Submundo
1630
O submundo estava em festa, a barreira havia sido quebrada, alguns demônios viam a superfície pela primeira vez; o mundo onde outrora era nosso lar, agora estava infestado de humanos e a beira do caos.
A Era negra já perdurava a vinte e um anos; e em 1651, ele apareceu, com seu tronco desnudo, arrastado pelo solo duro e pontiagudo do submundo, por ele. Boru conseguira capturar aquele que deveria acabar com a escuridão, não era seu esse destino, você o herdou porquê nos falhamos, falhamos em proteger o escolhido, principalmente depois de seu guardião desaparecer.
— Ele também tinha um guardião? Quem era? — Perguntei interrompendo a história
— Eu não o conheci, só ouvi suas histórias, Benjamin não parava de falar dele, era irritante. Acho que seu nome era — Ele parecia pensar — Iteak, acho que era esse o nome.
— Iteak — O nome me soava familiar.
Quando Iteak desapareceu, Benjamin ficou desprotegido, e por consequência, acabou sendo capturado por Boru. Mas mesmo estando no inferno, ele não parava de se preocupar com esse tal guardião, ele insistia que ele iria voltar para lhe buscar.
Mas ele não veio.
Os anos foram se passando, e Benjamin ficava cada vez mais sem esperanças; sendo torturado todos os dias, vagando como um cão preso a coleira, Boru o levava preso ao pescoço para todos os lado; sua pele ficava em carne viva de tanto apanhar.
E era pior quando desobedecia.
Eu cuidava da segurança de Benjamin, quando ele não estava, Boru guerrilhava na superfície; e Benjamin estava escorado na janela, de costas para porta. Eu adentrei o quarto, estranhando suas atitudes, e sem dizer nada ele tentou pular; mas rapidamente eu o salvei, seus olhos estavam marejados e cansados.
Ele me implorava por ajuda, mau conseguia ficar de pé, e, quando eu fixei meus olhos aos dele pela primeira vez, senti todo o meus ser, se conectar ao dele; era como se eu não pudesse mais viver sem ele.
Então aproveitando que Boru estava fora, com metade dos demônios; o tirei de lá, e o trouxe para cá, para essa caverna; e fora aqui, que nos apaixonamos
— Que bonito! Você estava com ele quando ninguém mais estava.
— Sim, eu estava! Cuidei dele, curei seus ferimentos, e o mantive seguro. Mas não durou muito.
Sabíamos que acabaria, pois Boru voltaria mais cedo ou mais tarde; e nós pagaríamos caro por tê-lo desobedecido, principalmente eu, que era de sua Guarda pessoal.
Passamos apenas três dias juntos, três incríveis dias, aqui, sozinhos nesta caverna escura. Até Boru aparecer, e o tomar de mim, eu tentei impedir, mas o que um simples demônio pode, contra um supremo? Eu tive que vê-lo ser levado de mim, após prometer que o protegeria. Eu falhei com ele.
— Não fique assim, você tentou, você arriscou sua vida para protegê-lo. — Tentei consolá-lo.
Eu achei que ele nos mataria ali, naquele momento, e morreriamos juntos. Mas não matou, ele sabia que seria bom de mais, e não queria nos dar essa misericórdia.
Eu fui jogado nas masmorras do submundo, no andar mais sombrio e distante da superfície, nenhuma luz chegava até lá; era uma completa e mortal escuridão. Benjamin fora levado de volta aos aposentos de Boru, e lá, teve seu núcleo retirado.
Não restara nada de Benjamin depois disso; logo após, Boru o obrigou a escrever aquele maldito livro, em sua língua original, uma língua desconhecida, que nem mesmo o demônio mais poderoso ousa pronunciar. Ele enlouqueceu só com o ouvir da primeira palavra, atormentado dia após dia, em agonia eterna até terminar o que Boru queria.
Ninguém sabe porquê Boru queria aquele livro, mas quando Benjamin terminou, ele finalmente iria o matar. Até que ele apareceu, pela primeira vez, Teledom trouxe sua luz ao submundo, e lutou com Boru ali mesmo.
A luta durou dias, Teledom derrotou todos os demônios que se opuseram a ele, e quando finalmente venceu seu Firion, recuperou a alma de seu filho, baniu Boru a jaula, e lá, ele está, até hoje, até Boutrix o soltar novamente.
