13 – MESES DEPOIS – parte 1

^^^18:00PM, 24 DE DEZEMBRO, TOKYO, JAPÃO.^^^

...NAS RUAS ...

As ruas de Tokyo eram particularmente mais brilhantes que o normal. As copas das árvores enfeitadas com piscas-piscas dourados, que pareciam estrelas, as calçadas cobertas de neve, fazendo as botas se afundarem na maciez do fenômeno natural e muitas pessoas saiam da loja satisfeitos – véspera de natal era como um alento nos corações e mente dos cidadãos. 

Mesmo que o frio congelava até os ossos, as pessoas saiam para passear ou ir para um festival nos templos. 

Touma também decidiu sair com Fuyuki.

Na verdade, foram puxados por Hiroshi, que não engolia a ideia de passar o natal vendo a cara fechada de Touma – ou tomando algum champanhe num bar vazio, com algum conhecido seu – somente de imaginar o cenário, calafrios percorreram seu corpo e o desanimou. 

Por isso, ele convenceu Touma, que aparentemente parecia ter melhorado sua relação com o pequeno. Brincava com ele, o ensinava e conversava. Como se todos os seus problemas houvessem se dissolvido. 

— Não irei entrar aí — Touma disse parando em frente a loja de presentes e Hiroshi suspirou. 

— Eu não irei deixar você e Fuyuki congelando aqui fora — o melhor amigo alcançou a mão livre de Touma e o puxou para a loja sem pedir permissão. 

Fuyuki quase riu quando seu pai tropeçou no processo.

Quando o tintilar do sino ressoou nos ouvidos das atendentes da loja, elas viraram-se imediatamente e ficaram impressionadas com o que viram – Hiroshi estava com uma jaqueta cheia de bolsos, com calças jeans escuras, sua franja cobria sua testa – e Touma vestia uma blusa de gola alta e uma calça que tinha uma corrente ligada com o bolso e ao cós. 

Ao prestar atenção nos detalhes, seus rostos começaram a chorar, acreditando que eles eram um casal. 

— Bem-vindos! Fiquem à vontade para olhar nossa loja — uma das mulheres com o cabelo preso num rabo de cavalo baixo, os recebeu com um sorriso fino no rosto.

Hiroshi devolveu o sorriso, enquanto, Touma olhava fixamente onde tinha o mascote da loja – era um urso, que a maior parte da pelagem era rosa e áreas como as orelhas e a barriga eram brancas – ele encarava, pois, seu filho queria escorregar dos seus braços para ir para o mascote.

— Você perdeu o que no urso? — Touma questionou sem desviar a atenção do homem fantasiado, e Fuyuki inflou as bochechas, chateado com a escolha de ficar longe do mascote de seu pai.

A pessoa por baixo da fantasia, vendo quanto o garoto havia gostado muito, se aproximou, dando-lhe um balão azul. Os olhos de Fuyuki brilhavam ao receber o balão, por isso, ele lançou um largo para o urso. A pessoa sentindo-se tomada pela pureza do garotinho, afagou a cabeça de Fuyuki com as patas de algodão.

Touma observava tudo com cuidado e desconfiado, porém, o urso voltou ao seu lugar rapidamente. O CEO fitou a loja, mas estava achando tudo muito fora do lugar. Ele parou de comemorar o natal depois que Aimi desapareceu – porque quando ela foi embora da sua vida, foi como se tudo fosse sugado. 

Então decidido, ele vai até Hiroshi, que está concentrado avaliando diferentes formas de bolo e próximo de seu ouvido, ele sussurrou:

— Eu volto antes da meia-noite. 

Hiroshi virou-se com pressa para encarar o delinquente sem-vergonha que havia o assustado, mas só conseguiu ver sua silhueta já se retirando da loja.

— Ele nunca tem jeito — Hiroshi colocou a mão na cintura, sorrindo despreocupado. — Parece que eu terei ficar com o Aruka até ele dar as caras — ele decidiu alcançar o celular no bolso traseiro da calça, logo ligando para seu conhecido. 

