Fiquei toda noite sozinha enquanto Sebastian e Cecília foram jantar juntos. Eu estava com medo que Ray fosse aparecer novamente, e eu estaria completamente indefesa, e ele faria o que fosse comigo, mas não foi assim. Felizmente. A minha noite foi tranquila como sempre para dizer a verdade.
Me perguntava se de todas as mulheres do mundo, haviam apenas 7% que eram como eu, ou se na verdade eram 43%. A maioria das pessoas tinham pais sensatos e fantásticos que as levavam para passear e comer um sorvete, compravam brinquedos e ensinavam a andar de bicicleta, mas Ray não era assim comigo. Eu não sabia se havia algum problema comigo.
Ouvi a voz de Cecília e Sebastian, e também da porta. Eles estavam rindo e se beijando, eu sabia. Levantei da minha cama e me aproximei da porta para ouvir melhor.
- Você é a mulher mais linda da face da terra. - Ouvi Sebastian dizer, e confesso que aquilo doeu um pouco.
- A noite ainda é uma criança, eu tenho planos para você. - Cecília falou.
Ouvi a porta se fechar, e saí do quarto. Eles já tinham entrado. E eu sabia o que eles iriam fazer. Me aproximei da porta do quarto de Cecília e Sebastian e ouvi gemidos abafados.
Tentei voltar para o quarto e fingir que não ouvi nada. Tentei mesmo, mas foi mais forte que eu. Então bati a porta para que eles me ouvissem.
- Mãe? - Falei com a voz entrecortada. - Mãe, por favor! - Chamei novamente por ela.
Cecília abriu a porta e olhou para mim com o rosto preocupado. Sebastian estava sentado na cama sem camisa com o rosto que dizia "Pare de estragar meus planos Grace!".
- O que foi filha? - Cecília perguntou. Eu só precisava inventar um motivo pela interrupção. Obviamente sobre o Ray.
- Podemos conversar? - Perguntei e ela olhou para Sebastian por um segundo e voltou a olhar para mim.
- Agora? Não podemos conversar amanhã?
- Tudo bem. - Caminhei de volta para o meu quarto, e fechei a porta.
Eu estava queimando de ciúmes por saber que Sebastian estava com ela e não comigo. Ele fez com que eu me apaixonasse para depois me deixar nessa situação? Porquê?
Deitei na cama e fechei os olhos. Precisava acabar com aquilo de uma vez. Não podia estar com tanto ciúmes assim. Mas eu estava com ciúmes de Cecília, por estar com Sebastian, e com ciúmes de Sebastian por roubar minha mãe de mim. Agora eu estava em segundo lugar para ela.
[...]
Não sabia como, mas mesmo depois de ter dormido, aquele sentimento não desapareceu. Eu ainda estava com um pouco de raiva e também ciúmes. Ciúmes dos dois.
Como eu tinha dito pra Mónica uma vez, a vida é mais fácil quando se é solteira. E eu era solteira, mas estava apaixonada pelo homem errado. Não sabia como aquilo aconteceu.
Donna estava terminando de colocar a mesa e eu me sentei sem dizer uma única palavra.
- Está tudo bem, Grace? - Ela perguntou.
- Estou bem. - Servi suco no copo. Ela saiu dando de ombros.
Sebastian apareceu depois, sentando na mesa com um sorriso muito lindo. Deve ter tido uma noite fantástica com Cecília. Só podia. Ele olhou para mim ainda sorrindo, e serviu seu café.
- Bom dia Grace!
Não consegui evitar sorrir para ele. Parecia que estava sorrindo para mim. Só para mim. - Bom dia Sebastian!
Ele estava com o cabelo úmido e vestindo uma pólo azul e calças jeans. Estava muito lindo. Nenhum padrasto tinha de ser assim tão lindo.
Comi a minha sanduíche sem tirar os olhos dele, mas ele não olhou mais para mim. Como se eu não existisse para ele. Doía tanto saber que ele não sentia nada por mim. Doía no fundo do meu coração.
Cecília também apareceu com os cabelos úmidos. Cheguei à triste conclusão de que eles tomaram banho juntos, e que Sebastian jamais seria meu. Ele era da Cecília, e ambos se amavam. Eu tinha que esquecer aquele homem, mas como?
- Bom dia, filha! - Cecília falou sorrindo para mim. Eu não respondi. Fiquei olhando para a minha comida.
