Não esperava

                   Não podia parar de pensar. Eu quis beijar você, sim! Duas vezes! Eu quis beijar você, sim! Duas vezes! O que ele tinha dito não parava de passar na minha cabeça como se fosse uma música. Eu não sabia o que dizer para ele. Não sabia como reagir aquilo, não sabia o que aquilo significava, nem se era um problema grave. O pior era que eu não sabia porquê estava tão aliviada por ouvir aquilo.

                     Sebastian estava em pé, olhando para o nada, parado, passando a mão pelo cabelo de vez enquanto como se fosse resolver a situação em que estávamos. Uma terrível situação!

                       Suspirei e olhei pela janela do meu quarto. O silêncio era tanto que podíamos ouvir as batidas dos nossos corações mesmo a distância. Era um silêncio insuportável, eu sabia, mas não seria eu a dar iniciativa a uma conversa.

                      - Eu disse, que quis beijar você, duas vezes, Grace! - Ele repetiu, me fazendo virar e olhar para ele.

                      - Você disse que jamais teria algum sentimento por mim, Sebastian. Não está dizendo isso simplesmente para não me machucar? - Outra vez. Os homens são mentirosos e insensíveis. 77% não prestam, 10% são os homens que as mulheres sonham, e 13% são gays. É impossível que não seja verídico!

                       Sebastian sentou na minha cama, mas estava a uma distância considerável. Olhei para seus olhos azuis que pareciam confusos, e eu não sabia o que pensar.

                        - Claro que não! Eu estou dizendo a verdade. Você me atrai, Grace!

                       Fechei os olhos e voltei a abrir, para ver se era real, se ele estava mesmo ali dizendo aquelas coisas. Ele estava atraído por mim? Aquilo era errado de diferentes maneiras!

                      - O quê? - Foi tudo o que eu consegui dizer.

                     - Isso mesmo! - Ele disse sério. Eu levantei da cama, e andei pelo quarto de um lado para o outro. Aquilo não estava acontecendo! O marido da minha mãe, o meu padrasto não!

                          - Porquê? Eu não sou assim tão bonita, nem atraente! Porquê? - Minha voz estava em pânico.

                        Ele inclinou o rosto para o lado, e começou a me observar da cabeça aos pés. Estranhamente, eu gostava de ser observada por ele. O que também não podia ser!

                           - Você é linda, Grace! - Ele levantou, e se aproximou de mim. - Você é inocente e isso chama muito a minha atenção. Eu confesso. Você deve ser a mulher mais linda e mais sexy, e não se apercebe, e isso só a torna mais linda e mais sexy ainda! - Ele sussurrou me fazendo arrepiar da cabeça aos pés.

                         - Pára com isso Sebastian!

                        - Seus olhos são tão lindos, sua boca é tão perfeita, seu corpo, Grace! - Ele passou a mão pelo meu braço. - Sua pele branca e macia. Isso! - Ele fez um gesto mostrando o meu corpo. - Isso é um pecado!

                       Eu não podia ouvir mais aquilo. - Sebastian, me diga que você está bêbado por favor!

                     - Não estou! Estou 100% sóbrio e isso foi que você que provocou!

                         - Isso o quê? - Perguntei, e não entendi nada.

                        De repente, eu estava na parede, com o seu corpo apertando o meu, e seus lábios estavam nos meus. Eu vi ele com olhos fechados, com as mãos em cada lado do meu rosto me beijando e tentei, realmente tentei afastá-lo, mas não esperava querer mais os seus lábios. Não esperava desejá-lo também.

                      Fechei os olhos, e senti nossas línguas, dançando ao mesmo ritmo. Não sabia que era tão bom assim. Não sabia que ele podia me possuir assim. Eu só queria que durasse para sempre.

                Minhas mãos foram para os seus cabelos, e eu quis muito mais, mas ele se afastou. Eu me odiei por ter protestado com gemido bastante alto.

                         - Não se aproveite da situação, pequena Grace! - Ele sorriu de um jeito muito cruel e pervertido. Eu só queria que as paredes me levassem para outra dimensão.

                       - Eu não sou pequena! 

                      Ele olhou para baixo para mim, e acariciou o meu rosto. Respondi fechando os olhos. - Você é sim. Você é minha pequena, mas isso não pode voltar a acontecer está bem? Eu estou apaixonado por outra. Não vai acontecer outra vez. Entendido?

                        - Sim. - Gaguejei. Abri os olhos e senti meu coração sair do lugar.

                       Ele beijou a minha testa, depois os meus lábios castamente. - O que aconteceu aqui, fica aqui! Entendido?

                       - Sim, Sebastian! - Ele se afastou lentamente, e caminhou até a porta. Antes de sair, olhou para mim enquanto mordia o lábio inferior. Eu quase caí no chão com aquela visão. Porquê minha mãe, não podia arranjar um marido de cinquenta anos? Tinha de ser alguém como Sebastian? Ele era muito quente!

                         Ele finalmente saiu, e eu caí no chão e comecei a chorar por ser uma idiota. Eu amo a minha mãe, eu não podia! Não podia mesmo. Sebastian era meu padrasto. Mas eu não sabia o que fazer. Estava perdida. Completamente perdida nas teias daquele homem.

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