Enquanto Touma caminhava como se não tivesse rumo certo, ele só estava pensando no último natal que passou com Aimi – em como ela conseguia demonstrar liberdade em pequenos gestos. 

— Para onde estamos indo? — Fuyuki perguntou, borrando a imagem que Touma havia moldado de Aimi. 

— Um lugar que a sua mãe amava — Touma respondeu, com o seu ar parecendo névoa enquanto soltava as palavras —, ela quis compartilhar aquela visão comigo.

O menino segurou com força a linha que ligava ao balão, inseguro. 

— Por que ela nunca me mostrou? — Fuyuki indagou afundando até o nariz no cachecol cinzento.

— Ela não poderia correr o risco de tombar comigo. Aimi não era tão burra assim — Touma respondeu parando próximo a uma grade de metal. Se afastando do tumulto, e guardando-se no lugar que parecia um parque. 

Havia dois bancos brancos em cada lado, atrás deles tinha uma fileira de arbustos altos e bem podados. Touma admirou as luzes extravagantes que podiam ser vistas, em seguida, ajeitou Fuyuki numa posição que ele pudesse ver com clareza. No processo, ele quase foi agredido pelo balão que o pequeno carregava. 

— Ohh — nos olhos de Fuyuki as luzes refletiam, e Touma encarava como o pequeno estava hipnotizado nos prédios com cores divergentes, fazendo um show de acende e apaga com desenhos variados. Era divertido para uma criança e mágico para Aimi. 

Pisando novamente naquele lugar, ele podia sentir e ver claramente a cena de quando as mãos frias da mulher entravam em contato com o metal – os olhos fechados e um esboçando um leve sorriso – indo em seguida até seu encontro. Ela o perdendo com seus braços e gritando como amava a época do ano. 

^^^“Touma, houve uma época em que eu acreditava que você era como a neve. Que só caía e era belo, porém, o que faz ser você é depois do inverno. Você derrete… e pensar nisso me dar esperanças.”^^^

O pai saiu dos pensamentos quando duas adolescentes conversavam sobre um assunto aleatório que passou por ele. Para confirmar que havia saído dos devaneios, balançou a cabeça. O que estava fazendo era um crime com Aimi. Não era depois de virar cinzas que ele pensaria em como mudar ou em como os momentos com ela, eram mil vezes mais importantes. 

Mas, ele ainda possuía uma parte sua. Fuyuki.

— Vamos andar por aí, Fuyuki — Touma anunciou, dando início a uma caminhada na calçada e o pequeno riu.

— Mamãe gostava de me levar para comer mochi e yakisoba! — Fuyuki disse puxando a blusa de Touma com a mão livre.

— Mochi no natal? — Touma questionou-se julgando um absurdo, mas depois riu. — Tinha que ser a Aimi — seu olhar pousou no garoto —, iremos a um festival e lá tem barraca de tudo! Comprarei tudo o que você quiser. 

O filho ficou animado com a possibilidade, mas Touma roubou parte da facilidade quando recordou-se que o menino ainda era novo para ficar comendo muito. 

— Comprarei em moderação — Touma corrigiu. — Não quero você ficando doente. 

Apertou o nariz do pequeno causando desconforto em Fuyuki, e o garoto não gostando juntou as sobrancelhas. Touma riu da birra da criança, levando os dedos até a bochecha direita que estava mais avermelhada do que de costume por causa do clima e a apertou. 

— Bem melhor — disse Touma elevando o cachecol do pequeno, o protegendo das rajadas de vento congelantes.

“E isso me dá esperanças.”

Outra vez as palavras leves de Aimi roubaram a cabeça de Touma e ele voltou a ter uma expressão pensativa. 

Esperanças de que exatamente? 

Foi a primeira vez que Touma indagou a mesma pergunta diversas vezes sem descobrir seu sentido. Sua esposa era mais enigmática do que ele imaginava. 

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