07

— O amor é mesmo uma força misteriosa. Não é muito diferente para os lobos do que é para vocês. Mas, se me perguntasse, eu diria que vocês humanos ainda são sortudos. - Hati diz em um tom calmo, evitando meu olhar e se concentrando em sua tarefa de me alimentar.

— Humanos... Eu não tenho certeza se ainda me encaixo nesse termo, mas obrigada. - forço um sorriso, tentando não transparecer minha dúvida real quanto ao que eu sou.

— Para os lobos, o amor é algo que só acontece uma vez em toda a nossa existência. E se perdemos esse amor, bem... - ele morde os lábios, sua expressão parecendo mais sombria do que o normal. - Eu e Skoll já vimos isso acontecer antes. É por isso que ele têm tanto medo de perder Aesmir. E ele tem razão...

— E quanto a você? - a pergunta escapa antes que eu consiga me conter.

— O que isso têm a ver comigo? - seu olhar se fixa no meu com retidão. Apesar de sua inexpressividade, noto um brilho diferente em seus olhos.

— Você não tem ninguém que seja para você igual a Aesmir é pro Skoll? Não têm interesse no amor?

— Ah... - ele devolve a colher para o prato, mantendo seu olhar agora no objeto em suas mãos, sério e distante. - Por quê eu teria interesse nisso? O amor é uma coisa perigosa... E diante da minha aparência, a maioria das fêmeas fica assustada demais para se aproximar.

Ele diz a última parte muito baixo, de forma que quase não o escuto. Então Hati chacoalha a cabeça negativamente e força um sorriso confiante para mim. Um aperto cruza o meu peito, mas antes que eu tome qualquer atitude imprudente, a imagem de Fenrir surge nas minhas lembranças, com seus olhos cor de sangue brilhantes.

— Eu acho que a pessoa que estiver destinada a amar você, não vai se importar com aparências. Talvez ela até concorde comigo que ser grande e assustador têm suas vantagens... Inclusive te torna mais fofo quando têm uma atitude gentil, igual você está tendo agora!! - sorrio para ele, bagunçando seus cabelos de forma afetiva.

Hati ergue os olhos para mim, e vejo seu rosto assumir um tom cor de rosa adorável, arrancando uma risada de mim. Suas pupilas dilatam quando eu começo a rir, me lembrando de um cachorrinho fofo. Ele chacoalha a cabeça outra vez em negação e rosna para mim.

— Você têm que parar de fazer essas coisas. Eu não sou um cãozinho, sabia? - ele me encara perplexo.

— Uh?! Eu nunca pensei em você como um cãozinho! Longe de mim, poxa...

— Tanto faz... Acha que consegue andar? O pessoal tá ansioso para te conhecer. Eu não deixei ninguém subir porquê seria invasão de privacidade, então...

— Você me ajuda a chegar até lá? - diante de sua confirmação, sorrio animada. - Então vai ser um prazer conhecer todos eles.

......................

Tem pelo menos umas quinze pessoas na sala quando Hati me coloca no chão o mais cuidadosamente possível. Eu consegui tomar um banho e trocar de roupa, e ele me ajudou a trocar os curativos também. Ao que parece, as garras daquelas criaturas são venenosas.

Não fosse o poder das maçãs de Iduna, eu talvez não estivesse viva agora. E algo me diz que Fenrir também tem algo a ver com minha sobrevivência. Inclusive, consigo identificar uma pequena sensação de choque se espalhando pelo meu corpo sempre que ele volta aos meus pensamentos. Só espero que ele não consiga escutar as coisas que eu penso.

— Lady Heletria, que bom que acordou!! - Skoll diz alegremente enquanto vêm na minha direção de mãos dadas com uma linda jovem.

— Oi!! Fico feliz em ver que estão todos bem. Conseguiram... - sou interrompida pelo abraço apertado de Skoll, me deixando totalmente atordoada. - Está tudo bem?

— Sim, eu só... Você cumpriu com a sua promessa, e se arriscou para nos ajudar. Eu não sei como te agradecer. - o loiro me solta com um sorriso sem graça, suas bochechas vermelhas mostrando o quanto está constrangido.

— Nós todos temos uma dívida com a senhora, Emissária de Lupa... - a garota que acompanhava Skoll se pronuncia, rapidamente se curvando sobre um joelho com a cabeça baixa. Todos os outros presentes imitam seu gesto, incluindo os gêmeos.

— Eu... Aquilo foi um trabalho em equipe, vocês não devem nada a mim. Por favor, levantem-se. - um calor agradável se espalha pela minha pele e meu coração acelera. Já faz muito tempo que estive na companhia de tantas pessoas, sem que pelo menos metade delas quisesse me matar.

Observo com um sorriso tímido enquanto todos se levantam. A admiração e expectativa brilha em seus olhos, aumentando a pressão sobre mim. Reunindo toda a minha coragem, dou um passo a frente, passando meu olhar sobre cada um dos rostos presentes enquanto falo de forma confiante e calma.

— Eu entendo que estejam todos aliviados e contentes por finalmente estarem em segurança. Mas apesar de termos essa pequena, porém muito importante, vitória sobre os licantropos, ainda temos uma guerra pela frente. E vou precisar da ajuda de todos vocês.

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Comments

Joana Sena

Joana Sena

autora por favor mais capítulos

2024-04-10

1

Valda Martins

Valda Martins

Muito lindo

2024-04-06

0

Silvia Araújo

Silvia Araújo

que lindo

2024-01-23

2

Ver todos

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