Desabafo.

Capitalia, 2010.

Um tempo depois e comecei a pensar, refletir no que eu estava passando: As coisas estavam como eu queria e ao mesmo tempo não estavam. Eu queria estar estudando filosofia, e estou, mas não com o nível de excelência que sempre desejei. Eu queria estar trabalhando, e estou, porém não com aquilo que tenho afinidade. Eu queria estar ganhando dinheiro, e estou, contudo sem o caráter que sempre tive.

E aqui em Capitalia, capital do país e da corrupção, não tenho ninguém em que possa confiar. A pessoa que tenho mais proximidade é o José Cubas. Fiz uma ligação e pedi para ele uma conversa e ele aceitou me encontrar na minha casa essa noite. Sim, ele ficou preso o tempo que quis e depois foi solto. E ninguém fala nada, contudo nesse atual momento da minha vida não consigo ficar pensando no bem do país.

Nem me preocupei muito em me arrumar, talvez eu até ficasse nua durante o encontro e ele chegou com a mesma roupa social de sempre. Sentamos no sofá e começamos a conversa:

- Sabe... eu não sou tão fodão quanto pareço... - quem começa a desabafar é ele.

- Continue... - eu resolvi lhe dar ouvidos, com a deprimente esperança de uma reciprocidade.

- Apesar de, sem falsa modéstia, eu ser uma das cabeças pensantes de algo que vem desde o século passado a grande verdade é que recebo ordens. Até eu recebo ordens, acredite. Mesmo estando lá em cima na hierarquia há ainda pessoas acima de mim... - Cubas se lamenta e fico surpresa. Após um tempo de silêncio pensando eu falo:

- Entendo... o Lugo Marquez, não é? - fiquei sem entender o lamento, já que ele adorava aquela figura.

Ele deu uma gargalhada e depois disse:

- Estamos na mesma prateleira. As pessoas acima de mim não possuem nome. Estão nas sombras governando o mundo - e comenta voltando a ficar triste.

- Bem, já eu... - ia começar a falar de mim.

- Você é uma gostosa... por que não fodemos? - ele me interrompe...

- ... vou ganhar o que? - fico furiosa, todavia respiro fundo e procuro vantagem.

- O que você quer? - Cubas, pelo visto, não tinha nada em mente e me deixa a vontade. Aproveito para falar.

- Eu queria estar de volta a Campinho ou a Paulo de Tarso, longe da política e vivendo uma vida normal - de certa forma eu até consigo o desabafo que desejava.

- Ora, isso não é possível... aqueles acima de mim... - ele mediu as palavras e não revelou, mas completou - você sabe muito, muita coisa de bastidores - ele explica o motivo da impossibilidade.

- E se você me ajudasse a fugir? Eles não conseguiriam me pegar em outro país, certo? - vejo uma alternativa. Tem que ter uma saída disso!

- Então lá vai mais uma informação para você, dessa vez antecipada: Já existe um governo mundial que controla tudo e todos. Seu poder não é 100% atualmente, acontece que eles possuem planos maléficos para ganharem ainda mais poder. Em dez anos tudo vai mudar, é o prazo que eles comentam... uma certa coisa irá aparecer e eles, como paladinos, posarão de heróis - Cubas me diz sobre um acontecimento futuro e fico incrédula.

- Ou seja, mesmo em outro país eu não fugiria... - concluo com tristeza entendendo o nível de opressão que vivo.

- Exato. Eles te pegariam no aeroporto... ou se você fugisse pelo meio da mata uma hora ou outra precisaria comprar alguma coisa, então te achariam... você usaria alguma tecnologia de modo que eles conseguiriam te rastrear... a verdade é que nunca alguns seres humanos tiveram tanto poder sobre outros - conclui já tirando a roupa. É, vai rolar.

- E se eu vivesse como nômade, no meio do mato? - penso em uma saída radical.

- Então eles não precisariam se preocupar. Vá por onde for, eles têm sempre a vantagem, mesmo que as coisas não aconteçam cem por cento da forma como eles imaginam - Cubas já está pelado e me despindo enquanto termina de explicar. E pelo visto eu teria mais chances, mesmo que extremamente remotas, no Brasil mesmo.

Antes de rolar eu acabo pensando em uma saída... uma saída arriscada, é verdade, entretanto é a única que vejo. Devo jogar o jogo. Fingir-me aliada deles. Subir na hierarquia, acumular dinheiro e poder e viabilizar uma saída do sistema.

Paro de pensar ao receber a rola do Cubas em minha boca. Pago o boquete com maestria e deixo ele gozar como bem entende. Depois ele fica cansado e eu, já recuperada, aproveito para tirar uma dúvida...

- Voltando àquele assunto... você pode até não ser tão foda quanto as pessoas pensam, mas é foda o suficiente para sair do jogo, se quisesse - tento motivá-lo e saber se no seu nível existe uma forma de sair.

- Obrigado pelas palavras - ele responde ofegante e nem me dá a pista que queria.

Depois de se recuperar ele se veste e me dá um beijinho até que carinhoso. Quando José Cubas vai embora eu vou me limpar e, enquanto isso, volto a pensar no assunto... quem eu quero enganar, afinal?... eu nunca chegaria ao patamar de Cubas, eles nem deixariam, colocariam um limite, como parecem ter colocado no homem que acabou de me cobrir de porra. O domínio dessa gente é mundial e eles são perigosos. E o que eu ganhei continuando no jogo e ganhando a porcaria da promoção? Fui estuprada por aquele verme imundo e maldito... eu só queria ter colocado a ponta do pé nessa sujeira para pegar alguma riqueza e depois sair, mas onde coloquei a ponta do pé afundei em uma lama movediça e não dá para sair daqui com vida. E o pior é que nem é tanta riqueza assim. Eu nunca me senti tão burra e idiota. Claro, sou vítima desses canalhas, porém poderia ter feito outras escolhas. Só agora eu vejo.

Leila, Leila... se arrependimento matasse... apesar de tudo eu me perdoo... como eu poderia saber? Eu sabia que era ingênua, não tinha ideia do quanto. Como eu queria voltar no tempo e fazer as escolhas certas...

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