Preparações.

Paulo de Tarso, 2009.

Esse ano teremos eleições em nosso país, apesar de não estarmos em ano par. De acordo com a carta magna que rege o país, o presidente que se afastar em caso de doença grave, como é o caso do atual presidente Lugo Marquez, que inclusive é do nosso partido, que está com câncer, deverá renunciar ao cargo e com isso novas eleições são antecipadas. Não bastasse as agitações na minha vida pessoal com mudança de cidade, entrada na universidade e trabalhar com esses canalhas ainda acontece essas coisas em cenário nacional.

Pelo que ouvi dizer, tanto onde trabalho como onde estudo, já há algum tempo o presidente Marquez estava com o tal câncer, porém o partido estava tentando a todo custo esconder. Mais uma corrupção, quem diria... de qualquer forma hoje o presidente anunciou na TV - em cadeia nacional, mas não a que ele merece - seu afastamento e com isso temos um mês de preparação para as novas eleições.

Ligando os pontos começo a entender que esse poderia ser o tema da reunião que teve com os caciques da nossa política na semana passada. A população em geral nem desconfia dessa sujeirada e os que sabem são cumplices. Ê Brasil...

Tudo está bem agitado onde eu trabalho. Estou precisando marcar reuniões e desmarcar outras por conta dessa loucura. Em todo momento ligações e a busca por ajustes. Resolvo nem ir à aula esse dia, apenas ir para casa e descansar. Quando decidi já estava próximo da hora de ir embora. E quase pegando minhas coisas para ir sou surpreendida: José Cubas, o meu patrão e líder intelectual do partido, convidou-me para ser sua secretária na reunião dessa noite, na sede do partido.

Inicialmente eu até fiquei honrada, contudo em se tratando dessa sujeira eu pensei melhor... e, além do mais, o patrão provavelmente vai querer me comer depois que acabar o falatório. Confirmei que iria, não queria nenhum deslize que evenualmente pudesse justificar uma demissão e dessa forma eu sair sem receber um salário sequer.

Passa os minutos e vamos para o local da tal reunião.

Sento-me ao lado do senhor Cubas e vejo algumas figuras conhecidas do partido entrando... e começo a ver alguns empresários... ué, eu ouço na propaganda política que o pessoal do partido é contra esses figurões, então o que eles fazem aqui, com sorrisos e apertos de mão? Nas escolas e universidades não dizen que são como inimigos?!

- Ei, ajude ali - José Cubas tira minha atenção e me aponta um grupo de jovens arrumando um equipamento.

Fui até lá e me abaixei, oferecendo ajuda. Eles estavam arrumando uma videoconferência. Nunca mexi nessas coisas, nosso curso é bem pobre em tecnologia e um dos jovens me sussurra:

- Pode voltar, moça, já olharam para sua bunda mais que o suficiente - e ele também deu uma olhadinha.

Que ultrajante... o que esperar desse pessoal, afinal. Voltei e fiquei o resto da reunião de cara fechada. Filhos da puta.

Finalmente a reunião começa e o primeiro a falar aparece na telinha para que todos vejam: É o presidente. Sua fala é interrompida por várias tosses e dá para ver alguma perda de cabelo. Não consigo olhar muito tempo, o cara é horroroso de feio e com câncer piorou ainda mais.

- Não se preocupe, em breve sua saúde será reestabelecida - José Cubas sussurra para mim, ou para si mesmo, enquanto olha com admiração aquele homem.

Fico assustada, era tudo muito estranho... de qualquer forma ele encerra sua fala e escolhe um sucessor e, para surpresa de todos, o escolhido foi simplesmente... Fernão Andrade.

Após o encerramento da videoconferência, começou um bate boca entre os que estavam mais próximos, discutindo sobre aqueles nomes, enquanto o próprio Fernão e também Glenda, mostravam-se felizes. Glenda, inclusive, ao lado de Fernão e o marido do seu outro lado e a esposa daquele verme do outro lado do novo líder. Começo a desconfiar que o marido de Glenda sabe do chifre e é feliz assim. De qualquer forma eu paro meus pensamentos ao ouvir.

- Escreva o nome dele, basta Fernão - José Cubas pede que eu trabalhe um pouco.

Eu escrevo, já estava preparada com caneta e caderninho em mãos e ainda não tinha escrito nada, então algumas pessoas pedem silêncio e começa um debate. A conversa girava entre a disputa eleitoral. Deu para notar claramente o descontentamento dos empresários que eu conhecia. Havia outras figuras ali que pareciam mais neutras, mas não reconheci ninguém - provavelmente eram mais discretos em seus negócios ou eu mesma que sou ruim em não conhecer bem esse pessoal.

Em resumo, a reunião terminou com algumas coisas certas, como o nome do nosso partido para concorrer, Fernão. Muitos partidos farão apoio ao nosso, o Partido Vermelho e Roxo, Partido Vermelho e Lilás e o Partido Vermelho e Verde. Outras coisas são especulações. Dizem que o Partido Azul e Roxo está entre o descendente de europeu chamado Bocaccio e o militar General Cipó; o Partido Azul Claro deve mandar o ex-presidente dos anos 90 chamado Tinoco, junto com o Partido Verde Oliva. O Pastor Saene deve tentar mais uma vez vencer pelo Partido Azul Marinho. Tudo isso anotei conforme mandou o patrão.

Todo esse papo chato de política me deixa enojada. A reunião acaba e todos vão saindo. Sinto-me aliviada.

- Agora sim, posso ir, certo? - pergunto para o senhor Cubas.

- Eu te levo em casa, antes vamos só passar em um lugarzinho... preciso relaxar - já até imagino qual seja o lugar... minhas suspeitas estavam certas.

Já estava na lama, entretanto há um ditado que diz “o lixo de um é a riqueza de outro”. Procurei saber do Cubas alguma informação privilegiada. E ele só disse alguma coisa após me fuder mesmo e acho que era melhor nem ter me falado:

- O pacto já foi selado, em breve o presidente Marquez começará a melhorar - e mais uma vez fiquei na dúvida se falava comigo ou só.

Pacto... com o diabo? Só pode ser.

Onde fui me meter, meu Deus, não esperava que houvesse um porão no fundo do poço. Resta saber a profundidade...

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***