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— Eu diria que estou arriscando mais por você do que por eles, deus lobo. Tem muito mais em jogo do que apenas derrotar Licaão e retribuir o favor de Lupa, pra mim. - Sorrio para ele. - E se me perguntassem sobre, eu diria que estou apostando todas as minhas fichas em você.

Observo com certo divertimento enquanto as pupilas de Fenrir dilatam e seus olhos mudam de vermelho sangue para dourado. Ele me encara como se fosse apenas um cãozinho gigante. Pela primeira vez, ele não tem nenhum traço da criatura assustadora e perigosa que os deuses temem tanto. Meu sorriso aumenta ainda mais com esse pensamento.

— Você está... Sorrindo? - ele inclina a cabeça de forma adorável, me olhando com confusão.

— Estou, sim... - volto a ficar séria, finalmente analisando o motivo do meu sorriso. - Acho que fiquei feliz que você queira ser meu amigo, agora. É um grande avanço, não é?

Sinto a mudança na atmosfera outra vez, quase sufocando com a energia poderosa, antes de ver novamente a forma humana de Fenrir, encarando o chão com uma expressão séria e concentrada. Permaneço em silêncio enquanto ele franze o cenho, antes de voltar seus olhos agora dourados para mim.

— Faz muito tempo desde que alguém sorriu de verdade para mim pela última vez. - sua voz é um murmúrio e entendo imediatamente que ele está falando mais consigo mesmo do que comigo, agora. - Minha mãe provavelmente foi a única a já ter feito algo assim. Eu tinha até me esquecido do que era isso...

Estou quase correndo em sua direção para lhe dar um abraço, comovida por seu devaneio. Mas então ele chacoalha a cabeça violentamente, me encarando de novo com seus olhos vermelhos brilhantes. Ele rosna e mostra as presas afiadas para mim, parecendo contente ao me ver recuar.

— Escuta aqui, feiticeira. - Sua voz assume o tom assustador outra vez. - Nós temos um acordo, mas é apenas isso. Esqueça todo o resto. Não vou ser traído outra vez, e nem vou cair nos seus joguinhos. Agora desapareça daqui!!

Com essas palavras, eu retorno ao meu quarto. Minha cabeça dói, assim como o resto do meu corpo. A mudança repentina de Fenrir faz uma dor ecoar pelo meu peito, e percebo uma lágrima escorrendo pela minha bochecha.

Limpo rapidamente o rosto, bufando irritada enquanto chacoalho a cabeça numa tentativa de afastar as lembranças e sensações recentes.

Lobo idiota! Se instalando nos meus pensamentos e emoções desse jeito. Se não for parado, ele vai acabar descobrindo mais do que deve. E esse é um problema do qual eu não preciso. Ainda assim, sua rejeição aumenta a sombra no meu peito, e pensamentos sombrios se apoderam da minha mente, sem previsão para irem embora.

Me enfio debaixo das cobertas e tento dormir, mas ao invés de sonhos ou pesadelos, me deparo com memórias. Os piores dos meus tormentos. Me recordo de cada uma das vezes que fui rejeitada, desde o meu nascimento. Quando chega a vez de Tyr, estou sufocando com a lembrança e as lágrimas.

Me levanto depressa, saindo da cama antes que minha mente me derrote. Repito para mim mesma que são apenas emoções passageiras e sem nenhum poder. Lembranças de fantasmas que não podem fazer nada comigo. Se minhas emoções levarem a melhor, eu vou me tornar um perigo ainda maior do que Licaão para todos ao meu redor. Não posso permitir que isso aconteça.

Agarro o kit de costura, tentando conter minha agitação. Preciso urgentemente de algo que distraia meus pensamentos, e agora parece um ótimo momento para uma sutura de emergência. Esterilizo a agulha e coloco uma linha branca antes de começar a costurar os cortes apenas parcialmente fechados na minha coxa.

A dor me mantém consciente, e faço o que consigo para não emitir nenhum ruído, mas alguns gemidos e rosnados escapam inevitavelmente dos meus lábios.

Quando Hati abre a porta com violência, acabo espetando o dedo sem querer, me fazendo soltar um pequeno grito. Olho na direção da porta, assustada, apenas para ver o moreno já ajoelhado diante de mim, com uma expressão séria e concentrada enquanto segura minha mão, examinando o ponto ensanguentado.

— Hati, o quê, por todos os deuses, você pensa que está fazendo ao entrar no meu quarto desse jeito, a essa hora da madrugada? - mordo meu lábio, tentando acalmar meu coração do susto recente.

— Eu ouvi gemidos de dor e pensei que pudesse estar sofrendo. Obviamente, foi a única coisa em que pensei. Mas eu estava certo.

Sem erguer o olhar para mim, ele simplesmente leva meu dedo machucado até seus lábios e o segura com cuidado entre seus dentes, pressionando sua língua quente sobre o ponto de onde saía um pouco de sangue. A sensação de umidade e calor na pele sensível enviam um arrepio agradável pela minha espinha.

Como se notasse meu tremor, ele ergue seu olhar para encontrar meu rosto, sem soltar meu dedo de sua boca. Diante da visão quase erótica na minha frente, sinto meu rosto esquentar quase ao ponto de entrar em combustão. Por um momento, sinto que meu coração vai sair correndo e se esconder no porão, mas finalmente ele me liberta, me encarando com suas pupilas dilatadas e uma expressão indecifrável.

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Comments

Rosana Ramos

Rosana Ramos

Tá parecendo que sim ❤️Hait tá encantado por ela 😍😍☺️

2024-04-09

0

Valda Martins

Valda Martins

será que hait gosta dela

2024-04-06

1

Silvia Araújo

Silvia Araújo

eita

2024-01-23

1

Ver todos

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