- Porquê você está me ligando? Se enganou no número? Ou está bêbado? - Falei com raiva.
- Não fale assim comigo, eu ainda sou seu pai. - Eu conseguia sentir o seu sorriso. Revirei os olhos.
- Da última vez fingiu que não era! Mas qual é a novidade?
- Eu não disse que me orgulho disso. Não disse que me orgulhava de ser seu pai! - Fechei os olhos. Aquilo doía de diferentes maneiras.
- Então não ligue para mim! - Desliguei.
Estou cansada disso. Ele só faz isso para me afetar. Me odeia tanto assim? O que eu fiz para que ele me odiasse? Eu sou inocente nisso tudo.
Ouvi os passos de Mónica voltando para a sala. Ela olhou para mim e limpou suas lágrimas. Olhei para o celular.
- Não me diga. Seu pai.
- Infelizmente. Não entendo porquê ele faz isso. Eu não fiz nada a ele.
- Eu sei amiga. Mas há pessoas muito cruéis, por isso não vale a pena pensar muito nisso. - Ela tinha razão. Ele não podia me afetar assim, mas afetava. Ele é meu pai.
- Você já ligou para o Valentino? - Perguntei tentando mudar de assunto.
- Ainda não.- Suspirou. - Ele me disse muitas coisas. Disse que seus pais estão mortos e que vive com a sua avó que está doente, e que gosta de mim. Mas como ele que é mecânico pode... - Ela sacudiu a cabeça para livrar os maus pensamentos. - Eu tenho gostos caros. Ele não é a pessoa certa.
- Olha Mónica, vocês se conheceram ontem, por isso não acredito muito que ele goste de você, e também não acredito que você está chorando. Vocês não passaram tanto tempo juntos assim.
- Você não entende, Grace. Quando eu estava com ele, era diferente. Parecia que todo em nossa volta era perfeito. - Revirei os olhos.
- Então ligue para ele, sei lá, tentem se conhecer melhor e com o tempo vocês vão descobrir.
- Quem diria que é possível receber conselhos de uma pessoa que nunca teve um namorado. - Revirei os olhos novamente.
- Esse assunto não me interessa.
- Interessa sim! Eu sei. Eu te conheço. Você só tem medo de sentir algo por alguém e acontecer o mesmo que a sua mãe. Você se afasta dos homens por isso. Você se afasta do bonitinho do Connor por isso.
- Não é isso. É que eu ainda não encontrei alguém que faça o meu tipo! - Simples assim.
Ela arqueiou uma sobrancelha e sorriu para mim. Eu não queria tocar naquele assunto tortuoso, por isso fui para a cozinha e ainda assim, ela me seguiu.
- Você não precisa esconder nada de mim, Grace. Você sempre diz as coisas não na sua totalidade. Você me disse sobre sua mãe, e consigo perceber como isso te afeta. Sou uma ótima psicóloga.
- E se for? Estaria errada por pensar assim?
- Você precisa entender que os homens não são todos iguais. Alguns são os homens que toda a mulher sonha e outros são um pesadelo. - Ela cruzou os braços e franziu o cenho. - A propósito, qual é o tipo de homem que você gosta. - Olhei para ela.
- Eu não sei.
- Sério, eu sou sua amiga, pode me dizer tudo.
- Eu estou falando sério! Eu não sei. Eu não me preocupo em saber. Eu só quero me afastar.
- Eu sabia! Finalmente você admitiu.
- Eu não sei se consigo confiar em algum homem. Eu não sei se algum dia vou confiar. É difícil para mim.
- Você tem que saber que: Todos os homens são iguais; O Valentino é homem, logo é igual a todos. Isso é tão falso que nem a própria falsidade. Todo mundo é diferente.
- Aulas de Lógica? Não Mónica dispenso! Vá tomar um banho por favor! - Ela estreitou os olhos e saiu da cozinha.
- A CONVERSA AINDA NÃO ACABOU SENHORITA MILLE.- Ouvi ela do quarto. Revirei os olhos e comecei a preparar o pequeno almoço.
[...]
- Eu vou sentir muitas saudades suas. - Mónica me abraçava tão apertado que quase sufoquei. - Me liga para me dizer tudo o que acontecer na sua vida. Eu tenho a certeza que você vai conhecer o homem perfeito para você.
- Eu acho que você fala demais e infelizmente vou ter saudades disso.
- Eu vou sentir tanto a sua falta! - Ela me largou e olhou para mim com os olhos vermelhos. - Você promete que vem me visitar?
- Sempre que eu poder!
