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— Eu não esperava que ela fosse tentar me ajudar de alguma forma. A Lupa que eu conheci não parecia ser do tipo gentil. - digo com amargura, me afastando de Hati que me observa sem esboçar reação alguma.

— Têm muita coisa sobre ela que é diferente do que parece ser. Como uma kitsune, você deveria ser a última pessoa no universo a julgar alguém com base em sua aparência.

— Eu nasci como uma kitsune, mas não fui criada como uma. E pra sua informação, eu costumava ser uma mestiça... Nunca pude pertencer inteiramente a nada e nem a ninguém. Raposa demais para andar entre os lobos ou os humanos, e loba demais para andar entre as raposas.

......................

Antes de ser Heletria, aprendiz de Freya Gullveig, eu era Akaihime, a filha amaldiçoada de Mizuhime. Eu não conheci meus pais. De acordo com o que descobri, minha mãe era mais conhecida como Tamamo-no-mae, a Kyuubi responsável pela morte do imperador que amava, e muitas outras mortes depois disso, também.

Meu pai era um lobo mononoke, um espírito de lobo que adquiriu consciência e a capacidade de se transformar em humano e lobo. É assim que são chamados os seres sobrenaturais como os lobisomens no Japão, onde eu nasci. Eu não sei qual era o nome do meu pai ou que tipo de relação ele tinha com a minha mãe.

Tudo que sei é que Mizuhime foi caçada e assassinada a mando do Imperador pelo qual era apaixonada. E a verdade é que ela morreu pelo coração partido, e não pela flecha. Por mais ridículo que isso possa parecer, as emoções de uma kitsune são a sua verdadeira força vital.

Ela se transformou em uma pedra mágica após sua morte, e matou muitas pessoas até ser libertada por um monge. E foi por causa desse mesmo monge que eu estou aqui hoje. Ele salvou minha vida e cuidou de mim por alguns anos quando libertou Mizuhime. Mas claro que um monge não poderia cuidar de alguém como eu como sua própria filha. E quando meus poderes começaram a florescer, ele desapareceu.

Eu tentei buscar refúgio entre os kitsune e os mononoke, mas assim que percebiam que eu era uma mestiça, eu era rejeitada. Isso porquê a mistura da qual eu nasci tornava os meus poderes de raposa extremamente instáveis e incrivelmente fortes. Com alguns anos de vida e uma única cauda, eu conseguia enfrentar raposas de três caudas em pé de igualdade e era capaz de ferir gravemente os lobos. Enquanto meu lado lobo tinha sentidos ainda mais apurados, uma aptidão física incomum para raposas, e um temperamento explosivo demais.

Rejeitada por ambos, eu vivi escondida nas florestas durante as primeiras décadas da minha vida. Com envelhecimento retardado por conta da minha condição, com 50 anos eu ainda parecia uma criança humana de 7 anos. Isso também porquê ninguém tinha me ensinado a controlar corretamente minhas transformações. Acontece que em algum momento, eu fui descoberta e caçada pelos humanos. E me aprisionaram em um objeto, do qual já não consigo me lembrar com clareza.

Quando fui liberta, não estava mais no Japão. Minha prisão mágica tinha chegado às mãos de uma bruxa nórdica, que tentou roubar meu poder e por isso eu a matei. Então passei os próximos anos, não sei quantos exatamente, roubando e enganando os povos nórdicos, até ser encontrada por Gullveig e aprender tudo o que aprendi.

Como eu mencionei antes, as emoções de uma Kitsune são sua força e sua fraqueza, e eu não estou imune a isso. É parecido com a história dos lobos de ter um único parceiro destinado em toda a vida, e caso percam esse parceiro, seu coração é dilacerado quase que literalmente. Eu diria que para as kitsunes é bem pior.

Existem diferentes tipos de kitsunes, baseadas na inclinação de seus poderes. Quando uma raposa usa seus dons para cuidar e proteger daqueles que são preciosos a ela e das pessoas ao redor, ela é uma raposa sagrada, quando ela usa esses mesmos talentos para enganar, destruir e machucar, ela é uma raposa amaldiçoada.

E acredito que já tenha uma idéia clara do que pode transformar uma raposa em sagrada ou amaldiçoada. O amor. É muito fácil para uma kitsune de coração partido se tornar um monstro perigoso. Foi o que aconteceu com Mizuhime, por sinal. E o mesmo teria acontecido comigo se não houvesse encontrado Lupa.

Eu estava desolada quando deixei o reino dos deuses e vim para cá. Após poucas semanas no mundo dos humanos, os sinais de poder amaldiçoado já eram óbvios em mim. Sem querer, eu espalhava pragas e doenças por onde passava.

Lupa me encontrou e me disse que eu tinha duas opções: Morrer ou abrir mão dos meus poderes. A escolha era óbvia. Eu contei a ela minha história, e ela encontrou um jeito de selar meu verdadeiro espírito em um objeto encantado, que está em posse dela desde então. Mas o encanto não poderia durar para sempre, e quando ele finalmente se quebrar... A emoção que prevalecer no meu coração vai definir quem eu serei pelo resto da eternidade.

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Comments

Valda Martins

Valda Martins

História diferente estou gostando muito

2024-04-07

0

Rozineide Oliveira

Rozineide Oliveira

totalmente diferente está história
sei que ela vai conseguir usar seus poderes pra fazer o bem e ainda vai ser feliz

2023-08-23

4

Juliana Paixão

Juliana Paixão

história maravilhosa

2023-04-15

1

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