Capítulo 18

Me senti uma senhora sedentária quando minhas pernas começaram a protestar pelo tempo em pé e os pulinhos que me atrevi a dar durante as melhores músicas.

Eu não desgrudei de Tália um minuto sequer, mesmo ela conversando com os outros sua mão estava segurando a minha o tempo todo e a qualquer momento voltava-se para mim e uma bolha se formava ao nosso redor, éramos apenas nós duas e seus beijos deliciosos.

A animação continuou pelas ruas da capital, mesmo após o fim. O destino era o apartamento de Carla, onde ficou pequeno para todos os amigos e amigos de amigos. Bebida não faltava, conversa menos ainda. A pegação, nem se fala.

Sentamos na sala onde todos comentavam sobre o que viram durante a parada, sobre performances e fantasias. Até política de repente era o foco. Gabrielle, ao meu lado, cochichava debochando sobre a opinião dos outros, me fazendo rir, enquanto Tália parecia decidida a debater sobre todo assunto, claramente alterada pelo álcool.

Todos não demoraram decidir pedir comida no aplicativo e isso fez cessar a sede de Tália por debates.

— O que quer comer? — perguntou apoiando as costas no sofá.

Estavamos no chão da sala onde formava-se uma roda, mas nos sofás e até mesmo quarto haviam pessoas. O som tinha a altura ideal para conversar.

— Pizza? — Foi mais como uma pergunta, enquanto eu virava para olhar ela que passava a língua nos lábios após tomar um gole de cerveja.

Aquela boca chamava pela minha? Ou seria o contrário? Foi ela quem me beijou. E eu estava tão envolvida que nem ligava para quem estava ao redor.

No fim das contas eu estava bem cansada e quase não tive tempo para esperar a comida chegar, foi comer e procurar um lugar para deitar. Por sorte o quarto já estava desocupado. Foi lá mesmo que após jogar as roupas para o lado, Tália anunciou para todos que estava alugando aquele cômodo, logo depois fechou a porta.

Eu nem sei direito quanto tempo demorei a adormecer, mas lembro de sentir seu carinho em minha cabeça antes disso.

...(…)...

Na manhã seguinte acordei vendo Tália arrumando a mochila, ela já estava pronta até. A casa parecia zona de guerra, com Carla e outra pessoa dormindo no sofá e uma drag, usando apenas metade do look, desmaiada no chão.

Depois que tomei banho Tália tentou se despedir da amiga que respondeu, mas ainda parecia dormir, e nós seguimos para o terminal. No caminho tomamos café em uma padaria, mas mão comi nada, pois não queria arriscar.

Tália ao menos usava óculos escuro, quanto a mim só restava tentar esconder minha desgraça com a franja, mantendo a cabeça baixa, protegendo minha dignidade.

O ônibus não demorou e eu não sei se foi bom ou ruim, afinal sabia que quase cinco horas dentro dele seria uma tortura.

— Me acorda quando chegar? — perguntou Tália se acomodando na poltrona.

Eu invejava aquela capacidade dela de dormir em ônibus, algo que não conseguia e caso tentasse passaria muito mal.

Como imaginei meu estômago revirou tantas vezes que parecia estar em uma montanha russa.

Quando a placa e boas-vindas a Irenoi entrou em meu campo de visão respirei aliviada e acordei Tália.

Mal desci do veículo e o vômito ameaçou vir com tudo, mas me mantive firme, não ia arriscar vomitar na rua principal, em frente a lojinha de cosméticos da filha de dona Hermínia. A fofoca estava no sangue daquela família. Eu tinha certeza que estaria grávida na boca do povo, ou quem sabe até suspeita de usar drogas, diante de minha aparência que com certeza era bem acabada enquanto descia de um ônibus que vinha da capital.

Tália ainda parecia estar dormindo, mesmo enquanto caminhavamos até em casa.

De longe vi na porta da quitanda a tia Lena.

— Não foi trabalhar hoje, Luiza? — perguntou, logo vendo nossa aproximação.

Eu me resumir a forçar um sorriso, negando com a cabeça, logo subindo a escada, sentindo em minhas costas o peso do julgamento.

Tália avisou que ia dormir mais um pouco. Ofereci alguma coisa para comer, mas ela recusou, seguindo logo para o quarto.

— Toma um banho antes — gritei da cozinha.

— Me ajuda a arrancar esse gesso — gritou de volta.

Pobrezinha, com certeza era difícil viver com aquilo.

Com o corpo d'água em mãos observei minha cozinha pequena, me apoiando na pia enquanto a ficha ia caindo poucos. Eu estava de volta a minha casa, a minha vida e principalmente a minha paz. E foi real, foi tudo real o que vivemos.

— Luiza? — Ouvi a voz de Tália que se aproximava. — Aceito água e o banho, estou morrendo de calor. — Ela puxou uma cadeira e sentou.