- Meu amor, me diz que você não vai trabalhar hoje. É sábado, e a gente tem que matar saudades do tempo em que tivemos longe um do outro. - Sebastian falou. Porquê ele disse aquilo na minha frente?
- Não se preocupe que hoje vou ficar em casa descansando.
- Ótimo! - Sebastian ergueu a chávena de café até sua boca perfeita.
Ele me disse para esquecer o que aconteceu, mas era impossível sempre que eu olhava para ele. Ele me beijou em todo o meu corpo, me abraçou, transou comigo, e fez com que eu me apaixonasse.
Eu detestava a dor, mas não importava o que eu fizesse, ela andava sempre comigo. Na verdade, já era uma parte de mim. Ou seja, não há Grace sem dor.
Suspirei.
- O que foi Grace? - Cecília perguntou.
Olhei para ela. - Nada! - Levantei da mesa e fui correndo até chegar no meu quarto, e fechei a porta com o trinco.
Deitei na cama em posição fetal e abracei o travesseiro. Minhas lágrimas caíram preguiçosamente, e tudo o que eu queria era desaparecer. Me afastar de tudo o que me magoava.
- Grace! Deixa eu entrar! - Cecília falou batendo na porta.
Minha voz estava entalada na minha garganta e não saía por isso, fiquei em silêncio. Continuei deitada na minha cama fingindo que ela não estava batendo na porta.
- Grace, por favor! Vamos conversar! Me deixa entrar. - Ela continuou batendo. - Por favor! Eu sei que você quer falar comigo, filha.
- Pode ficar com o seu marido e me deixa sozinha! - Falei alto o suficiente para ela ouvir.
- É por causa de ontem Grace? Entenda que você está sempre em primeiro lugar para mim...
- Mentira! - Falei a interrompendo. - Me deixa em paz, por favor! Eu quero ficar sozinha!
- Eu não quero que você fique sozinha. Vamos conversar filha não me trate assim. Por favor!
Esperei até que ela desistiu e continuei fechada no meu ninho de dor. Definitivamente, a pior coisa que eu fiz foi vim pra aqui. Eu estava melhor em Madrid.
[...]
Nem tinha percebido que tinha adormecido. Levantei da cama e entrei no banheiro para molhar o meu rosto. Me Limpei com uma toalha e voltei para o quarto.
Abri a porta e saí do quarto. Desci os degraus e fui para a sala onde Sebastian estava vendo têvê. Eu sentei ao lado dele, perto o suficiente para sentir seu toque, mas ele se afastou de mim e sentou no outro sofá sem tirar os olhos da têvê.
Olhei para as minhas mãos para que ele não percebesse como aquilo me afetava. E na verdade, me afetava muito.
Levantei do sofá e fui para a cozinha. Cortei uma fatia de bolo de chocolate e sentei na ilha.
Ouvi passos atrás de mim, mas não me virei. Já sabia quem era.
- Filha, você está melhor? - Cecília sentou perto de mim.
- Estou ótima. - Falei. Mas eu não estava bem.
- Desculpa por ontem. Agora eu estou aqui. Me diz o que você queria conversar.
- Esqueça! - Dei uma garfada no bolo.
- É sobre o Ray? Sebastian me falou que ele esteve aqui.
- Eu não quero mais falar sobre isso! - Disse um pouco irritada.
- Grace...
- Por favor me deixa sozinha. Eu não quero conversar.
- Desculpa se eu cheguei, e não tive tempo para você, mas isso não significa que eu não queira saber de você. Eu sei que pensa que agora que casei com Sebastian você está depois dele, mas não é verdade. Grace você é a pessoa mais importante da minha vida.
- Eu não mereço o seu amor. - Falei já chorando. O que eu disse era verdade. Depois do que eu fiz, eu me sentia indigna de seu amor.
Ela levantou e me abraçou. - Não é verdade filha. Nunca mais repita isso.
- Desculpa por tudo mãe. - Também levantei e abracei ela.
- Você não fez nada de errado Grace! - Ela passou a mão pelas minhas costas. Se ela soubesse!
Me afastei para olhar para ela. - Ray tem razão quando diz que a senhora devia ter abortado.
- Ele veio aqui dizer isso? Grace, você foi a melhor coisa que me aconteceu. Você nem imagina como é importante para mim. Eu não ia suportar te perder, seja de qualquer jeito, eu não ia suportar. - Suas palavras me fizeram sentir mais culpada ainda.
