05

— É algo interessante de se ouvir, vindo de alguém que está viva por incontáveis anos... - Fenrir me analisa com curiosidade. Quase consigo ver as engrenagens de seu cérebro girando.

— Eu mesma não sei o número exato, pra falar a verdade... Eu não tenho nada a perder faz muito tempo. E ter um objetivo para cumprir faz minha existência menos tediosa. - dou de ombros, sorrindo levemente para o deus lobo diante de mim. - Bem egoísta da minha parte, não acha?

— Contanto que você me tire desse lugar detestável, seus motivos não me interessam.

— Será que finalmente chegamos a um acordo, Senhor Lobo? Vai me ajudar a te tirar daí e eliminar aquelas coisas horrorosas que estão ameaçando os meus amigos?

— Pode ser... Mas você não vai conseguir chegar até mim usando apenas plantas mágicas, feiticeira. - ele se ergue sobre mim outra vez, com um ar de superioridade em seus olhos vermelhos. - Você vai ter que se tornar uma loba, coisinha. Acha que consegue fazer isso?

— Me tor... - respiro fundo e me levanto, apoiando a mão no focinho quente de Fenrir sem perceber - Tá, tanto faz. Me diga o que fazer e quem derrotar, e eu farei... Só não fique se achando, ouviu? E nem pense que vai sair destruindo tudo quando estiver livre.

— Como se uma coisinha frágil como você pudesse me impedir...

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Acordo com um sobressalto. A dor lancinante na minha perna me despertando como um raio. Tento recuperar o fôlego o melhor que consigo enquanto minha visão lentamente volta ao normal. Olho em volta para me descobrir no meu quarto, com um Hati adormecido na cadeira ao lado. Examino o ferimento, que agora se encontra enfaixado, com um tom esverdeado sob a faixa indicando que colocaram pasta de ervas para ajudar.

— Você acordou... - Hati me encara com uma expressão enigmática, antes de me dar um leve sorriso.

— Como estão as coisas? - O observo com atenção. Ele parece estar em péssimo estado, com olheiras e ainda mais pálido do que o normal. Em cima da mesa de cabeceira, uma bandeja com comida intocada.

— Skoll e Aesmir estão cuidando de tudo. Peço desculpas por estarmos invadindo seu território desse jeito... E agradeço profundamente pelos seus esforços em nos ajudar. Inclusive arriscando seu próprio corpo para isso. - ele olha para minha perna e desvia o olhar, cabisbaixo. Suas próximas palavras são como um sussurro. - Na próxima vez, eu vou te proteger. Você não vai mais lutar sozinha.

— Hati... - Alcanço sua mão, o vendo estremecer sob o meu toque. Sorrio docemente para ele. - Obrigada por ter ficado ao lado. Fico feliz em ter um propósito novamente, e muito grata por não estar mais sozinha... Mas apesar da nossa primeira vitória, ainda temos muito o que fazer.

Aperto a mão de Hati antes de soltar e me levantar. Ele se levanta imediatamente para me apoiar, segurando com cuidado na minha cintura enquanto me olha com preocupação genuína.

— Você têm razão, mas ainda precisa ir devagar. Você dormiu por três dias inteiros, sabia? - seu tom de voz é severo, mas percebo que ele também está se apoiando em mim.

— E você passou esses três dias ao meu lado, sem comer ou dormir, não é? - Ergo o olhar para seus olhos, que parecem cada vez menos assustadores. - O que têm a dizer sobre isso?

— Como eu poderia agir diferente?! - ele me olha incrédulo, com suas bochechas assumindo um leve tom rosado. - A mulher que salvou vários dos meus irmãos e irmãs estava em coma e ferida, como eu poderia deixar você aqui?!

— Muita gentileza da sua parte, devo dizer... - aponto para a bandeja de comida, o olhando com seriedade. - Mas um guerreiro com inanição não vai ser nada útil para me levar até o esconderijo de Fenrir.

Hati me encara em silêncio por longos instantes, com o cenho franzido. Então ele abre um sorriso de verdade, pela primeira vez, bagunçando meus cabelos soltos.

— Tudo bem, tudo bem... Mas você precisa recuperar suas forças também.

E assim eu sou devolvida a cama. Posicionada cuidadosamente para ficar confortável enquanto sou alimentada por um Hati super concentrado. Entre uma garfada e outra que ele me oferece, o rapaz aproveita para me fazer perguntas sobre o meu passado.

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