08

Termino meu relato sobre meu mais recente encontro astral com o Deus Lobo, omitindo os detalhes mais pessoais, diante dos olhares brilhantes dos lobos ao meu redor. Em seus olhos, eu vejo esperança, admiração, respeito e determinação.

— Eu gostaria de pedir a ajuda de vocês para obter toda e qualquer informação sobre Licaão, Lupa e sua Emissária... Vocês podem ficar aqui pelo tempo que desejarem, e peço também que evitem sair sozinhos. Qualquer coisa que precisarem, podem me procurar ou conversar com algum dos gêmeos que faremos o possível para resolver.

Encerro o discurso me dirigindo a Hati, Skoll e Aesmir, pedindo que me acompanhem até o andar de cima. Porém aguardamos até que todos estejam dispersos, para que ninguém me veja mancar escada acima apoiada em Hati. Apesar de todos saberem que eu me feri durante o resgate, apenas os três sabem a gravidade da lesão e o quê a causou. Se os outros souberem, a moral e determinação do grupo correm o risco de ser perigosamente abaladas.

Já no andar de cima, nós quatro nos sentamos á mesa da biblioteca, sobre a qual abro um antigo mapa que desenhei na minha época de aprendiz, retratando tudo o que eu conheci dos 9 reinos nórdicos com exceção de midgard. Explico para eles sobre os pontos que nunca tive acesso mas que sabia onde estavam, como Valhalla, os palácios de alguns dos deuses e finalmente, na região mais afastada, nos confins de uma floresta perigosa que até as Valquirias evitam, a localização da entrada para a caverna-prisão de Fenrir.

Os três escutam atentamente cada uma das minhas palavras, e quase consigo ver as engrenagens girando em seus cérebros. Quando concluo que não há mais nenhuma informação relevante para compartilhar, deixo os três sozinhos na biblioteca e escapo furtivamente para a varanda do meu quarto.

Respiro fundo, olhando o céu estrelado acima das copas das árvores. Lembro com certa melancolia de quando eu era aprendiz, assistindo da janela do laboratório onde eu dormia, enquanto as carruagens da lua passavam pelo céu. Lindas e poderosas, eu sempre imaginei como seria poder acompanha-las pela noite.

Sorrio tristemente para as árvores e a escuridão selvagem que me cerca. Estou prestes a me perder novamente em meus pensamentos quando ouço batidas suaves na porta do meu quarto.

— Entre, está destrancada... - digo alto, sem me virar para conferir quem é.

Alguns instantes de silêncio se seguem até que a garota pare ao meu lado, acompanhando meu olhar para o céu com certa hesitação. Após mais um ou dois minutos silêncio, ela finalmente abre a boca.

— Desculpe vir te incomodar no seu quarto. Os meninos estão ocupados procurando informações nos livros e na internet, então eu decidi vir ver como a senhora estava. - ela baixa o olhar para a minha perna enfaixada e depois de volta para o meu rosto, séria.

— É muito gentil da sua parte se preocupar comigo. Ainda mais quando vários dos seus amigos e irmãos ainda estão correndo perigo... - a observo com atenção pelo canto dos meus olhos.

Ela parece bem mais séria e madura do que Skoll, apesar da aparência igualmente jovem. Com olhos cor de mel grandes e amendoados, que transparecem uma inteligência respeitável e muita determinação. Aesmir é claramente uma líder, alguém disposta a cuidar e defender os seus. Com estatura mediana e atlética, ela pode facilmente intimidar mesmo na forma humana. Seus cabelos cor de grafite lisos emoldurando seu rosto delicado até alcançarem seus ombros.

— Eu não sei... Me sinto egoísta por estar aqui, segura ao lado de Skoll, enquanto eles estão enfrentando todo tipo de situações. - ela encara as sombras ao longe, mordendo os lábios, então volta a me olhar, parecendo sem graça. - Que insensível da minha parte despejar minhas preocupações em você desse jeito, mesmo depois de ter quase morrido para salvar alguns de nós.

— Você parece ser do tipo que se cobra demais, hein! - sorrio divertida, esbarrando meu ombro levemente no seu. - Não perca a esperança tão fácil, poxa. Eu dei minha palavra àqueles dois de que tudo vai ficar bem. Mas eu preciso contar com ajuda de amigos para fazer isso acontecer... Espero honestamente que você esteja inclusa nesse grupo.

— Eu... Por quê? - ela me encara diretamente nos olhos, indecifrável. - Skoll e Hati confiarem em mim é uma coisa. Mas você não sabe nada a meu respeito.

— Você têm um ponto. - desvio meu olhar do dela após uns segundos, tentando criar uma esfera de chamas na palma da mão, mas tudo o que consigo são algumas faíscas brilhantes. Suspiro pesadamente. - Eu na verdade só quero acreditar que posso ajudar vocês e ser uma amiga para seu povo. Quando se vive tanto tempo como eu já vivi, a existência pode perder o sentido. E sendo sincera, se eu falhar, pelo menos não vou ter morrido por nada. Então eu ganho independente do resultado, não acha?

Sorrio para ela, que me olha com o cenho franzido e os punhos cerrados. Por um momento, penso que ela vai me dar um soco. Mas antes que Aesmir possa responder, um Skoll ofegante para na frente da porta do quarto, nos encarando com olhos arregalados enquanto tenta recuperar o fôlego.

— Problema!!... O Hati e... O líder dos Licantropos... Vão lutar... Lá embaixo... Agora... - ele diz pausadamente, respirando fundo entre as falas.

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