Após o banimento de Boru, eu permaneci preso por mais dois anos, nunca mais cheguei a ver o rosto de Benjamim desde que fomos capturados. O submundo ficou um caos, entregue a própria sorte, todos os demônios foram soltos, e eu pude finalmente ter minha liberdade.
Mas Benjamin não estava comigo, o submundo já não fazia mais sentido, a vida ficou vazia; e eu jurei, jurei que se outro aparecesse, eu o ajudaria. Jamais permitiria que acontecesse a você, o mesmo que aconteceu a Benjamin.
Era só um questão de tempo, quando Ben morreu, você nasceu, e desde então, eu me preparei para esse dia, o dia em que você chegaria, e poderíamos enfim extirpar a escuridão como Ben queria, e assim, ele não terá morrido em vão.
— Ele não morreu em vão, eu prometo, vou acabar o que ele começou, e cumprir de vez esse destino — Disse me levantando.
— Você não está sozinho, eu estarei com você até o fim — Ele sorriu alegre — Vocês teriam se dado bem, são muito parecidos.
— Você acha? — Falei me sentindo honrado — Eu espero ser merecedor, e ter um terço da coragem dele.
— Eu acredito em você! — Sorriu meigo — Acho melhor irmos agora, antes que Boutrix apareça.
— Tudo bem, mas o que vamos fazer?
— Atualmente só tem uma maneira de sair do submundo, pela passagem aberta pelo próprio Boutrix, mas não vai ser fácil, ela é fortemente vigiada.
— Não tem importância, nós conseguimos.
Saímos daquela caverna imediatamente, Dalgaren fora a minha frente, e caminhando com lentidão, nós seguimos pelas ruas do submundo; a cidade era pobre, com pequenas casinhas a beira de um lago de lava; demônios iam e vinham, nossa presença não passava despercebida, de longe dava para ver os olhos famintos em minha direção.
— Não se preocupe, não saia de perto de mim, apenas continue andando e não pare por nada
Apertamos o passo, a passagem para superfície já dava para ser vista, era como um grande portal no céu, com cerca de dez demônios a guardando, e para passar por ali, precisaríamos de um milagre.
— E agora? — Perguntei escondido atrás de uma pedra.
— Não podemos simplesmente dar as caras e lutar com todos, causaria muito alvoroço, e Boutrix logo ficaria sabendo. Temos que pensar muito bem antes de agir.
— Você está certo, precisamos de uma distração.
Floresta vermelha, superfície
— Eu disse que ainda estava aqui! — Petter diz apontando para o buraco no chão.
— Você estava certo, talvez não precisemos de Beatrix — Bermac diz em seguida — Mas o que você quer fazer exatamente? Pular aí, lutar com o submundo inteiro atrás do Jimmy?
— É! Exatamente isso que eu quero fazer.
— Você não pensa não? — Bermac diz em tom de reprovação.
— E o que você sugere, cadelinha?
— Eu sou uma raposa, seu maldito — Bermac enraivecido parte para cima de Petter
— NÃO TEMOS TEMPO PARA ISSO, SEUS IDIOTAS! — Derek grita — A não ser que alguém tenha uma ideia melhor, nós vamos pular.
Petter olha Bermac sorrindo de alegria, enquanto a raposa vermelha suspira de raiva em sua direção.
— Então, vamos? Estamos esperando o que?
Subitamente ele pulou, sem esperar um segundo a mais. Um clarão devastou os céus do submundo, um estrondo ecoou por todos os lados, e atordoados, nos levantamos para ver o que havia acontecido; e lá estava ele, com longas asas vermelhas abertas, trajando apenas uma calça. O estrondo de sua chegada, fizera o chão estremecer.
Todos pararam para vê-lo, de pé, diante de todos; feições assustadas e curiosas estavam por todos os lados, os demônios que antes guardavam o local, se preparavam para o atacar.
— Metido! — Bermac diz em reprovação, e logo pula seguido por Derek.
Eu não podia acreditar no que estava vendo.
— Quem é aquele demônio? Eu nunca o vi antes — Dalgaren parecia confuso
— PETTER? — Disse completamente surpreso.
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Atualizado até capítulo 56
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