão também fez para ganhar? - pergunto por achar que aquele verme não teria a menor chance.

- Com certeza, acha que alguém como ele ganharia qualquer coisa? - ele responde e confirma minhas suspeitas. Eu sabia.

- E como fica agora que ele é o presidente? - perguntei para testá-lo e para quem sabe receber mais informações de bastidores.

- Para mim não mudará nada, eu serei preso - Cubas comenta com um sorriso no rosto.

- Sério? - eu pensei em perguntar o motivo... melhor nem saber.

- Sim, preciso desse tempo longe dos holofotes - ele revela que, na verdade, é tudo uma estratégia.

Então esses corruptos só são presos quando isso lhes interessa. Que país é esse... só a porra do Brasil mesmo para ser assim.

- Então voltará a ter mais tempo para seu curso - Cubas comenta e se levanta, encerrando a conversa e praticamente me dispensando do trabalho.

- Ei, mas ainda preciso do emprego - isso me pegou desprevenida e comentei que ainda queria emprego (na verdade dinheiro).

- Vou te recomendar que trabalhe com Fernão, porém terá que se mudar para Capitalia - Cubas me fala uma opção.

Mudança para a capital do país... abandonar o curso superior... que vitória amarga. Cheguei a pensar que uma derrota me traria demissão e isso acontece independente do resultado - inacreditável.

Aproveito a noite chegando e procuro minha melhor amiga e conselheira:

- Amiga, tanto faz o que escolher... esse burro na presidência vai acabar com o país - Anna ainda está chateada com o resultado das eleições. Não apenas chateada, ela tem uma noção muito precisa de tudo de ruim que deverá acontecer.

- Verdade né - comento, porém nem entendo muito bem o porquê de sua resposta. Apenas confio. Queria voltar no tempo e ter estudado um pouco mais de política para não ficar tão por fora.

- Vamos nos falando por aí... vou sair do curso... o dinheiro está difícil e aqui não tem futuro para mim - Anna me solta uma verdadeira bomba. Quase caio no choro.

Conversamos um pouco mais... minha amiga explica que irá trabalhar em uma escola na região sul do país e que fará mudança de curso para língua portuguesa e estudará filosofia apenas por conta própria. MUDANÇA DE CURSO. Talvez seja o novo caminho que tenho que trilhar.

Não vejo motivos para continuar aqui em Paulo de Tarso sem a presença de Anna. Antes, claro, preciso ver se Fernão irá me contratar.

No dia seguinte eu falo - menos mal que apenas por telefone - com o vencedor da eleição que me confirma o emprego. Peço licença, pois preciso ir para a universidade e lá me informar sobre mudança de curso. Lá chegando eu vejo as opções que há em Capitalia e nenhuma delas me agrada, contudo há, na capital, o curso de Filosofia, então eu poderia continuar estudando o que gosto, mudando apenas de lugar.

Aproveito a folga e vou cedo para a casa da minha tia. Uma longa conversa, tanto com ela como com minha família, por telefone. Conto as novidades e as decisões. Ouço muitos e muitos alertas e fico sofrendo por notar a preocupação de todos comigo. De qualquer forma é uma oportunidade que não quero deixar passar.

O final desse ano de 2009 foi bem corrido, todavia passei em todas as cadeiras. Minha melhor nota e a única cadeira que realmente me dediquei aquela do único professor que respeito ali, o gringo. Viajei de volta para Campinho no período de festas natalinas e fiquei até a virada do ano com minha família e logo no primeiro dia do ano já estava viajando para Capitalia. Uma viagem tranquila de avião e em poucas horas já estava para chegar.

Leila, Leila... olha de onde você saiu e onde você está... que loucura... nunca imaginei que iria haver mudanças tão repentinas em tão pouco tempo.

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