Estava chovendo a tarde toda, e eu estava sozinha, observando através da Janela do meu quarto, a chuva caindo brutalmente, ouvia o barulho dos trovões, e as gotas escorregando pelos vidros. Eu estava com frio, mas não me importava porque a minha cabeça estava em outro lugar. Estava pensando numa coisa, ou em alguém, especificamente.
Ontem eu vi como o Sebastian estava com ciúmes porque Todd estava perto de Cecília. Ele amava ela e estava tão claro que estava escrito na sua testa. Infelizmente para mim. Eu não sei o que faria se ele alguma vez estive com ciúmes de um homem que tivesse atrás de mim. Seria o dia mais feliz da minha vida.
Levantei da cama e abri o meu closet para encontrar o caderno que eu apontava sobre Sebastian. O caderno era novo, porque descobri a pouco tempo que eu estava apaixonada por ele.
O caderno estava numa grande caixa de madeira que eu guardava as minhas coisas que não queria que os outros vissem. Abri a caixa com a chave, tirei o caderno e voltei a fechar. Então percebi que o meu ursinho de pelúcia decapitado não estava onde sempre esteve. Junto da caixa de madeira que eu guardava as minhas coisas.
Procurei no meu quarto em pânico. Cecília deve ter tirado sem que eu percebesse. Procurei em cada canto do meu quarto e depois fui para o quarto de Sebastian e Cecília, mas não encontrei. Então, decidi ir lá para fora, mesmo com a chuva procurar nos caixotes de lixo.
Tudo bem que Ray não gostava de mim, mas eu guardava aquele ursinho porque foi a única coisa que Ray tinha me dado. Embora não fosse com amor, eu o guardava com bastante carinho.
Abri o caixote do lixo, e não havia nada. Já haviam deitado o lixo fora. Eu tinha perdido a única coisa que Ray tinha me dado. Ouvi o som do carro e eu sabia que era Sebastian. Ele chegava sempre antes de Cecília.
Me virei para olhar para ele e caí no chão. Sebastian saiu do carro e vinha correndo até mim para me ajudar a levantar. Eu estava já molhada e ele estava começando a ficar também. Eu adorava a forma como seu cabelo ficava quando estava molhado. Tinha escrito aquilo no meu caderno.
- Você está bem? - Ele perguntou sussurrando. Eu não respondi e ele me colocou em seus braços e me levou para dentro de casa.
Fiquei congelada olhando para ele enquanto me levava. Quis passar as mãos pelos seus cabelos e beijar ele. Mas ele não gostava de mim. Então fiquei apenas olhando.
Ele me colocou na cama, e se colocou de joelhos na minha frente e segurou o meu tornozelo direito com cuidado.
- Está com dor? - Ele perguntou. Seu cabelo encharcado molhava cada vez mais o seu rosto.
- Eu estou com um pouco de dor. - Menti.
- É só colocar gelo que vai passar. - Ele fez uma massagem no meu tornozelo.
- Aí! - Fingi um gemido de dor quando ele fez a massagem.
- Calma, pequena. - Senti um arrepio quando ele ele me chamou de pequena.
- Não precisa se preocupar comigo. Não quero que esteja por perto. Não queria que eu me afastasse? Então também se afaste! - Não sabia porquê tinha dito aquilo. Já estava arrependida.
Ele se levantou e olhou para mim como se o que eu disse tivesse doido. Mas eu sabia que não. Ele não gostava de mim. Então ele pegou numa toalha e colocou por cima dos meus ombros cuidadosamente, e saiu com uma triste expressão.
Assustei quando ouvi a música vindo do meu celular e o apanhei do criado mudo e atendi.
- Alô Connor!
- Oi Grace! Tudo bem?
- Claro! E você?
- Também estou. Você gostou das flores que eu mandei? - Flores? Que flores?
- Flores?
- Bem as flores vermelhas e brancas que eu mandei ontem. Eu quis entregar pessoalmente para você, então eu pedi pra o Sebastian entregar a você ontem. Ele me disse que você não estava em casa, então se ofereceu para entregar. - O que é que estava acontecendo? Sebastian não tinha me entregado flores nenhumas.
- Ah! Sim, as flores que você pediu para o Sebastian me entregar. Elas são lindas eu amei. - Menti.