- Eu sei. Desculpa.
- Não peça desculpas. - Ela voltou a me abraçar, e beijou minha testa.
- Eu vou para o meu quarto. - Falei me afastando.
- Eu vou com você, e a gente conversa melhor está bem? - Fiz que sim e quando saí da cozinha, avistei com Sebastian. Ele estava no meu caminho, muito próximo.
- Sebastian... - Ele nem esperou que eu terminasse e passou por mim sem olhar para meu rosto. Porquê ele estava se comportando daquele jeito?
[...]
Cecília estava me mostrando as minhas fotos de quando eu era bebé, e Sebastian se juntou à nós. Obviamente evitando contato visual comigo. Ele não queria estar perto de mim, percebi. Não era preciso ser inteligente para notar aquilo.
- Essa é você quando tinha três anos. - Ela mostrou uma foto em que eu estava sentada usando um vestido verde e meias brancas, com um ursinho marrom na boca.
- Onde estão suas fotos Cece? Quero ver como você era quando tinha dezesseis. - Sebastian falou sorrindo.
Cecília mostrou uma foto dela grávida de mim. - Essa sou eu. Com quinze anos. - Ela era muito jovem. Parecia até uma criança.
- Uau! - Sebastian beijou o rosto da minha mãe. - Você sempre foi linda.
Cecília riu e mostrou outra foto. - Essa é do seu aniversário de cinco anos, filha! - Olhei para a foto e senti uma dor ao me lembrar do que aconteceu. Foi um dia ruim. Depois que Ray apareceu naquele dia fiquei chorando por horas.
- Eu ainda tenho o ursinho de pelúcia que ele meu. - Falei e ambos olharam para mim.
- Filha você não precisa se torturar desse jeito.
- É que foi a única coisa que ele me deu em toda a minha existência e embora fosse um ursinho decapitado, eu o guardei com carinho.
- Bom, olha essa foto de quando você faz um ano. Sua avó estava muito entusiasmada com o seu primeiro aniversário e eu também.
- Meu pai não apareceu não é?
- Grace, vamos esquecer o Ray por um pouco!
- Claro!
- Daqui a pouco estaremos a ver a foto dos nossos filhos. - Sebastian sorriu para Cecília.
- Minha mãe não pode mais ter filhos! - Eu falei sem querer machucá-la.
- Eu sei. - Cecília falou triste e me senti horrível. Obviamente eu era a culpada.
- Desculpa mãe. Eu não quis que a senhora ficasse triste.
- Não faz mal filha. - Ela suspirou. - A culpa não é sua.
- Não precisa mentir pra mim. Eu sei perfeitamente que a culpa foi minha.
- Filha tira essa ideia da sua cabeça por favor. Tudo bem que já não posso ter filhos, mas eu posso adotar.
- E é o que vamos fazer. - Sebastian abraçou minha mãe.
- Eu vou buscar alguma coisa para beber. - Cecília sorriu e se levantou indo em direção à cozinha.
Eu me aproximei de Sebastian. - Porquê você está me evitando? - Perguntei.
Ele não olhou para mim. Se afastou e continuou vendo as minhas fotos. Então era assim! Ele conseguiu o que queria e se afastou. Eu não queria que a gente tivesse "alguma coisa", mas a gente precisava se dar bem. Por minha mãe.
- Não estou te evitando. Estou me afastando. Não quero você perto de mim Grace. Respeite isso e não se aproxime de mim. Entendido?
Estudei seu rosto para ver se aquilo era sério. Ele estava mesmo falando sério. Não queria que eu me aproximasse. Olhei para uma das minhas fotos e tentei evitar as lágrimas. Ele tinha razão. Era a melhor coisa a fazer. Para o bem de todos nós.
Cecília voltou com suco para todos nós e sentou entre mim e Sebastian, voltando a ver as velhas fotos. Eu já não estava concentrada nas fotos. Estava concentrada nele.
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Atualizado até capítulo 97
Comments
aeysha zaied farid
comeu, limpou a boca e agora jogo o prato no lixo.
2024-09-15
0
Any Carvalho
😤😤😤😤😤🤬🤬🤬🤬
2023-12-06
1
Any Carvalho
desgraçado! esqueci esse babaca Greice
2023-12-06
0