Perversões.

Paulo de Tarso, 2009.

Os dias parece que passam devagar após saber - e só de pensar nisso já me dá uma raiva - que não vou ter dinheiro no primeiro mês. E em mais um dia trabalhando naquele maldito partido e eu conheço uma nova pessoa. Mais uma pessoa desagradável, quem diria, ao menos não vai querer me comer, já que é uma mulher. Élida Coy é uma vereadora e me pediu ajuda em redigir um projeto. Quando eu fui ler seu rascunho...

A tal mulher simplesmente quer criar um projeto de abertura total na constituição, no que diz respeito ao relacionamento de incesto, ou seja, entre familiares, não importando a proximidade e querendo obrigar as igrejas a realizarem as celebrações - e olha que todos eles são ateus assumidos. Sério. Cada vez mais conheço essa ideologia mais tenho nojo. O pior é a população em geral não entender o quanto essa gente é má. E não somente entre si como também tentando manchar outros setores da sociedade.

Mais uma vez fiquei em crise de pensamentos sobre manter meu caráter ou fazer a porra do trabalho. E o pior que agora sei que não ganharei nada, só a partir do segundo mês. Resolvi me fazer de doida.

- Bem, senhora Coy - fui formal - eu não tenho muita experiência com esse tipo de tema, acho melhor procurar alguém que possa lhe ajudar - queria sair daquela situação. Aliás, aquilo nem era minha função, cadê os funcionários dessa doida? Eu achei que só trabalhava para o José Cubas.

- Certo, certo, é que eu soube que você era estudante de filosofia, pensei que poderia agregar mais alguma coisa - a mulher fala me tomando o papel e demonstrando irritação.

Minha vontade foi de dizer: Eu sou estudante de filosofia, não psiquiatra, para conversar com uma desorientada como você, velha. Fiquei calada. A dona Coy foi saindo e fiquei olhando para ver o que ia acontecer. Quando ela já estava perto da porta e achei que só ia embora uma mulher apareceu e... rolou um beijo na boca. Logo me veio na memória minha inocência em achar que poderia não ser fodida apenas por ela ser mulher... ainda tenho muito o que aprender nesse mundo cão.

Meu chefe, o José Cubas, acabara de chegar também. Eu quase não o vejo por aqui. Pensei em aproveitar para lhe perguntar sobre a senhora Coy. Quando ele se aproximou, para ir devagar, eu falei:

- Quem são aquelas duas? - fingindo não saber sobre a Élida Coy. A outra realmente não fazia ideia de quem fosse, apenas a namorada dela ou algo assim.

- Ah, sim, aquelas são Élida e Érika Coy, são mãe e filha. Élida você já deve conhecer, não? - ele perguntou por conta dela já ser uma figura pública.

- Sim, sim... - eu fiquei pensativa - incrédula, na verdade.

Mãe e filha... projeto de incesto... beijo na boca entre as duas... eu não devia, mas resolvi perguntar:

- A senhora Élida tem mais filhos ou filhas? - e cada vez mais perdia a vontade de lhe perguntar sobre o projeto dela.

- Sim, ela tem um filho, que é comprometido... por que quer saber? - Cubas me pergunta.

- Nada, só curiosidade. Ela parece uma senhorinha bacana - comentei encerrando a conversa.

Aquela tal senhorinha bacana devia ter uns cinquenta e poucos anos... o beijo pode ter sido coisa de mãe e filha, digamos até que seja isso, mas e o filho dela? E se o filho dela for comprometido justamente com a irmã... talvez com a própria mãe?! Melhor deixar de pensar nessa família. É tudo tão sujo que nem tenho coragem de comentar com Anna.

No final daquele dia de trabalho o senhor Cubas já tinha ido e revejo uma pessoa que vive andando por lá: Glenda Roscharff. E estava sozinha.

Dessa vez notei até outra mudança. Seu cabelo estava lindo, parecia ter saído do salão agora, com a tintura renovada. Estava mais jovem, sem dúvidas. E olha só quem apareceu logo depois: Fernão Andrade, o maldito verme canalha.

Enfim, deu a hora de terminar meu serviço e fiquei espionando aqueles dois, que começaram a conversar a sós, distante de todos. E notei a mão boba daquele verme no bumbum da casada. Dois adúlteros, mas em se tratando desse partido esse é o caso mais banal, pelo que vi hoje.

Saí e ainda flagrei um beijo na boca entre eles. Geralmente eu sentiria nojo, mas só em saber que outra mulher que fará o papel de amante me deixou mais aliviada. Era sexta e totalmente sem vontade fui para a aula.

E nem teve aula... o professor faltou. Na verdade isso é meio que comum e pelo que ouvi falar não é só aqui em Paulo de Tarso, mas em todas as universidades federais - e talvez estaduais - do nosso amado país. Por que o Brasil é assim? Tenho certeza que nos países onde os bárbaros não tomam de conta as coisas fluem de maneira melhor. Quer dizer, o que é o professor faltar e não dar nenhum tipo de explicação e a universidade não ter nenhum plano B comparado com o que vivenciei hoje na sede do partido?

Pego Anna para conversar a sós e falo:

- Amiga... sinto que estou mudando sabe... ganhando novos limites do que é tolerável - comentei sem lhe dar detalhes, ela não merecia saber.

- Leila... Eu sou boazinha demais pra te dizer “eu disse”, então... apenas pense bem, tá... - mais uma vez ela me aconselha a sair desse mundo da perversão.

Depois os nossos amigos em comum chegam e mudamos o assunto e depois vamos cada um para um lado. Em casa, na casa da minha tia, fico me perguntando novamente se valeria a pena continuar nessa sujeira por um dinheiro que vou demorar a receber... eu já enfiei mesmo o pé na jaca, logo que eu receber eu vou tratar de sair. Pronto. Estou decidida. Dois meses de trabalho, apenas um de salário, ao menos vou parar de estar presente com esse pessoal tão... - não sei nem mais que adjetivo usar, preciso aprender os piores nomes possíveis para conseguir atribuir o valor que esse pessoal merece.

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