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— Então é esse o motivo pelo qual você está nos ajudando? - Hati me observa com curiosidade. - Você não me parece com uma raposa demoníaca, certamente.

— Isso porquê no momento, eu não sou mais uma raposa... Me pergunto se vocês realmente precisam da minha ajuda, já que a própria Lupa mandou me procurarem.

— Nós precisamos, sim. Libertar Fenrir ainda é o único jeito de retomar nossa alcatéia. E Lupa disse que só você poderia fazer isso.

— Nesse caso... - bocejo, sentindo meu corpo pesar. - Vamos ter que questioná-la diretamente como fazer isso, não é?

— Isso aí. - ele se levanta e vem para perto de mim, parecendo cansado também. - Quer que eu fique com você até de manhã? Por causa das lembranças. Eu posso te fazer companhia caso elas voltem.

Observo o garoto, exausta demais para discutir com ele ou com qualquer pessoa. Me enfio rapidamente embaixo das cobertas e suspiro, apontando para o outro lado da cama.

— É só por essa noite. E acho bom você tomar cuidado com o que faz ou eu arranco sua cabeça, entendeu?

Ele confirma com um gesto de cabeça antes de dar a volta na cama. Quando ele sobe para ficar ao meu lado, é um grande e encantador lobo de pelos negros que eu encontro. Seus olhos de cor metálica me encaram, dóceis, e ele pressiona seu focinho úmido na minha bochecha.

— Aproveitador. Não se acostume com isso, você é praticamente um bebê perto de mim, cãozinho. - afasto seu focinho com cuidado, enquanto um ruído parecido com uma risada sai de sua garganta.

A presença de Hati é reconfortante, e finalmente ter confiado meu passado a alguém é como tirar uma bigorna gigante de cima dos meus ombros. Eu sei que as chances de me apaixonar por ele são inexistentes, mas talvez, só talvez, eu possa entregar um pedacinho do meu coração a ele e a essa alcatéia que estou lutando tanto para ajudar. Com um pouco de sorte, eu vou pelo menos ter um lar para onde voltar no final de tudo, e amigos verdadeiros com os quais eu possa contar.

Fecho os olhos, e quando percebo a respiração do lobo regularizar, acabo levando apenas uns poucos minutos para adormecer, pedindo aos deuses para que não haja sonhos, pesadelos e nem lobos gigantes mal humorados até o amanhecer.

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Acordo com uma vibração ao meu redor e uma sensação de calor confortável. Enquanto me recordo dos acontecimentos recentes e onde estou, percebo que a vibração vem de Hati, rosnando baixinho para alguma coisa, com suas patas dianteiras posicionadas sobre os meus ombros de forma protetora.

Seus pêlos macios e quentes têm o cheiro agradável de grama, e não me admira que eu tenha me aconchegado a ele durante o sono. Na verdade, fico lisonjeada e feliz que ele tenha cumprido sua palavra e ficado comigo até agora.

— Hati... - murmuro ainda sonolenta, erguendo o rosto levemente para o lobo, percebendo que ele não reage ás minhas palavras, rosnando provavelmente para algum pesadelo.

Vendo sua leve agitação, não consigo evitar os pensamentos sombrios. Talvez os meus poderes de Kitsune já estejam retornando lentamente, e esse seja o primeiro sinal de alerta. Eu não vou poder ficar perto deles quando o encantamento acabar. Do contrário, todos com quem me importo morrerão lentamente.

O pensamento me faz estremecer, e involuntariamente me aperto mais contra seu corpo. O gesto não passa despercebido por ele, que retorna a sua forma humana e me observa com um leve sorriso tranquilizador.

— Elle, tá tudo bem? - ele passa uma mão nos meus cabelos gentilmente, olhando para frente com um olhar afiado. - Eu avisei que você iria acabar acordando ela, seu imbecil!!

Olho por cima do ombro para ver com quem ele está reclamando, os braços do moreno ainda posicionados firmemente ao meu redor. Apenas para encontrar Skoll sentado na cama ao nosso lado com um sorriso divertido.

— Bom dia, Lady Heletria! Dormiu bem, ou esse cachorrão pulguento ficou te atormentando? - a casualidade com que o loiro se dirige a mim é desconcertante e ao mesmo tempo agradável.

— Bom dia, Skoll... Me lembrem de trocar as fechaduras do meu quarto o quanto antes, por favor. - passo as mãos no rosto, dando um tapinha no braço de Hati para que ele me deixe levantar. - Tá fazendo o quê aqui, Skoll? E cadê a Aesmir?

— Ela tá preparando o café da manhã com o pessoal lá embaixo. Me pediu para buscar o idiota aí e ver se você estava acordada. Eu tentei apenas bater na porta, eu juro, mas quando vi que a maçaneta tava quebrada pensei que você pudesse estar em perigo.

Ele passa as mãos pelos cabelos, sem graça, enquanto um rubor se espalha em seu rosto e me olha como se pedisse desculpas.

— Ah, não têm problema eu acho... Mas vocês dois vão estar proibidos de entrar no meu quarto sem avisar, a partir de agora, estão entendendo? - os dois confirmam balançando as cabeças e olhando para o chão como dois animaizinhos arrependidos, provocando outro suspiro da minha parte. - Nós temos muito o que fazer hoje, não é? Acho bom começarmos o quanto antes.

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