Vislumbre.

Capitalia, 2010.

O tempo estava passando como que depressa e ao menos teve a Copa do Mundo de futebol para me distrair de tudo. O Brasil perdeu e merecidamente a Espanha foi a campeã e com um futebol muito bem jogado. Pelo menos pelo que entendo de futebol, que é tão pouco quanto política. De qualquer forma comecei a olhar com bons olhos aquele país e o idioma até que é parecido com o nosso... se eu me tornasse amiguinha dos nojentos que comandam tudo eles poderiam até fazer com que eu viajasse para outro país, ao menos para conhecer.

Resolvi conversar com um dos caras - talvez o único - que poderia me ajudar, José Cubas:

- O que sabe sobre a geopolítica da Espanha? - assim que ele ouve já me devolve com uma difícil pergunta.

- Sinceramente, não muito... só o que passa na TV - fui honesta e evasiva.

- Se você só sabe o que passa na TV então você só sabe daquilo que a TV quer que você saiba. Tanto a mídia em si como aqueles que a bancam financeiramente - uma bela lição, mesmo vinda de alguém como ele.

- Desculpe, foi delírio meu... - reconheço que não tive uma boa ideia.

- Vamos aproveitar o encontro para foder, então - Cubas propõe.

E acontece.

...

No dia seguinte eu volto a lembrar que preciso jogar esse jogo da vida com mais cautela. Esse era meu pensamento, porém uma pessoa veio falar comigo e aquela aproximação poderia ser um risco de vida. Nikolle era uma jovenzinha, como eu, assessora do Pastor Saene. Ou melhor, era... a notícia que ela me deu em primeira mão foi que o homem falecera.

- Sei que você trabalha para o partido rival, contudo agora que o Pastor se foi vocês estarão com tranquilidade - enxugando lágrimas sinceras.

- Olha, eu sou só uma estudante de Filosofia, não sei muito sobre a política em sí... - fui evasiva, mas julguei entender aquelas palavras.

- Você parece uma pessoa boa, não sei por qual motivo está com eles, mas boa sorte - Nikolle falou em despedida.

- Entrei pelo dinheiro e não tenho mais como sair - revelei, apesar do temor. Esperança ainda é o sentimento majoritário.

- Sério?! Mas podemos ver uma solu... - ela falava, contudo a interrompi.

- Não, não... nós duas estamos sofrendo até risco de violências por estarmos conversando - eu a alertei sobre a maldade daquele pessoal.

- Obrigada pelo conselho... apesar de estar do lado certo eu vou sair disso... é como um filósofo brasileiro atual fala: O Brasil é o país que poderia ser, mas não foi. Não há futuro para nossa nação - e foi saindo. Eu, de certa forma, fiquei aliviada, embora ainda tinha esperança de encontrar alguém que pudesse me ajudar. Ao menos alguém em boa posição que seja imune ao mau que esse pessoal pode nos fazer, Nikolle era só uma inocente.

Aquela foi a primeira e única vez que desejei ter um relacionamento com uma mulher. Eu sofri estupro, passei por humilhações e sou quase uma prostituta e eu me via muito naquela jovem, todavia fiz escolhas erradas e pago por elas até hoje. Pensando melhor não é que eu deseje um relacionamento homo afetivo, mas sim aquela vida. Após tanto tempo ouvir falar em Filosofia me fez até pensar em Anna.

O tempo passa mais e o final de ano chega. Mais uma vez passo em todas as cadeiras e já tenho quatro semestres concluídos do meu curso. Nenhuma nota boa e nada interessante, ao menos poderei ter, se chegar até o final, um diploma. Mudo esses pensamentos academicos ao receber uma ligação. Sou convidada por José Cubas para uma reunião importante do partido. É um novo vislumbre para pegar informações que me possam dar algum tipo de vantagem para esse jogo, que é a realidade política brasileira.

O tema da reunião foi o cenário do primeiro ano de governo com as expectativas para o ano seguinte. Achei estranho o verme daquele presidente não participar, embora também fosse um alívio, e logo notei que não buscavam entregá-lo, apenas não fazerem tanta resistência. A oposição, que não é oposição de verdade, apenas para jogada política, seria responsável por tirar Fernão do poder por meio de impeachment. Conforme as leis que regem o nosso país, por ser em tão pouco tempo, ocorreriam já novas eleições. A ideia era clara, queriam trazer de volta para poder Lugo Marquez e sem o Pastor Saene na disputa não haveria necessidade nem de manipulação. Isso, obviamente, não foi dito em público na reunião, mas Cubas me revelou em sigilo. Aliás o velho falou bem pouco para todos, como sempre.

Depois de acertarem tudo que queriam acertar, aconteceu o encerramento da reunião. Todos foram para uma sala de comes e bebes. Após comerem um pouco cada um foi fazer o que gosta. Alguns começaram a usar drogas e ali haviam de todos os tipos. Outros começaram com práticas homo afetivas e os heteros organizaram uma suruba em outro lugar. Fui saindo à francesa, quando fui chamada.

- Ei, um pessoal importante quer te conhecer - Cubas me fala escondendo qualquer expressão facial que pudesse me dar alguma dica.

- Certo... - respondi e fiquei parada e dois caras de terno se aproximaram.

Eram dois seguranças. Junto com Cubas eu fui levada até um carro grande e preto. E muitos quilômetros estavam sendo rodados. Tempo depois eu já ouvia os fogos lá fora... eu deveria estar passando a virada de ano com minha família e não desse jeito... meu celular tocou, porém não tive autorização para atender. E tocou de novo e de novo, até um dos seguranças o puxar de minha mão e o jogar pela janela. Voltei a sentir temor e resolvi abrir boca:

- Eu vou morrer? - perguntei em sussurro para Cubas.

- Apenas conhecerá o pessoal da seita que te falei outro dia - ele responde e até ele parece um pouco incomodado.

Pelo que me lembro quando isso acontecesse eu não sairia com vida. Comecei a chorar e chorava tanto que soluçava e olhava para aqueles homens e não via nenhum sinal de compaixão.

Leila... onde foi se meter? - de novo...

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