Cubas.

Paulo de Tarso, 2009.

O Partido Vermelho e Amarelo já há algum tempo ocupa os principais cargos do país e não é de hoje a má fama que possuem. A figura central é um senhor grisalho de aparência sofrível, contudo sempre aparece sorrindo, seu nome é Lugo Marquez. É basicamente só o que sei sobre política, nunca me interessei à fundo sobre o tema. Claro, sei coisas básicas como o antigo presidente que era do Partido Azul Claro e que novas eleições entre esses dois partidos e outros acontecerão no final do ano e parou por aí.

José Cubas, então, fala sua proposta e um pouco mais de si mesmo, dava até para ver seu ego inchado, ao menos isso me daria segurança que ao menos parte do que ia ouvir certamente era verdade:

- Fico feliz que não tenha me reconhecido, embora uma vez ou outra meu rosto apareça na televisão. Eu sou o José Cubas, sou uma das três cabeças pensantes do maior partido que esse país já teve - eu fiquei calada e ele tratou de falar da proposta - você parece não saber muito de política, mas é uma bela jovem interiorana e precisamos disso - conclui aguardando alguma reação minha.

Eu cubro minha nudez com um lençol e penso naquelas palavras... não é que ele precise de mim, mas de qualquer jovenzinha ingênua e interiorana - que merda. Nesse jogo jogam dois e peguei o papel que ele me ofereceu para atuar.

- O que terei que fazer e quanto vou ganhar? - fui bem direta, já que eram negócios. Queria saber até onde iria aquele papinho.

- Quanto vai ganhar depende muito, pode ser só o mínimo ou pode ser tão rica quanto muita gente - ele fala passando a mão nos lisos cabelos penteados para trás e após jogar fora o que tinha de cigarro torna a continuar - o que vai fazer também é como uma escadinha, tudo por etapas. Inicialmente posso te conseguir uma vaga de estagiária e se você for bem poderá subir... assessora, secretária especial - José comenta algumas possibilidades enquanto procura por mais um cigarro.

- Certo. Vou ter quanto tempo para decidir e como avisarei da minha decisão? - pergunto só para saber mesmo, na verdade eu já tinha uma resposta.

José Cubas fez um sinal com a mão pedindo para esperar e acendeu o novo cigarrinho. Pegou a cueca e vestiu - nada de banho ou uma mínima limpeza sequer - e colocou a calça em seguida. Então pegou um cartão e uma caneta e começou a escrever. E me entregou o cartão.

Enquanto o intelectual terminava de se arrumar eu vi que era um cartão de faixada, de uma marcenaria. Claro, alguém misterioso assim e que gosta de agir nas sombras não teria um cartão de apresentação pessoal. No verso estava escrito um número de telefone e um e-mail. Quando terminei de ler olhei para cima e lá estava ele, já arrumado e pronto para ir embora:

- É só entrar em contato. Você tem vinte e quatro horas. Aqui um dinheiro para um táxi, eu já preciso ir - e ao menos me deu o dinheiro em mãos, se tivesse jogado na cama eu me sentiria uma puta das piores.

- Até mais, vou tomar um banho e logo vou para casa - eu não tinha muito o que dizer então meio que dei satisfações, até porque ele poderia ser meu chefe.

José balançou a cabeça positivamente e deixou o quarto. Ainda tinha quase uma hora já devidamente paga - eu espero - no motel e fui tomar banho e pensar melhor na proposta. Eu meio que já estava decidida em aceitar, afinal parece algo promissor e é o tipo da situação que não vai se repetir.

Era obviamente corrupção e eu não esperava nada de diferente vindo de um partido político, ainda mais aquele cheio de presos embora saiba que em todos - ao menos no nosso país - há essa maldita corrupção. Não faz muito meu estilo me sujar, contudo eu poderia entrar e jogar. Era como estar em The Vegas - uma famosa cidade americana no meio de um deserto - e após ganhar um dinheiro em um cassino estar passando em um trem. Preciso entrar. O que irei ganhar só saberei depois e ao final deve ter uma estação onde eu possa sair... ou na pior das hipóteses uma janela que eu possa me jogar antes que mafiosos venham buscar o dinheiro.

Saí do mundo das comparações e comecei a pensar no mundo real em si. Aquele tal José Cubas... acho que já o vi mesmo em algum noticiário... acho até que ele já esteve preso. O que Anna faria? Devo me aconselhar com minha família ou já é a hora de eu tomar minhas decisões?

Pensava nessas coisas enquanto terminava de me lavar. Fui me arrumar... saí de onde estava e peguei o táxi e ainda sobrou um pouquinho do dinheiro que Cubas me deu. Finalmente cheguei à casa da minha tia e nada de tomar decisões realmente definitivas. A única decisão que tomei foi não esperar as vinte e quatro horas de tempo, em doze eu já queria entrar em contato e falar sobre minha decisão.

Pouco tempo após acordar e seguir aquela rotina matinal de sempre eu liguei para o número do cartão. Quem atendeu foi uma mulher, que não se identificou. Perguntei sobre José e ela disse que trabalhava para ele. Então eu mudei minha decisão. Aquela mulher trabalhava para ele e estava só atendendo uma ligação. Não tem sujeira nisso - não parece ter, ao menos.

- Aqui quem fala é a Leila. Diga ao José Cubas que eu aceito o trabalho - pronto. Decisão tomada. Até que fui bem firme, estava um pouco nervosa e achei que iria gaguejar, que bom que não passei esse tipo de vergonha.

- Certo, aguarde novas instruções e guarde o sigilo sobre a situação até assinar o contrato - a voz do outro lado da linha comunicou e desligou o telefone.

Fiquei com aquela sensação de “fiz merda”. Precisava contar para alguém e já sabia quem: Anna, claro.

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