04

Estou há uma distância curta dos lobisomens quando ouço o uivo de Skoll ao longe. Com minha perna lentamente parando de me responder, eu só consigo continuar avançando muito devagar, agarrando o ar com minha magia em gestos que visam apertar cada vez mais as videiras ao redor das criaturas.

— Estou aqui!! - grito de volta com toda a força do meu pulmão, tossindo sangue sem que eu possa evitar.

Quando minha visão começa a falhar, sinto braços fortes me erguerem do chão e minha cabeça tomba contra algo rígido. Tento focalizar minha mãos, que brilham com cada vez menos força, enquanto a voz de Hati me mantém consciente.

— Heletria?! Fica acordada!! Por favor, aguente firme... Apenas mais um pouco, eu juro... - sua voz parece desesperada e ele me segura com firmeza contra seu peito, correndo tão rápido quanto consegue.

— Hati... - minha voz sai um murmúrio, a perda de sangue levando a melhor sobre mim. Com esforço, consigo focalizar seus olhos preocupados. - Me avise quando todos estiverem em segurança.

Ele franze a testa, mas assente e aperta o passo, dando ordens para todo o grupo. Enquanto isso, eu dou o meu melhor para resistir aos lobisomens furiosos mordendo e rasgando minhas plantas encantadas.

Não sei por quanto tempo estou repetindo as mesmas preces na escuridão, quando a imagem embaçada de Hati retorna. Eu sinto seus lábios quentes contra a minha testa, enviando um pequeno arrepio para meu corpo.

— Estamos seguros por enquanto, Elle. Graças a você. Fez um ótimo trabalho, agora pode deixar que cuidaremos de tudo.

Sua voz é a última coisa que escuto antes de mergulhar na escuridão.

...****************...

Eu sinto a sensibilidade do meu corpo e o calor confortável de Hati desaparecerem aos poucos, e o frio me toma. Sinto meu corpo estremecer quando um rosnado alto e familiar chega até mim.

— Você é mais forte do que eu esperava... - a voz grave de Fenrir ecoa na escuridão.

— Fico lisonjeada que pense isso.

Seus olhos vermelhos brilham, fixos nos meus. Não é difícil perceber que seu olhar parece menos ameaçador dessa vez. Minha vontade de comentar o assunto desaparece assim que o enjôo chega e caio de joelhos, me sentindo fraca de repente.

— O que há com você? - O olhar do lobo mostra desconfiança e ele bufa ar quente no meu rosto.

— É... Um efeito colateral do esforço que precisei fazer para manter aqueles lobos presos enquanto fugimos... Devo ficar bem em alguns dias.

Fenrir rosna, mostrando suas enormes presas para mim com um olhar repreensivo. Até penso em questionar o motivo de sua atitude hostil, mas o cansaço me vence e faço um pequeno esforço até conseguir me sentar em posição de lótus.

— Aquelas coisas não são lobos!! São monstros amaldiçoados por seu egoísmo... Não volte a falar daquelas coisas como se fossem um de nós. - Seu tom de voz é severo e agressivo.

— Ah... Me desculpe. Eu não quis ofender... - Evito o olhar da fera, encarando minhas mãos enquanto tento sem sucesso acender uma esfera de luz. - É verdade que eles não se parecem em nada com você, Hati e Skoll. Eles andam sobre duas patas mesmo quando estão transformados e parecem vagamente humanos... Por mais que eu não goste de dizer isso, eles me dão medo.

— Você não pareceu nada amedrontada enquanto lutava com eles. Foi até impressionante... Para alguém tão pequena e frágil, eu quero dizer. - O enorme lobo me observa com um brilho diferente no olhar, se deitando a minha frente com seu grande focinho á poucos metros de mim.

— Eu sei, é que... - abraço meus joelhos, revendo todo o acontecimento e também meus sentimentos em relação a isso. - Eu realmente não estava com medo naquela hora. Mas então teve aquele monstro que me feriu e... Mesmo quando eu era aprendiz de Gullveig e em todos esses anos como guardiã da floresta, eu nunca me envolvi realmente em conflitos. Não a esse ponto.

— E mesmo assim você deu tudo de si para ajudar os lobos. Saindo ferida no processo... Com que objetivo?

Suas palavras me atingem como um soco e perco o ar por alguns instantes, tomando a consciência do que pode ser o verdadeiro motivo pelo qual quero tanto ajudar os gêmeos e também a fera diante de mim. Mas não existe nenhuma chance de que eu confesse essas razões.

— Por quê me trouxe aqui? Estava assim tão desesperado por companhia, Deus Lobo? - meu tom de voz soa amargurado mesmo para mim, pegando a criatura de surpresa.

— Eu posso ver as mesmas coisas que você em seu corpo original, agora... Preferia manter isso em segredo, mas tanto faz. - Seus olhos me encaram com intensidade, indecifráveis e intimidantes. - Você pode mesmo me devolver a liberdade?

Nós no encaramos em silêncio por longos minutos, durante os quais séculos e mais séculos de memórias permeiam os meus pensamentos. A verdade é que Fenrir pode ser a chave para o meu antigo objetivo, que abandonei muito tempo atrás.

— Eu estou disposta a morrer tentando, se é isso que você quer saber.

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