Coloquei água em um corpo que logo deslizei sobre mesa, antes de puxar a cadeira da frente e sentar.

— Me sinto culpada por sua falta no trabalho — disse.

— Não sou nenhuma garotinha influenciável, Tália.

— Eu sei, você é uma mulher feita e sabe o que faz.

— Então se preocupe e vá descansar.

Ela ficou em silêncio, olhando o corpo entre as mãos.

— Sabe, desde a primeira vez que te vi me encantei com seu jeito de menina do interior. Tão linda e pura que nem parecia ser real.

Baixei cabeça enquanto dava um tímido sorriso, não sabendo como reagir a suas palavras.

— Desde o começo desejei entrar em seu mundo — continuou.

— Meu mundo?

— Sua casa, sua vida. Conhecer você...

— É tudo meio sem graça, eu sei.

— Claro que não, Luiza! É tudo exatamente como você. É calmaria, cuidado, alegria e tanta beleza…

Eu estava tentando agir naturalmente, mas a verdade é que por dentro o surto era real. Ouvir aquilo dela aquecia meu peito de um jeito tão bom.

— E-eu... — Nem sabia o que dizer, ou melhor, como dizer.

Ela sorriu.

— Independente de qualquer coisa Lu, depois de ontem, sinto que preciso deixar as coisas claras entre nós. Não tem mais como e nem porquê esconder o quanto me apaixonei por você desde que nos conhecemos. E de lá pra cá esse sentimento só cresce, mesmo que eu tenha tentado evitar.

— Ai doutora, meu coração é fraquinho — falei em tom e brincadeira, escondendo o rosto com as mãos. — Parece que estou sonhando, não parece mesmo real. — Voltei a olhar para ela que já me olhava, me deixando sem graça. — Eu sou mesmo, muito, muito, muito louca por você, Tália. Você não imagina o quanto desejei poder dizer isso e expressar tudo o que sinto.

Ela, sem dizer nada, levantou da cadeira, fez a volta na mesa e após sentar na ponta da mesma inclinou-se segurando meu rosto.

— Então agora me mostra tudo o que sente — falou antes de beijar meus lábios.

Só podia ser sonho. Era bom demais para ser verdade.

Só não nos beijamos a tarde inteira porque precisávamos nos alimentar e descansar.

Tália foi a primeira a ir tomar banho enquanto eu tomava um remédio para o estômago e fazia macarrão instantâneo para nós duas. Quando saiu, como sempre ajudei a se vestir.

— Eu amo fazer isso — falei enquanto usava toalha para secar os fios de seus cabelos. Ela estava sentada na ponta da cama, mexendo no celular, aparentemente trocando mensagens com alguém.

— Isso é chato, Luiza.

— Não! Eu passaria horas te ajudando e cuidando de você.

Tália virou para me olhar.

— Você está mesmo apaixonada, hein?

— Ainda duvida? — Me Inclinei e selei nossos lábios. — Vamos comer, senão o macarrão vira uma papa!

Sentamos e comemos, conversando.

— Tenho uma papelada para resolver sobre a casa, se quiser fechar contrato logo.

— Eu até tinha esquecido disso. — Meu bom humor foi embora de repente. — Bom, ao menos agora não preciso disfarçar meu descontentamento quanto ao fato de você se mudar.

Ouvi Tália rir alto, enquanto eu já levava o prato até a pia.

— Como não vi antes o quanto você me escondia coisas, hã? Estava conspirando contra minha compra, por acaso?

— Se eu disser que não, estarei mentido. — Ri virando para olhar ela. — Na verdade eu jamais ia conspirar contra seus planos, só não queria que fosse embora logo. — Fui incapaz de esconder minha cara de desânimo, apenas por imaginar isso.

— Não preciso me mudar logo. Até porque como já disse, tem algumas coisa pra arrumar na casa e leva tempo.

— Bom, então agora vai descansar, eu lavo essa louça e... nos encontramos em seus sonhos. — Virei rapidamente de volta para a pia, evitando demonstrar minha cara de boba feliz apaixonada.

— Quando penso que não, você consegue ser ainda mais fofa. — Ouvi voz dela se aproximando até que me puxasse pela cintura e logo apoiasse a cabeça em meu ombro.

— Tália você tomou banho, tá cheirosinha e eu aqui...

— Para de besteira. — Ficou agarrada a mim por um tempinho. — Desculpa não poder ajudar.

Senti seu beijo em meu ombro e logo ela se afastou, indo para o quarto.

Suspirei sendo envolvida por aquela onda de felicidade.

Mais populares

Comments

A.Maysa

A.Maysa

finalmente, que alegria

2023-02-27

1

lua🌚

lua🌚

mais mais por favor mais por favor mais por favor

2023-02-27

1

Nataly Lopes

Nataly Lopes

Agora esse namoro sai

2023-02-27

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!