- Que bom! Estou feliz por isso. E também gostou do que dizia no cartão?
- Claro que sim. Mas seria melhor ouvir você dizendo do que ler no cartão.
- Eu posso dizer. Decorei aquilo. - Ele riu e também tive que fingir uma gargalhada. - Bem, vou dizer. - Ele fez uma pausa. - Acho que todas as rosas do mundo não são o suficiente para eu demonstrar enquanto venero a sua exuberância, simplesmente palavras não chegam perto quando tento descrever sua pureza, seus olhos brilham como esmeraldas e seus lábios são vermelhos como rubis, seus cabelos dourados como ouro, só mostram o quão preciosa em todo o mundo você é.
Fiquei chocada com o que tinha acabado de ouvir. Nunca ninguém tinha dito coisas tão maravilhosas como essas. Bem, na verdade, Sebastian tinha dito coisas muito boas sobre mim há alguns dias. Parecia até que ele gostava de mim.
- Você é ótimo com palavras Connor. Eu gostei bastante.
- Ainda bem. Gostaria de saber se você não quer jantar comigo amanhã.
Ele era tão simpático e maravilhoso que eu não tive como negar. - Claro! Então até amanhã. - Desliguei imediatamente.
Levantei da cama que tinha acabado de molhar e fui tomar um banho quente para esquecer o que tinha ouvido e o que tinha dito.
[...]
Terminei de vestir. Ainda chovia e eu estava com tanto frio que usei um casaco de lã branco e calças pretas. Dificilmente usava calças, porque achava que não combinava muito bem comigo.
Também sequei o meu cabelo e saí do quarto quando terminei. A porta do quarto de Sebastian estava semiaberta e eu não desviei o caminho. Entrei para lá sem receio.
Sebastian estava colocando a sua cueca quando eu entrei e estava de costas para mim e a frente do espelho. Eu podia dizer que conseguia ver tudo. E ele era lindo.
- O que foi pequena? - Ele virou para me encarar quando terminou de colocar a cueca e olhou para mim de cima a baixo. - Você fica bem de calças.
- Não estou aqui por isso. - Cruzei os braços. Era mais por causa do frio.
- Claro! Você entra no meu quarto sem bater, me vê completamente nu e nem sequer fecha os olhos. Interessante!
- Eu não fiz de propósito Sebastian! - Minha voz falhou um pouco.
- Pelo vistos a dor no seu tornozelo foi temporária. Também é interessante.
- Você acha que eu sou uma mentirosa? - Infelizmente não deu para esconder a dor na minha voz.
- Você ouviu isso sair da minha boca?
- Não precisa. Eu sei que acha isso. - Desviei o olhar. - Porquê não me entregou as flores que o Connor mandou para mim?
- Porque eram horríveis e você ia odiar.
- Podia ter me falado ao menos que elas existiam.
Ele vestiu a calça e fechou o ziper. Eu olhei para onde suas mãos estavam e depois para seu tronco nu. Ele era tão lindo que me fazia duvidar da sua existência algumas vezes.
No meu caderno escrevi como ele era carinhoso, sexy, inteligente, respeitoso, sorridente e claro também escrevi sobre seu aspecto físico. Se beleza fosse crime, Sebastian seria o primeiro a ser preso e seria condenado a pena de morte.
- Você quer mesmo falar sobre isso? É que eu pensei que tínhamos que nos afastar. - Ele ergueu uma sobrancelha brincalhona. Fechei os meus olhos fingindo irritação extrema.
- Tudo bem. Não diga nada. Eu vou sair pra jantar com ele na mesma.
Ele estava colocando a camiseta, mas parou o processo por causa do que eu disse. Ele olhou para mim e seus olhos diziam "Você está louca Grace? Ou você é louca?". Pensei que o olhar realmente dizia aquilo, mas eu sabia que não estava errada.
Ele terminou rapidamente e se aproximou de mim com o rosto irritado. Segurou a minha mão e olhou para meus olhos. Ele estava com... ciúmes? Não! Não! Não! Não! Não! Não! Tem de haver outra explicação!
- Você nem conhece o idiota! E também está com o número de Lambert. O que isso faz de você?
- Não é da sua conta! - Falei. Não sabia como parar naquele momento.
