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Entrego minha mochila para Skoll e dou uma última olhada na direção da casa, onde todos os nossos amigos estão acenando em despedida, vez ou outra gritando palavras de incentivo. Aceno de volta, feliz por estar deixando meu lar em mãos confiáveis. Mal posso esperar para voltar para casa, e ver como eles comemoram diante de uma grande vitória.

— Pronta? - Aesmir questiona com um olhar determinado enquanto abre a porta da velha picape para mim.

— Sim, vamos nessa!! - dou uma última olhada para o casarão, apertando o manto que agora é um lembrete físico do porquê de tudo isso, e entro no veículo.

Aesmir não demora para dar partida no automóvel, que fico surpresa por ainda funcionar. Observo que ele foi limpo e passou por manutenção antes da viagem. Na carroceria atrás de nós, os gêmeos conversam coisas que não podemos ouvir, vez ou outra alcançando minha janela para falarem algo.

Conforme seguimos viagem rumo a cidade e então ao aeroporto mais próximo, Aesmir e eu trocamos algumas informações que conseguimos. Eu falo para ela sobre as Valquirias e as criaturas que Hati e eu encontraremos no caminho até Fenrir, e ela me fala sobre o que descobriram a respeito de Licaão. Ela e Skoll não vão nos acompanhar no restante da jornada, uma vez que precisamos de alguém para tomar conta do casarão e dos lobos refugiados lá.

Pelo que foi descoberto em histórias antigas da alcatéia de Spell City, Licaão e alguns de seus seguidores não nasceram com a habilidade sobrenatural de mudarem suas formas entre lobo e homem. Eles foram corrompidos, amaldiçoados e aprisionados nos corpos daquelas feras. Por isso nunca os vemos em suas formas humanas, eles não têm mais essa capacidade.

A razão pela qual foram amaldiçoados pode variar. Mas de uma forma geral, eles receberam essa punição por seu egoísmo e ganância, e por matarem inocentes sem remorso algum. Apesar de ser uma maldição, eles são superiores aos lobos metamorfos como meus amigos em força, mobilidade e ainda contam com um veneno anti magia muito potente. Sem contar que são mais resistentes a glicínias, porém mais sensíveis a prata e ao fogo.

Em relação ao objetivo deles com a alcatéia e com Aesmir, ainda é um mistério. Mas de acordo com a garota, Licaão apesar de selvagem e violento, nunca a feriu. Porém ele não pode obrigar ela a ficar ao seu lado. Principalmente porquê o coração dela sempre pertencerá a Skoll, e separar os dois seria pior do que matar ambos, pela crença lupina.

— Hati parece bem mais feliz depois de encontrar você. - Aesmir me tira dos meus pensamentos com seu comentário, sem desviar a atenção da estrada a sua frente.

— Uh?... Ah, eu gosto da companhia dele. - dou de ombros, observando as árvores e a paisagem que passa pela minha janela.

— Eles tinham uma irmã gêmea também, sabia? Eclipsa... Ela era muito parecida com você. E aqueles dois fariam qualquer coisa por ela... Não só eles, mas eu e os outros também. - sua voz fica mais baixa e sua atitude mais sombria enquanto ela fala, tomando cuidado para que os meninos não nos escutem.

— Eu não sabia... O que houve com ela? - concentro toda a minha atenção na garota, a vendo apertar com mais força o volante.

— Ela era a nossa líder, ao lado do meu irmão mais velho, Akari. Licaão matou os dois antes de assumir o controle do bando. Todo mundo ficou devastado. Sem eles dois, ninguém sabia mais o que fazer e como seguir em frente. Mas se me perguntasse, eu diria que Hati foi quem sofreu mais com a perda. Eclipsa era a irmãzinha que ele jurou proteger. É claro que Skoll também sofreu, mas diferente do meu parceiro, a vida de Hati girava em torno dela.

Olho pelo vidro traseiro para os rapazes, que parecem concentrados na paisagem e na discussão de algo que não faço idéia do que pode ser. Por um instante, eles percebem o meu olhar e acenam para mim com seus sorrisos brilhantes e cativantes. Lhes devolvo um pequeno sorriso antes de voltar minha atenção para Aesmir.

— Ele é uma pessoa muito forte e corajosa, mas infelizmente nunca foi muito sociável. Ao que parece, Hati perdeu as esperanças de encontrar uma parceira há um bom tempo, então agora ele parece um velho recluso e rabugento que mostra as garras para qualquer um que se aproxime, exceto por Skoll, eu e... Você, agora. - ela me dá um olhar significativo por um momento antes de se focar novamente em dirigir.

— Eu percebi que ele não parece muito próximo dos outros membros do grupo, mas... Aesmir, onde exatamente você quer chegar?

— Você é importante para ele mais do que para qualquer um de nós. Eu conheço aquele idiota desde sempre, e eu sei que ele é capaz de ir com você até o inferno se você precisar. - ela força um sorriso, então suspira, olhando nos meus olhos por um instante. - Você é tão importante como a Eclipsa era. Uma luz que pode guiar não só ele, mas todos nós... E também alguém que pode trazer escuridão. Então, por favor, Heletria. Aconteça o que acontecer, não se esqueça disso. Não se esqueça que estamos esperando por vocês para mostrarem onde ir.

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Comments

Valda Martins

Valda Martins

Que pressão eletrika

2024-04-07

0

Silvia Araújo

Silvia Araújo

quanta esperança de todos

2024-01-24

1

Viviane Côra

Viviane Côra

Uau! Muito forte essas palavras, agora o peso da responsabilidade aumentou e muito

2024-01-18

1

Ver todos

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