- Então, depois nos falamos?
- Até depois amiga. - Disse me afastando dela pelo o aeroporto. Ficar em Madrid foi divertido, mas já está na hora de voltar para a casa e para a minha mãe. E o seu noivo.
Sentei ao lado de muitas pessoas que esperavam o voo. Meu corpo ainda estava em Madrid, mas a minha cabeça já estava em Chicago com a minha mãe e seu noivo. Como será que ele é? Ele faz a minha mãe feliz? Ele é como ou diferente do meu pai? Preciso conhecer esse homem.
[...]
Já no avião, eu tentei relaxar e não pensar muito, apenas tentei ficar calma e aguardar o que aí vem. Uma vida nova (ter um padrasto) me espera.
- Você não acha que as pessoas são muito estranhas? - Olhei ao meu lado e vi um homem loiro de olhos azuis sorrindo para mim. Ele estava com um livro nas mãos.
- Eu tenho a certeza disso, e a prova são dos que me rodeiam. - Falei me encostando no assento, e fechando os olhos.
- Você não gosta muito de conversar não é?
- Acertou em uma parte.
- Não gosta de conversar é com certas pessoas!- Ele corrigiu.
- Isso mesmo. Se nota tanto assim?
- Eu não sei, foi só uma opinião. - Senti ele fechando o livro. - Que tipo de pessoas você gosta de conversar?
- Vários!
- Ok. Que tipo de pessoas você não gosta de conversar?
- Hipócritas, mentirosos, arrogantes, sem escrúpulos, e insensíveis. - Tudo isso atribuo aos homens.
- Uau! Felizmente eu não sou nada disso. - Ele disse me fazendo abrir os olhos e arqueiar uma sobrancelha para ele.
- Claro que não diria que é! Em 100% da população, 86% não admite seus defeitos e os humildes que correspondem a 14 % admitem. Isso não é verídico, apenas do meu ponto de vista.
- Está querendo dizer que eu tenho um desses defeitos que acabou de citar?
- Pode até ter todos eles, mas o que eu quero dizer, é que, não confiamos nas pessoas pelo facto de não saber o que se passa nas suas cabeças.
- Isso é verdade, mas...
- Confiança é uma coisa difícil de ser adquirida, e a desconfiança mais fácil.
- Você é... digamos que sábia. A sabedoria adquiri-se por vontade.
- Não concordo. Há pessoas que desejam saber só por saber, e isso é curiosidade; outras, para alcançarem fama, e isso é vaidade; outras, para enriquecerem com a sua ciência, e isso é um negócio torpe; outras, para serem edificadas, e isso é prudência; outras, para edificarem os outros, e isso é caridade. Santo Agostinho de Hipona.
- Você é impressionante. Alguma vez alguém disse isso a você?
- Muitas vezes. Mas eu não ligo. Agora, por favor, me deixa dormir?
- Está bem. Não te incomodo.
[...]
Depois de aterrarmos, eu subi num táxi.
Quantas saudades eu tive de Casa! Estou em casa novamente e isso é tão bom. Não há nada como a nossa casa, ou no meu caso, a casa da minha mãe.
Verifiquei o meu celular e vi apenas mensagens de Mónica. Mal saí de Madrid e ela mandou umas nove. Aquela mulher maluca!
O táxi pára na frente da casa da minha mãe. É engraçado. Já não moramos em Chicago, mas sim em Los Angeles. Eu entro caminho até a porta principal e toco a campainha.
Cecília
Como os tempos mudam! Até parece que foi ontem que eu ainda brincava de boneca. Hoje tenho 39 e vou me casar.
A vida deu muitas voltas. Num dia odiava os homens, e noutro me apaixono loucamente por um. E espero que isso não seja difícil para Grace. Ela sofre muito por causa do pai, e ela não gosta de homens. E agora vamos morar com um. Espero que ela consiga mudar de pensamentos, tal como eu fiz. Finalmente consigo confiar em Sebastian, e confesso que foi difícil.
Ainda me lembro de quando me apaixonei por Ray. Tinha 15 anos de idade. Estudava na mesma escola que Ray, e éramos amigos. Grandes amigos.
Ray e eu saímos todos os dias para passear, e cada dia que passava eu sentia algo mais que amizade. Eu confiava nele mais do que ninguém, e minha mãe me dizia para ter cuidado, mas eu pensava que Ray era perfeito. Que não cometia erros. Era tão inocente que algumas pessoas me viam como santinha.
