Calourada.

Paulo de Tarso, 2009.

É a hora da festa. Eu sou uma garota do interior e mesmo não sendo tão tímida posso dizer que nunca havia sequer pensado em uma festa assim, as festas no interior, mesmo as maiores, são diferentes. Não fazia ideia que o ambiente universitário fosse tão... sujo, em muitos sentidos - muitos mesmo. Alguns moleques já estavam caídos no chão, enquanto seus amigos, se é que dá para dizer isso, riam deles. Outros estavam tão loucos que estavam tirando as roupas apesar do frio e um deles, de fato, ficou pelado com aquela coisa murcha aparecendo.

Enfim, não era um lugar que eu queria estar, porém, enquanto me afastava, percebi um lugar um pouco mais aconchegante e até silencioso. Havia uns casaizinhos se formando, provavelmente coisa de ocasião de quem também não gostava daquela sodomia que acontecia. Também avistei um outro lugar que estava escuro, a iluminação pública, porém de algum tipo de tabaco aceso me tirou qualquer vontade de ir até lá. Enquanto eu pensava para onde ir um cara veio por trás de mim e perguntou:

- Oi. Estou sem companhia, também... - logo ele notou que eu estava como um peixe fora d’água, o que não era difícil de notar.

E passei a reparar nele rapidamente. Homem bem mais maduro do que os que lá estavam, aparência melhor que a média geral do lugar e por enquanto foi o que pude notar enquanto respondi:

- Pois é, eu resolvi dar uma passadinha, mas já estou indo - com uma cara de nojinho para a calourada.

- Deixa eu advinhar, de novo, não gosta nem de bebida e nem de cigarro. Acertei? - o desconhecido estava confiante. Acertou, miserável.

- É por aí... bebida até ok, mas não nesse tipo de ambiente - eu confessei um certo medo, quantas e quantas vezes ouvi de “boa noite Cinderela” e outras maldades. Não preciso correr riscos desnecessários.

- Enquanto vamos saindo podemos conversar mais? - ele se ofereceu. Só essa maturidade em falar já é cativante.

- Ok... - respondi e fui andando meio sem rumo. Talvez o cheiro com a bebida tenham me deixado um pouco desorientada.

Eu não esperava sair tão cedo, acho que não passei sequer meia hora na tal calourada, porém estava saindo com um cara que parecia diferente da maioria e estava encantada com essa diferença. Pensei em perguntar seu nome, mas já que ele não perguntou o meu fingi desinteresse. Se era assim o jogo jogarei de acordo com as regras.

No caminho, após algum tempo de silêncio enquanto caminhávamos lado a lado, o desconhecido perguntou se eu era solteira. Ri por ele desistir de adivinhar e respondi que era sim, solteira. Não devolvi a pergunta, porque tanto fazia ele ser solteiro ou não naquele momento. Na verdade prestei atenção ao redor e nem sabia mais onde estava.

- Ei, acho que me perdi - e comecei a rir, levando a situação com bom humor. Um pouco envergonhada por dentro, posso admitir, contudo não deixo transparecer.

- Bem... você tem transporte? - ele perguntou. Certamente tem.

- Não... - respondi com tristeza. Creio que tão cedo poderei ter meu próprio veículo.

- Eu tenho e posso te dar uma carona - o desconhecido disse, esperando de mim alguma reação, provavelmente positiva, julgando sua confiança.

- É, melhor não. Eu nem sei seu nome - mostrei minha desconfiança habitual, contudo lhe dei uma chance em reverter a situação.

- Eu também nem sei o seu, mas vamos de novo então. Eu me chamo José - e estendeu a mão formalmente. Agora sim.

- Leila - e apertei sua mão como se fosse uma mulher de negócios. Meu desconfiômetro foi desligado com sucesso.

- Meu carro está para lá - ele foi andando e não soltou minha mão, porém eu me saí daquela posição. Eu só sabia seu nome, não queria andar de mãos dadas como se já fôssemos namorados. A carona, no entanto, tudo bem.

Chegamos em seu veículo em silêncio e foi minha vez de puxar assunto. Queria saber mais daquele cara que ainda era um desconhecido.

- Qual curso você faz? Nunca te vi antes - comecei como quem não quer nada, entretanto sempre tenho comigo que quanto mais informações eu tiver melhor é.

- Filosofia, mas eu já me formei. Eu soube da calourada e vim - uma resposta de certa forma surpreendente, mas de acordo com sua idade.

Ele não me perguntou sobre meu curso, talvez não importasse, então continuei meu interrogatório:

- Onde mora? O que faz da vida? - duas perguntas para o deixar bem ocupado enquanto abria a porta do veículo para mim. Um carro popular seminovo, ao que parece.

- Bom, moro no bairro que tem aquele estádio enorme e descoberto - começou respondendo com uma referência futebolística, comum para brasileiros médios - e minha ocupação eu não posso dar muitos detalhes, só posso adiantar que trabalho para um partido político - ele respondeu com um certo ar de mistério enquanto ligava o carro.

Logo pensei que José era um nome muito genérico, provavelmente nem era seu nome de verdade. Eu pensei em perguntar o nome do partido, mas prestei atenção em uns panfletos no banco de trás do veículo e, julgando pela cor chamativa, certamente era o Partido Vermelho e Amarelo - sei o suficiente para saber que é um dos partidos mais corruptos.

- Bem... e você, onde mora? Ou melhor, para onde vamos? - o tal finalmente deu um pouco mais em cima de mim, especialmente na segunda pergunta.

- Meu endereço é lá em Campinho - comentei em risada e como o homem ficou como que congelado logo completei - eu moro com a minha tia, mas se um homem importante de um partido me fizer um convite posso até aceitar... - mostrei fraqueza. Estava carente e com vontade de fazer algo.

- Certo. Você faz que curso? - ele mudou a pergunta e até o tom.

- Filosofia, na verdade. Sou novata, desses que entraram agora - revelei toda sem jeito.

- Hum... depois te faço um convite... agora quero te levar para o motel para te comer - José, se for esse mesmo seu nome, foi bem direto. Explícito até demais.

Fiquei calada, deixando rolar e ver o que acontecia.

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