- Você veio aqui para me dizer sobre o seu encontro com o imbecil do Connor?
- Claro que não! Eu vim perguntar sobre as flores que ele pediu para você me entregar e não para jogar no lixo.
- Eu fiz um favor a você! Você nem sabe nada dele. Onde vive, com quem vive, quantas namoradas teve, sua idade, seu nome do meio, em que universidade estudou, se era péssimo no colégio, se tem cachorro. Não sabe nada disso. - Ele aumentou o seu tom.
- Eu também não sei quantas namoradas teve, seu nome do meio, quantas namoradas teve, nada disso! - Soltei o meu braço. Era impressão minha ou eu tinha falado sobre a questão das namoradas duas vezes?
- Tive namoradas suficientes, e meu nome do meio é William, mas não é a mesma coisa. - Ele aproximou mais. Tinha que escrever aquilo no meu caderno. Sebastian William Welles.
- Você não queria que eu me afastasse? Eu estou tentando fazer isso, mas você também está me afastando dos homens que me querem. - O que eu tinha acabado de dizer soou horrível.
Ele se afastou irritado, cerrando a mandíbula e apertando os punhos. - Dos homens que querem apenas uma noite de prazer com você!
- Você também só quis uma manhã de prazer comigo. - Falei sem pensar e ele suavizou sua expressão.
- Eu lamento muito Grace! Eu não sei quantas vezes eu vou pedir desculpas, mas eu jamais machucaria você como eles vão fazer. - Ele voltou a se aproximar, e acariciou o meu rosto carinhosamente.
- Você não sabe isso. - Olhei para sua boca.
- Eu machuquei você Grace? - Perguntou. Fiz que não sem olhar para seus olhos. - Olhe para mim e me diz a verdade.
- Não desse jeito, Sebastian.
- Então de que jeito eu te machuquei? Me diz.
Olhei para ele. Ele tinha me machucado quando me pediu para me afastar e começou a me tratar mal. Mas jamais diria que estava apaixonada por ele. Ele só ia pedir que me afastasse mais ainda e possivelmente me olharia com desdém ou com pena.
- Eu não quero falar sobre isso Sebastian por favor! - Não consegui evitar as lágrimas. Doía estar apaixonada mas saber que ele jamais seria meu. Ele amava Cecília. Eu tinha inveja dela por isso.
- O fato de você chorar desse jeito, mostra que eu te machuquei muito. - Ele se afastou lentamente com o rosto preocupado e triste. - Desculpa Grace. O que posso fazer para que me perdoe?
Limpei minhas lágrimas com as costas das mãos. - Eu sei que a culpa não foi sua Sebastian. Não precisa fazer nada.
- Não posso ver você desse jeito, pequena, e fui eu quem fez isso com você. Eu fui um idiota e egoísta...
- Não! - Calei ele com uma das minhas mãos. - Eu não me arrependo daquele dia Sebastian.
Ele segurou minha mão e olhou para mim surpreso. - Não? Porquê não? Eu tirei sua pureza, a sua virgindade. De um jeito bastante errado. Sua primeira vez tinha de ser com alguém que você ama, - E foi. - e com alguém que também te amasse. - Na última parte ele obviamente quis dizer que não sentia nada por mim.
- Não quero mais falar sobre isso por favor!
- Tudo bem. Você vai sair com ele?
- Sim.
- Você não sabe se ele é um psicopata. Não sabe se é igual a Ray. Você acha que Ray sempre foi assim com a Cecília? Claro que não! Ele fingia ser carinhoso e perfeito. Você não sabe se Connor faria o mesmo com você.
- Porquê isso? - Perguntei. Se não era ciúmes então o que ele estava fazendo? Eu não conseguia entender.
- Porque eu quero proteger você! E se esse imbecil ou Lambert fizer alguma coisa com você, me diga Grace. Eu vou acabar com os idiotas. - Ele falou sério.
Caminhei até a porta, mas ele me fez parar. - Você faria isso Grace? Falaria comigo se alguém te machucasse?
Olhei para ele. - Claro que falaria. - Eu confiava nele. Saí sem dizer mais nada.
O que eu estava sentindo era uma vontade de dizer para ele o que eu sentia. Mas eu ia esquecer ele. Porque ele não era para mim.
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Atualizado até capítulo 97
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