Depois de um bom tempo, nós começamos a namorar. Ray dizia coisas lindas para mim. Me dava muitos presentes, me levava sempre para passear. Tudo parecia tão perfeito e bonito, até aquele dia chuvoso.
Ray tinha apenas 16 anos mas sabia demais. Nós ficamos numa casa abandonada e foi então que fizemos Grace. Dia seguinte, ele terminou comigo e já tinha outra. Isso me machucou muito e me fez ter vontade de matá-lo.
Um mês depois, eu descobri que estava grávida de Grace. Contei para Ray, mas ele disse que não queria saber.
Meus pais descobriram e conversaram com os pais dele, mas ele se recusou a estar perto dela. Os meses passaram, Ray não me acompanhava nas consultas pré-natais, sempre que me via me xingava, e quando Grace nasceu, ele não apareceu no hospital, e ficou um ano sem vê-la.
No primeiro aniversário de Grace, ele apareceu na festa para arruinar tudo. No quinto aniversário, ele ofereceu para ela um ursinho de pelúcia sem cabeça, no décimo, foi simplesmente para dizer coisas horríveis para ela. No aniversário de 15 anos, ele apareceu bêbado com uma prostituta e fez um grande escândalo. Grace sofreu muito durante esses anos todos.
Agora ele só liga para ela, mas ainda assim, diz coisas terríveis para ela. Mas ela está tão acostumada que já não a afeta como antes, eu acho.
Passei durante esses anos todos evitando me machucar novamente e me concentrei apenas em dar uma boa vida para Grace. Felizmente minha família sempre foi rica e ela não esteve a falta de nada.
A campainha tocou e Donna correu para abrir a porta. Garrett entrou, exuberante como sempre, com uma camisa dobrada até aos cotovelos, calça jeans preta e um sorriso perfeito.
Levantei do sofá para cumprimentar ele. Ele era alto, negro, e musculoso. Parecia ter menos que 34 anos.
- Cece! - Ele beijou as minhas bochechas e sorriu para mim.
- Garrett! Que bom ver você. Finalmente voltou de Berlim. Como foi? - Sentamos no sofá.
- Foi bom, mas tive que voltar. Não posso perder o casamento do meu melhor amigo por nada nesse mundo.
- Eu acho que ele não casaria se não estivesse presente. - Rimos.
A campainha voltou a tocar. Ambos olhamos para a porta, e Donna foi abrir.
Grace
- Boa tarde Grace. - Donna sorriu para mim assim que abriu a porta. Felizmente não mudou de empregada. Conheço Donna desde que tinha quinze anos. Abracei ela.
- Oi Donna. - Ela se afastou para olhar para mím.
- Você está tão grande. Vamos entrar. - Entrei e vi minha mãe e um homem se levantarem. Será que é seu noivo?
Sorri e fui abraçar minha mãe. Ela é como eu. Loira, magra, mas ao invés de olhos verdes, ela tem olhos castanhos.
- Filha!
- Mãe!
Me virei para encarar o desconhecido na minha frente. Ele sorriu e estendeu a sua mão para mim.
- Olá Grace, eu sou o Garrett. - Olhei para sua mão pendurado. Isso é coisa de outro mundo. Um homem me tratando bem?
- Olá. - Apertei sua mão. Ele ampliou o seu sorriso.
- Sua mãe fala muito sobre você! - Ele diz. Deve ser, sem dúvida, o noivo dela.
- Também fala muito sobre você. - Disse.
- Sério? Eu não fazia ideia. - Garrett disse sorrindo para Cecília.
- Eu também não sabia. - Cecília respondeu franzindo o cenho.
- Não me digam que começaram a festa sem mim. - Ouvi uma voz maravilhosamente grave e sexy e passos nas escadas e me virei imediatamente.
Um homem de cabelos pretos deliciosamente bagunçado, com uma pólo branca e calças Jeans azul escuro, com um corpo de perder o fôlego, desceu os últimos degraus com uma mão no bolso e outra passando pelo seu cabelo sedoso, e em seu rosto um sorriso deslumbrante. A personificação da beleza masculina.
Ele chegou até mim ainda sorrindo. Fiquei emburrada.
- Muito prazer em conhecê-la, Grace. - Seu sorriso desapareceu, e seu rosto ficou sério. Ainda assim era lindo.- Sou Sebastian. O noivo da sua mãe.
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Atualizado até capítulo 97
Comments
Silvia Barbosa
Será que vai ser um triângulo "rancoroso" ?
2024-04-06
1
🌹
Parece que a estória é boa.
2023-09-28
2
Carminha Souto
História boa,mais um pouco confusa!!!
2023-08-01
0