Anna.

Paulo de Tarso, 2009.

Além de muito bela - e gostosa - Anna começou a mostrar que era também a mais inteligente, admito e não com inveja e sim com orgulho de sermos melhores amigas:

- Eu li uma frase do maior filósofo brasileiro que me fez lembrar aquele lance de censura - ela começa.

- Quero saber... e quem é o maior filósofo brasileiro? - perguntei com franqueza, não fazia ideia de quem seria, certamente não era ninguém daquela Universidade.

- É o Mário Ferreira dos Santos. A frase é “Defendo todas as ideias quando justas. Não pertenço a nenhuma delas, pois penso por mim e sempre que minhas ideias encontram semelhança com uma posição filosófica faço-lhe justiça. Procuro saber o pensamento de todos, não me submeto, porém, a nenhum” - e comentou com uma precisão absurda, deixando-me boquiaberta.

Eu não sou a mais inteligente, mas sou esperta o bastante para saber que ela não lembrava com clareza da frase ontem e por isso só disse hoje. E isso não é nada demais, não precisamos decorar frases ou coisas assim. Pedi para ela repetir e logo depois da repetição concluí em voz alta.

- É, realmente, um filósofo daqui jamais diria isso... você também está decepcionada com o curso e mesmo assim pretende continuar? - perguntei para ela buscando ver algum tipo de reflexo, pois era assim que eu estava me sentindo e pensando. E como temos afinidade eu esperava que fosse a mesma situação.

- Não sei se irei... eu tô conhecendo um outro filósofo muito importante... e para ser filósofo não é necessário esse tipo de curso, vide os maiores, os filósofos gregos - e lembrou-me daqueles que eu mais respeitava, Sócrates, Platão e Aristóteles - amo esses gregos.

Anna também me apresentou esse outro filósofo brasileiro e me contou de seus vários e vários livros e do que ele já tinha feito. Eu estava me sentindo como uma bebê, engatinhando, enquanto ela estava bem mais pronta do que eu, no que diz respeito ao conhecimento filosófico e em geral também. Tão pronta que pensava em não continuar o curso. Em alguns aspectos eu saberia que iria regredir com o curso, porém ao final eu poderia aprender alguma coisa com o professor gringo - disparado o melhor até agora - e teria o diploma e com isso espero uma facilidade maior em ter um emprego. Um emprego de verdade, não a bolsa do C.U.

A conversa com Anna teve que acabar, uma aula - chata - iria começar. E ainda naquela noite ela e Victor já estavam se beijando em público e logo depois da aula confirmaram o namoro para nosso grupo. Reparei algumas pessoas nos olhando, evidentemente olhando mais para o casalzinho, alguns homens lamentando e outros com inveja de Victor e as mulheres todas ressabiadas, tentando esconder inveja e energia negativa, mas em vão para minha percepção. Quando passei no curso não imaginava que teria esse tipo de coisa, as pessoas no interior parecem mais positivas, com uma ou outra exceção.

Logo eu vi que era mais um ponto negativo da Universidade. Não bastasse colocar antolhos nos novatos o ambiente era péssimo e tóxico em sentido literal. Teve um cara que veio para a aula, que estava com um cheiro insuportável, e tivemos que ficar aguentando, tanto o mal cheiro como o comportamento drogado. Senti que Anna não ficaria por muito tempo. E ela saindo talvez levasse Victor. E se Bernardo sair eu ficaria sozinha ou teria que me juntar em outro grupo.

Nos dias seguintes eu fiquei conversando com Anna para minha amiga aguentar ao menos até o fim do ano e ela consentiu, talvez nem sabendo o quanto sua presença era importante para mim, tanto em questões de socialização como em conhecimento. Sempre que podia, minha amiga vinha mais cedo me ver no C.U. e conversávamos, não dentro do prédio, mas fora e longe do ouvido de todos, temendo a censura. Uma veterana do C.U. uma vez me perguntou sobre o motivo de tanto papo e inventei que era conversa de mulher e, para reforçar mais ainda, revelei, pedindo segredo, que o Victor tem um pauzão - que cara de pau eu tive, eles que me perdoem. Claro, eu nunca soube exatamente disso, mas deve ter. E se a fofoca espalhar já sei que não posso confiar na tal veterana. Na verdade eu sei que não posso, porém teria a confirmação. Ela certamente perguntou para me censurar, caso fosse alguma conversa fora da bolha universitária e eu poderia perder a bolsa, esses alunos veteranos possuem uma certa - e incompreensível - moral dentro do curso.

O fim do mês chegou e nada de Anna me acompanhar na festinha que ia ter. Eu até pensei em chamar o Bernardo, contudo sabia que ele poderia interpretar errado e preferi nem lhe falar sobre a festa. Não queria que ele ficasse confuso e igualmente queria manter a amizade que tínhamos. Anna me aconselhou no sentido de eu me soltar, afinal era para isso que eu estava indo e não fazia sentido ser tão “careta” e ir para uma festa. Certamente teria muita droga e bebida e com isso não ia me envolver, entretanto se estivesse com sorte poderia me envolver com alguém limpo, ao menos sem o cheiro da bebida e desintoxicado... certamente não seria ninguém do meu curso e nessas festas sempre há estudantes de outros cursos.

Anna é tão minha amiga que até trouxe camisinha para mim - vê se pode. É praticamente uma obrigação social dos homens terem esse item, contudo sabemos que os homens em questão, moleques universitários, não são as pessoas mais responsáveis do mundo. Era bom eu ter aquilo comigo, afinal nunca se sabe. Agradeci Anna, que foi embora naquela noite de sexta com Victor. Bernardo havia faltado no dia, o que caiu como uma luva e seria meio constrangedor se ele quisesse me acompanhar.

E fui para a tal festa. Era no bloco ao lado. Calourada, como os universitários chamam. O nome é por conta dos “calouros” que é como alguns chamam os novatos.

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